Dream Scenario tem Nicolas Cage dos sonhos em filme sobre efeito manada na internet

Dream Scenario tem Nicolas Cage dos sonhos em filme sobre efeito manada na internet

Nova comédia da A24 produzida por Ari Aster perde força no final, mas apresenta proposta interessante sobre era das redes sociais

Thiago Romariz
10 de setembro de 2023 - 2 min leitura
Crítica

Nicolas Cage, por muito tempo, se tornou um meme de si mesmo. O vasto currículo do ator, que vai de filmes de Oscar e campeões de bilheterias até dezenas produções desconhecidas do grande público, denota uma claríssima paixão pelo ofício, com seus louros e malefícios. Por outro lado, diferente de muitas celebridades, ele parece ter ultrapassado as inúmeras piadas da internet e controlado a própria narrativa - ainda que exista o meme, acima dele há a entidade Nicolas Cage.

Agora, em Dream Scenario, filme exibido no Festival de Toronto 2023, o astro vive um pequeno recorte dessa trajetória como o simplório professor universitário Paul, um sujeito que começa a aparecer nos sonhos das pessoas, e é julgado pelas atitudes que essa versão dele toma dentro da cabeça dos outros. Em suma, um cidadão que é exposto e definido pelo que um público imagina que ele é e não necessariamente por atitudes - o que se torna uma claríssima metáfora para a internet, fama e percepção da audiência em uma era onde realidade e suposições se confundem.

Paul e a família são o centro do roteiro de Kristoffer Borgli, que também dirige o longa. Enquanto mantém as discussões neles e nas consequências que a tal bizarrice promove no ciclo da pequena comunidade em que vivem, Dream Scenario funciona. A ótima atuação de Cage tem a ajuda de uma competente montagem que, até o segundo ato, mescla bem as transformações na família e na comunidade. O escorregão do longa acontece no terceiro ato, quando Borgli tenta expandir a discussão para um âmbito comercial e perde a essência da metáfora do tema proposto. Enquanto fica nas piadas sobre publicidade e o sonho de carreira do próprio Paul o texto encaixa, ao materializar isso em propagandas televisivas ou mesmo no melodrama final, o filme sucumbe à própria ambição.

O humor pitoresco e os sutis toques de suspense trazem uma característica típica dos filmes indie (especialmente os da A24, não à toa é produzido por Ari Aster, de Hereditário e Beau Tem Medo). Por mais que a falta de foco torne um importante debate em algo superficial, ao menos traz outra ótima e inspiradora atuação de Nicolas Cage, um dos poucos grandes nomes de Hollywood que ainda transpiram arte em cada papel - seja ele uma comédia independente, um filme sobre jiu jitsu e aliens ou uma nova versão do Drácula. A dedicação dele é admirável e não há sonho ou suposição que esconda tamanha entrega.

Nota da Crítica
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Thiago Romariz

0h 0min
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