A Freira 2 é mais uma tentativa fracassada de fazer Invocação do Mal sem os Warren (e James Wan)
Mesmo com o carisma de Taissa Farmiga no protagonismo, filme de Michael Chaves não assusta nem diverte
Crítica
Há sete anos, James Wan dirigiu uma das cenas de terror mais marcantes da década. Elizabeth Warren (Vera Farmiga) sente uma presença em sua casa, e junto de sua filha descobre uma freira demoníaca rodando seus corredores. Indo atrás da entidade, ela eventualmente se vê num quarto escuro onde há uma pintura daquela coisa. Exceto que, talvez, não seja uma pintura. Talvez A Freira realmente esteja ali, com seus olhos amarelos brilhando nas trevas.
O momento, aliado as sustos subsequentes de Valak em Invocação do Mal 2, foram suficientes para encontrar uma criatura que, aos olhos da Warner Bros. Pictures, era tão ideal para ter seus próprios filmes quanto a boneca Annabelle. E agora, após uma história de origem assustadoramente ruim em 2018, A Freira 2 mostra o estúdio, que perdeu Wan para a rival, insistindo em tentativas pouco interessantes de recriar aquela sensação de medo e curiosidade associada à aparição inicial da irmã diabólica. O resultado é uma série de reproduções dos truques de Wan; a freira se esconde nas sombras e vemos seus olhos amarelos. Talvez até ela esteja com medo do que vai acontecer quando sair de lá.
Se fosse o caso, esse temor teria fundamento. A Freira 2 faz o suficiente para superar o primeiro filme, um dos piores terrores de estúdio dos últimos 10 anos. Este mérito (ou seria obrigação?) é contraposto com uma clara falta de ideia do diretor Michael Chaves. Em seu terceiro filme do universo Invocação do Mal (seguindo o esquecível A Maldição da Chorona e o competente Invocação do Mal 3), ele parece não saber mais o que fazer com a propriedade intelectual deixada em suas mãos, resultando num comportamento comum em qualquer aprendiz aprendiz perdido; a imitação do mestre. Mas se a pintura da Freira e A Freira podem nos confundir, essa réplica inferior é claramente distinta do original.
Você perderá as contas de quantas vezes Chaves vai se apoiar nas imagens marcadas na mente dos fãs de Invocação do Mal. Além dos glóbulos oculares cor de âmbar visíveis no meio da penumbra escondendo o resto da Freira, veremos sua silhueta e feições sugeridas repetidamente em coisas como páginas de revistas, paredes velhas e sombras. Essas composições, um dia assustadoras, aos poucos removem qualquer aspecto de mistério da madre infernal, e Chaves elimina os vislumbres remanescentes com diversos planos fechados no rosto do monstro, que começa o filme capaz de aniquilar instantaneamente padres, e depois decide que gritar mostrando os dentes afiadas é sua única estratégia.
Esses berros normalmente são direcionados a garotinhas de um internato, como a onde Maurice (Jonas Bloquet) trabalha, ignorante do espírito residindo em sua alma, paquera Kate (Anna Popplewell) e brinca com a filha dela, Sophie (Katelyn Rose Downey), uma garotinha que, claro, sofre bullying de suas colegas. A criança solitária e maltratada é apenas um dos clichês encontrado pela irmã Irene (Taissa Farmiga) enquanto ela viaja pela Europa tentando encontrar Maurice e expulsar Valak de dentro dele. Ao seu lado está a novata Debra (Storm Reid, inexistente num papel ingrato), uma jovem ainda incerta de sua fé que, por alguma santa razão, é autorizada a acompanhar a colega na luta contra um dos mais poderosos demônios já encarados pela igreja católica.
Se a obsessão pelo passado de A Freira 2 retira a energia das boas coisas do universo Invocação do Mal (a primeira visão de Valak, no corredor da casa dos Warren, é literalmente reencenada aqui), ela também faz o filme repetir erros. Irene, mais uma vez interpretada por Farmiga com um carisma vulnerável semelhante ao de sua irmã mais velha no papel de Elizabeth, é claramente a protagonista ideal para a trama. Uma freira cuja disposição para encarar o profano é temperada pelo medo de se colocar nessas situações, gerando um claro arco de amadurecimento em meio às provas de fogo que poderia abastecer com certa facilidade o roteiro de Ian Goldberg, Richard Naing e Akela Cooper. Se o primeiro longa deixou essa premissa cair nos enormes buracos de sua história, este sufoca a personagem com subtramas de romance e bullying.
Não me entenda errado, o texto relacionado a Irene está longe de ser bom, mas Farmiga é carregada de naturalidade, através da qual simpatizamos com a personagem quase instantaneamente. Sua atuação não é exatamente ótima, mas ela é a única com dotes para elevar o material. Todos os outros; Popplewell, Bloquet e especialmente Reid, não encontram novas dimensões para seus papéis já superficiais.
Eventualmente, Chaves reúne cada uma dessas peças num só lugar e as combina para construir um mosaico quase interessante. O cineasta não faz um bom trabalho de condução do ritmo do filme, mas transforma o internato num ambiente com geografia e identidade claras. Quando A Freira 2 finalmente chega no ponto onde o diretor pode deixar o trabalho de personagem de lado, a velocidade com a qual as vítimas são perseguidas por diversas assombrações — incluindo um dos melhores bodes demoníacos desde Black Phillip — não deixa tempo sobrando para os erros mais gritantes. As sequências não são exatamente inspiradas em sua criatividade, elaboração ou execução, mas Chaves encontra visuais suficientemente macabros para entreter.
Wan, novamente, vem à mente. Em seus filmes de Invocação do Mal, quer para plantar spinoffs ou só para colocar mais um monstro legal na telona, ele incluía vilões coadjuvantes como Sr. Bill e o Crooked Man, memoráveis em seus designs e bem utilizados quando invocados. Nada em A Freira 2 está nesse nível, mas o bode supramencionado é um exemplo de como, no terror, o desconhecido tende a ser mais assustador e impactante. Se antes bastava um desenho da Freira para sermos aterrorizados, aqui, em espírito e maldade, a entidade parece apenas a cópia de uma cópia. É hora de pintar um novo quadro.