A Casa do Dragão entra de cabeça na Semeadura com ótimo penúltimo episódio da 2ª temporada

A Casa do Dragão entra de cabeça na Semeadura com ótimo penúltimo episódio da 2ª temporada

No sétimo episódio da temporada, a série enfim vira os olhos para os bastardos

Guilherme Jacobs
28 de julho de 2024 - 7 min leitura
Crítica

O texto abaixo tem spoilers do sétimo episódio da segunda temporada de A Casa do Dragão

Muito se fala das diferenças qualitativas de Game of Thrones e A Casa do Dragão, mas uma das principais distinções entre a série original e sua prequel está no foco de suas lentes. Ao longo das oito temporadas adaptando os livros das Crônicas de Gelo e Fogo, D.B. Weiss e David Benioff lançaram a mais ampla rede possível. Usando a obra de George R. R. Martin como guia, eles buscaram personagem de todo o tipo por todos os Sete Reinos e além, trafegando entre plebeus e nobres, plebeus que viraram nobres, e nobres que deveriam ser plebeus.

Ryan Condal, também instruído por Martin, não pesca com redes. Sua história é melhor servida pela vara. A Dança dos Dragões é, afinal de contas, um relato sobre reis e rainhas, tanto os que subiram ao trono quanto aqueles a quem esse fardo — como o Viserys de Paddy Considine diz em mais uma visão que Daemon (Matt Smith) têm em Harrenhal — foi negado, quer por razões justas, quer por artimanhas de um mundo corrupto e perdido nos ciclos de violência. Por isso, mesmo desconhecendo os detalhes de “Fogo e Sangue” e só aprendendo sobre a Semeadura há algumas semanas, eu, assim como todo espectador já familiar com o funcionamento de séries de TV, já imaginava os poucos plebeus destacados nessa segunda temporada estavam destinados a serem integrados na narrativa da guerra civil Targaryen.

Conheça Addam de Casco: Quem é o novo montador de Fumaresia?

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A Casa do Dragão não vai destacar um ferreiro ou pescador comum com a intenção de colorir cantos inéditos de Westeros. As multidões, em sua maioria, são retratadas na série como uma grande consciência que reage aos feitos e desfeitos da família real, como vimos na reação violenta contra Alicent (Olivia Cooke) na semana passada. Pessoas como Addam de Casco (Clinton Liberty) estão ali para servir uma função, e agora essa tarefa está visível para todos, incluindo — na excelente sequência final deste sétimo episódio — Aemond (Ewan Mitchell) e sua faminta Vhagar.

A Semeadura começou semana passada, mas entrou em vigor, pra valer, agora. Uma vez certa de que seu plano tem méritos, Rhaenyra (Emma D’Arcy) decide dobrar a aposta na busca por novos montadores de dragões e expande o escopo de nobres com algum traço valiriano para um recurso inesgotável em Westeros: bastardos. Assim, figuras que têm aparecido de forma intermitente, em especial Hugh Martelo (Kieran Brew) e Ulf, o Branco (Tom Bennett)**, recebem a chance de ir à Pedra do Dragão e tentar a sorte (ou destino, dependendo da sua perspectiva) com as feras ainda disponíveis: Vermithor, que em tamanho está apenas atrás de Vhagar, e o demoníaco Silverwing*.

*Depois do péssimo nome Fumaresia para Seasmoke, eu estava pronto para outra aberração como Prateasa. Felizmente, fomos poupados.

**Para que fiquem claras as linhagens: ambos Hugh e Ulf afiram ser filhos bastardos de Baelon Targaryen, o pai de Viserys e Daemon.

Sem dúvidas, tudo que acontece depois da chegada dos bastardos em Pedra do Dragão está entre os melhores minutos já dirigidos na série e, ouso dizer, os primeiros momentos que podem figurar com Game of Thrones em termos de mais bem executados nessa franquia. Loni Peristere merece crédito pelo plano sequência que acompanha Hugh depois que Vermithor rejeita o primeiro candidato e incendeia os plebeus; sua câmera fica firme no humano e se recusa a deixar a perspectiva dele, assim deixando a presença do dragão, inicialmente revelado de maneira icônica atrás de Rhaenyra, imponente e assustador.

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Ainda é cedo para dizer como Casa do Dragão tratará seus novos protagonistas (tudo envolvendo Addam e seu verdadeiro pai, o Corlys de Steve Toussaint, nesse episódio foi, no máximo, morno), mas é interessante ver como a série está finalmente desafiando as noções clássicas de poder em Westeros. Vemos isso com, por exemplo, Oscar Tully (o imediatamente fascinante Archie Barnes) se provando um estrategista superior a Daemon na arte da barganha, inclusive superando o próprio Targaryen, e em especial com a frustração de Jacaerys (Harry Collett) ao ver sua mãe expandindo o plano que ele trouxe para incluir os bastardos.

A justificativa de Jacaerys, que a essa altura já percebe sua verdadeira linhagem, é que o que o separava de pessoas como Addam e Hugh era sua capacidade de voar um dragão. Sem esse diferencial, ele argumenta, até sua possível sucessão no trono seria facilmente desafiada. Ele não está errado, e se Condal e seu time apertarem bem essa ferida, mais drama interessante sairá dela. A questão, claro, é que tudo isso ainda gira em torno do mesmo foco: os Targaryen.

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Vemos isso, de certa forma, na conversa de Hugh com sua esposa. Aos olhos da série, esses personagens encontram significado não em si mesmos, mas na ligação com os Targaryen. É uma contradição curiosa para um universo cujo bastardo mais famoso, Jon Snow, só recebeu honras de realeza depois de abrir mão do pouco que tinha quando foi para a Muralha, onde eventualmente entregou até sua vida. Hugh, Ulf e Addam podem oferecer a Casa do Dragão algo novo, assim como oferecem novas vantagens militares para Rhaenyra. Resta saber se Condal tem interesse nisso ou se, novamente, ele insistirá em pescar com vara.

Nota da Crítica
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Guilherme Jacobs
ONDE ASSISTIR

A Casa do Dragão

Ficção Científica
Drama
Ação
0h 0min
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