A Casa do Dragão inicia 'Dança de Dragões' com episódio mais explosivo até hoje

A Casa do Dragão inicia 'Dança de Dragões' com episódio mais explosivo até hoje

Quarto capítulo da segunda temporada dá uma prévia das batalhas aéreas que marcam a guerra civil Targaryen

Guilherme Jacobs
7 de julho de 2024 - 7 min leitura
Crítica

O texto abaixo contém spoilers do quarto episódio da segunda temporada de A Casa do Dragão

Práticamente desde o primeiro minuto dessa temporada, todo mundo em a A Casa do Dragão fala que a guerra entre Pretos e Verdes já começou, e era apenas questão de tempo até todos perceberem o inevitável. O conflito estava aqui. Tudo que restava era ver quem derramaria sangue primeiro. Claro, "Um Filho por Um Filho" terminou com o bebê Jaeherys sendo decapitado, e depois tivemos a luta entre os gêmeos e uma tentativa de assassinato.

Mas graças à resistência de Rhaenrya (Emma D'Arcy), justificada pela série como seu desejo de manter a paz do reinado de seu pai, os dragões não haviam dançado pra valer até esse episódio, apropriadamente chamado "Uma Dança de Dragões." O trabalho da série de nos convencer desa justificativa, porém, nem sempre foi o melhor. Especialmente nessa temporada, a nobreza das decisões de Rhaenrya, que geraram tanta admiração em Rhaenys (Eve Best) era mais notável na atuação de D'Arcy do que na construção da personagem, que por vezes pareceu insistente na cegueira.

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Agora, depois de sua viagem a King's Landing e encontro com Alicent (Olivia Cooke) — que passa esse capítulo tentando processar seu erro lendário de interpretação de texto até perceber que é tarde demais para pensar nisso — não há mais como ignorar a realidade do confronto bélico, e Rhaenyra enfim decide enfrentar seus rivais no campo de batalha, à princípio se voluntariando para voar até o exército liderado por Sir Criston Cole (Fabien Frankel), cuja campanha deixou os Pretos praticamente isolados por Terra. Para sua sorte, ela não vai.

A Batalha de Pouso de Gralhas, afinal, termina com dragões caindo de ambos lados, mas é fatal mesmo para os Pretos, que perdem Rhaenys e seu Meleys quando a verdadeira estratégia de Cole se revela. O ataque por terra era uma isca para atrair algum dragão, e Aemond (Ewan Mitchell) e a gigantesca Vhagar estavam apenas esperando por essa oportunidade. Só que nem tudo dá certo para os Verdes, porque diferente de Rhaenrys, Aegon II (Tom Glynn-Carney) ignora o conselho daqueles ao seu redor (em especial o de sua mãe: "não faça nada") e, na raiva de ver seu irmão e Cole ganhando a glória por serem seus superiores nos esquemas e combates, parte com Sunfyre para enfrentar Rhaenys.

Onde a relutância de Rhaenyra nem sempre foi bem fundamentada no texto, e pode ter deixado a audiência tão frustrada quanto Jacaerys Velaryon (Harry Collett) e os outros membros do conselho Preto, o ciúme, insegurança e explosividade de Aegon II estão entre os grandes sucessos da temporada. Grande parte disso vem de Glynn-Carney, que nasceu para o papel do rei bebezão, mas também de como Ryan Condal e seu time de roteiristas construíram a dinâmica em King's Landing como um quebra-cabeça de decepções. A teimosia e criancice do monarca alienaram todos ao seu redor, e quando Alicent lhe nega conforto, a última peça entre no lugar. Uma vez montado, este mosaico revela para o rei a profundidade de sua incompetência, e no desespero de mudar essa imagem, ele vai para a guerra.

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Chegando lá, e ainda por cima bêbado, Aegon II até pega Rhaenys de surpresa, mas não tem a menor chance contra a veterana e Meleys. A luta aérea é nosso primeiro vislumbre desse tipo de embate, e pelo visto a dor dos animais será uma das coisas enfatizadas nesses momentos. É justíssimo, já que o trabalho sônoro de Sunfyre gritando de dor quase compensa a satisfação de ver Aegon II caindo para o que pode ter sido sua morte (eu não li os livros, então não sei, mas duvido que esse seja seu fim). Ele cai, aliás, porque Aemond decide deixar seu irmão sozinho por uns minutos. Talvez Aemond esteja pensando que se ele morrer, é sua vez no Trono de Ferro, mas eventualmente toma voo e Vhagar, cuja escala nunca deixa de ser impressionante, vai para a ação.

A encenação da Batalha de Pouso de Gralhas fica na mão do veterano Alan Taylor, que dirige a sequência com um quê de inevitabilidade — do momento em que vemos Vhagar em diante, sabemos que Rhaenys não tem futuro, e assim nos despedimos de uma personagem que, apesar de não ter recebido o tempo de tela de Rhaenyra ou Daemon (Matt Smith, que passa o episódio novamente perdendo a cabeça em Harrenhall), encapsulou os temas de A Casa do Dragão, em particular como a política de Westeros descarta mulheres e como a história favorece quem grita mais alta, com um estoicismo quieto mas marcante. Best comunica tudo com seu olhar, e a admiração dela ao ver Rhaenyra buscando alternativas pacíficas foi sozinha capaz para não deixar a relutância da rainha dos Pretos frustrante demais. Se Rhaenys aprovava, nós aprovávamos. Ela fará falta.

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Assim como o terceiro episódio, "Uma Dança dos Dragões" mostra como o ritmo mais acelerado de uma temporada com menos episódio, e realmente focada nos eventos que tornam a guerra civil Targaryen tão importante na mitologia, compensa o subdesenvolvimento de alguns personagens ou o texto menos afiado. As coisas estão realmente acontecendo, e a série é melhor quando trabalha com esse material. A Batalha de Pouso de Gralhas dificilmente superará, na estimativa do público, qualquer uma das batalhas de Game of Thrones, mas ela mostrou que quando A Casa do Dragão precisa, a prequel é capaz de incendiar a tela.

Nota da Crítica
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Guilherme Jacobs
ONDE ASSISTIR

A Casa do Dragão

Ficção Científica
Drama
Ação
0h 0min
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