A Casa do Dragão encerra 2ª temporada com episódio anticlimático que pede: volte em 2026
Depois de episódios fortes em sequência, prequel de Game of Thrones decepciona na conclusão da temporada
Crítica
De onde vêm os riscos dramáticos de A Casa do Dragão? Observando a cena climática do finale da segunda temporada, a resposta, em tese, é do relacionamento entre Rhaenyra (Emma D’Arcy) e Alicent (Olivia Cooke), apresentadas no marketing da HBO como as faces dos dois lados da guerra civil Targaryen e, por tabela, as protagonistas da série prequel de Game of Thrones.
Nesse sentido, o encontro das duas personagens deveria servir como um grande evento. Alicent praticamente dar autorização para sua rival/melhor amiga matar um de seus filhos deveria vir com a sensação de que um passo monumental foi dado no arco emocional das duas, e que a tensão entre elas ou foi aliviada através de um sacrifício, ou aumentará devido a uma barganha infeliz, feita em nome de trazer paz para um continente cujos habitantes, nessa série, só são dignos de tempo de dela caso virem montadores de dragões.
Mas sejamos honestos, não há cena maior nessa hora de televisão decepcionante do que a visão que Daemon Targaryen (Matt Smith) tem do futuro, um flash-forward que nos leva aos momentos mais importante de Game of Thrones, como o nascimento dos dragões de Daenerys (Emilia Clarke, cujo rosto não é visto) e a chegada do inverno, acompanhado dos Caminhantes Brancos e da morte. Rhaenyra e, num grau muito maior, Alicent, pouco foram trabalhadas como individúos nessa temporada, apoiando-se muito em suas ótimas atrizes para colorir os esboços do roteiro. Isso é um testamento para a necessidade de A Casa do Dragão de fabricar grandiosidade nos lembrando, constantemente, de uma série que não só é melhor, como também está no mesmo catálogo de streaming.
Tipicamente, isso acontece na reprodução de dinâmicas e arquétipos de Game of Thrones que sofrem para achar uma identidade própria, mas esse clipe de fanservice, que inclui um personagem significativo dos livros em Brynden Rivers (Joshua Ben-Tovim), oferece uma versão mais honesta, e satisfatória, dessa levantada de bola. Não há por que fingir. Estamos aqui por causa de Game of Thrones. Quando A Casa do Dragão abraça isso, ela cresce. Sim, é uma forma de “apelar” para os milhões de espectadores de um fenômeno cultural, mas não adianta tentar ignorar a realidade comercial dessa produção, e nem o efeito de ver, ainda que de costas, Daenerys e seus dragões bebês. Meus olhos se arregalaram. Os seus também.
É claro que, por outro lado, isso mostra a dificuldade de A Casa do Dragão de andar com suas próprias pernas, e esse problema se torna ainda mais significativo depois dos últimos capítulos, quando Ryan Condal e seu time de roteiristas pareciam ter encontrado um ritmo agradável, e estavam caminhando para o que deveria ser uma conclusão memorável. Ao invés disso, esse oitavo episódio termina como muito da segunda temporada: prometendo que a guerra vai pegar fogo.
Rhaenyra passou uma temporada inteira sem querer guerrear, para depois se ver sem alternativas para uma guerra que, nas palavras dela e de Alicent, havia se tornado inevitável devido ao derramamento de sangue. Agora, com três novos dragões ao seu lado, ela novamente se mostra indecisa quanto ao que fazer e indisposta a batalhar contra Aemond (Ewan Mitchell), que passa o episódio sofrendo o mesmo dilema que sua adversário enfrentou nas semanas passadas, e tenta convencer Haelena (Phia Saban) a voar com sua fera em direção à luta. Circulamos, circulamos, e nada acontece.
A Casa do Dragão, assim como Game of Thrones, não precisa de batalhas envolvendo dragões para empolgar e entreter, mas diferente da série original, este prequel sofre para elevar os dramas interpessoais e desenvolver coadjuvantes interessantes. Gastar tempo do finale com Tyland Lannister (Jefferson Hall) em Essos, onde tal qual o público, ninguém conhece seu nome, parece uma tentativa de, na hora H, compensar pelos erros do passado. Por mais que as cenas deles figurem entre as mais divertidas da série, dentro desse contexto, elas parecem uma distração da verdadeira ação.
Só que, claro, mal há coisas em ação nesse final de temporada. Novamente terminamos um ano de A Casa do Dragão com a série basicamente nos dizendo que agora veremos os dragões dançando pra valer.
Ironicamente, a exceção à regra vem do que até semana que vem era o núcleo mais fraco da temporada: Daemon em Harrenhal. Demorou muito para chegar nisso, mas toda o mistério de Alys Rivers (Gayle Rankin) e do castelo encontrou um propósito, com a visão do Targaryen servindo essencialmente como uma manifestação visual do tal sonho de Aegon, o Conquistador, a canção de Gelo e Fogo que Rhaenrya usa para colocar juízo em Jacaerys (Harry Collett), ainda frustrado com Hugh Martelo (Kieran Brew) e Ulf, o Branco (Tom Bennett). Daemon vê o perigo futuro, e vê que o único caminho possível para lutar contra essa ameaça passa pela coroação de Rhaenyra, e por fim desiste de seus desejos pelo Trono de Ferro (por enquanto, pelo menos).
Demorou muito para chegar nisso, mas esse momento, assim como a cena na qual Daemon e seu novo exército se ajoelham diante de Rhaenyra, são os únicos que conferem ao fim da segunda temporada de A Casa do Dragão a sensação de, bom, clímax. Algo importante. Uma mudança de paradigma. Fora disso, esse episódio mais parece um teaser que pede: volte em 2026