A Casa do Dragão: Iluminamos o Caminho - Crítica Com Spoilers

A Casa do Dragão: Iluminamos o Caminho - Crítica Com Spoilers

Metade da temporada coloca Rhanerya e Alicent em rota de colisão inevitável e prepara salto temporal

Guilherme Jacobs
19 de setembro de 2022 - 6 min leitura
Crítica

Alicent Hightower (Emily Carey, dando sua melhor atuação em sua última vez no papel*) não tinha, até então, servido muito como personagem. Ela era, sem dúvidas, uma figura presente no elenco de A Casa do Dragão mas até suas decisões climáticas em "Iluminamos o Caminho", a segunda esposa de Viserys (Paddy Considine), como grande parte dos protagonistas, era vítima da decisão do roteiro de sacrificar o estabelecimento de personalidades em nome de mover peças no tabuleiro. Quando, porém, ela interrompe o discurso do rei no meio do casamento de Rhanerya (Milly Alcock) e do jovem Ser Laenor Valeryon (Theo Nate), enfim, vemos Alicent tomando o controle. Agindo não por necessidade do enredo, mas por iniciativa.


*O teaser do próximo episódio revela um salto temporal que colocará Olivia Cooke no papel de Alicent e Emma D'Arcy no de Rhaenyra. Assista aqui.


Casamentos têm um lugar especial no coração de fãs de Game of Thrones (não por boas razões). Por que? Claro, lembramos das festividades marcadas por acontecimentos sangrentos, mas além disso, as ocasiões oferecem um potencial dramático único. Aqui estão os personagens, numa mesma sala. Agora, eles devem interagir. O encontro de diferentes motivações, a história compartilhada, as mágoas guardadas. Tudo isso serve como combustível para nos fazer investir emocionalmente numa cena simplesmente por conhecer as pessoas ali presentes, e não porque uma voz em nossa cabeça (normalmente a dos showrunners, implorando para concordarmos) simplesmente nos tenta convencer da importância da situação. Este quinto episódio da série ainda sofre com alguns dos problemas presentes nos outros; O texto mais básico, a insistência em reduzir tudo à trama central e, consequentemente, o subdesenvolvimento de alguns aspectos essenciais. Mas os mares começaram a mudar.


Ainda parece que duas de cada três falas são sobre o trono, a sucessão e "o reino", este último algo imaginado mas nunca apresentado, composto por uma população cuja opinião é tão importante para os lordes e monarcas mas cujas faces são tão desconhecidas quanto aquilo que está ao oeste de Westeros. Este é, claro, o tema principal da série, e é preciso abordá-lo. Onde "Iluminamos o Caminho" acerta, porém, é ao fazê-lo usando os personagens como ponto de partida e não forçando-os a se encaixar nos moldes de uma suposta necessidade.


Veja, por exemplo, a decisão de Ser Cristen Cole (Fabien Frankel) de admitir sua relação sexual com Rhanerya quando confrontado por Alicent, e depois a maneira chocante com a qual mata o amante secreto de Laenor, Joffrey Lonmouth (Solly McLeod). Este, também movido por suas vontades, decide ameaçar o cavaleiro simplesmente para se sentir poderoso e importante neste jogo dos tronos, um que não tem espaço para seu amor por Laenor. É impactante, porque há impacto num nível pessoal.


De novo, ainda há problemas. Não fica claro porque Cole não é punido por sua decisão, e a série não faz o melhor trabalho de justificar sua explosão, especialmente levando em conta a maneira equilibrada com a qual o personagem era, até então, apresentado. Semelhantemente, a falta de desenvolvimento de Rhanerya e Alicent como amigas — um relacionamento composto apenas por conversas sobre o reinado, com exceção de um diálogo no Septo no qual elas falam sobre perderem suas mães — nos impede de comprar totalmente a fúria de Alicent ao descobrir a mentira de Rhaenrya (e, para defender a garota Targaryen, ela só negou sexo com Daemon).


A cena com Larys Strong (Matthew Needham) ajuda a compensar esse defeito graças à maneira diabólica com a qual Needham interpreta o nobre, plantando cuidadosamente dúvidas na mente da rainha. Sorrateiro, ele deixa uma impressão inesquecível logo de cara, balançando não só a Hightower como a nós, e facilitando a virada para ambos personagem e audiência.


Podemos questionar a lógica emocional dessas escolhas e devemos admitir as falhas da série de preparar o terreno para a colheita. Mas apesar dos defeitos, ainda é preciso reconhecer como este episódio se pauta nas decisões dos personagens, em suas personalidades e nas suas vontades. É assim quando Daemon (o ainda incomparável Matt Smith) decide matar sua esposa, Rhea Royce (Rachel Redford, ótima nos poucos minutos em tela), na supramencionada intriga plantada por Larys Strong, no cansaço de Viserys de toda a política envolvendo sua família, culminando na forma como ele admite não se ver como um grande rei.


É assim até com a até aqui inquebrável Rhaenrya, cuja determinação a não se casar fica vulnerável depois que a princesa acredita ter encontrado uma saída. Laenor não quer o casamento tanto quanto ela. Seu desejo está em Joffrey. Se ambos mantiverem as aparências, porém, ela poderá desfrutar a vida quando desejar. Talvez seja essa inocente certeza que a leve a dançar tão feliz no começo das celebrações do casamento, deixado as preocupações de lado enquanto aparenta baixar a guarda. Ela se permite desfrutar do momento, e o momento a pune por isso. Seu casamento começa com sangue.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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