Abigail se sustenta em Melissa Barrera, mas não é suficiente
O terror, que também conta com Dan Stevens e Angus Cloud no elenco, chega nesta quinta-feira (18) aos cinemas
Crítica
A primeira meia hora de Abigail cria um ambiente perfeito para o terror. Um grupo de criminosos é contratado para sequestrar a filha de um homem poderoso em troca de muitos milhões de dólares. Eles, então, levam a menina para um casarão afastado e precisam cuidar dela por 24 horas até o resgate.
O problema é que, de uma hora para outra, eles percebem que estão presos dentro da casa e, um por um, o grupo começa a ser atacado e morto de jeitos violentíssimos. Enquanto os personagens não sabem o que está acontecendo e esperam o inimigo a qualquer momento, sem confiar nem uns nos outros, o filme constrói uma atmosfera tensa que mergulha o espectador dentro do terror.
No entanto, não demora muito para eles descobrirem o que já foi revelado desde a premissa do filme: a menina que eles sequestraram, Abigail (a fofa Alisha Weir, de Matilda – O Musical), é, na verdade, uma vampira sanguinária, pronta para matar todos ali.
A construção da personagem como bailarina ajuda a criar um ótimo visual e também boas cenas em que ela usa a dança para perseguir suas presas. O contraste da perfeição envolvida ao ballet com muito (MUITO) sangue também é bem aproveitado pelos diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, dupla conhecida como Radio Silence, responsável pelos últimos dois filmes de Pânico.
Foi de Pânico, aliás, que eles trouxeram Melissa Barrera como, não a líder, mas certamente o destaque do grupo de criminosos. Chamada de Joey para esconder seu nome verdadeiro, Barrera constrói uma personagem que tem, sim, seus defeitos, mas que consegue se conectar com a audiência e fazer com que você torça para ela. A dinâmica de embates e alfinetadas entre ela e o verdadeiro líder do grupo, Frank (Dan Stevens, mostrando mais uma vez versatilidade), traz um toque de humor divertido ao longa.
Isso é algo que não acontece, entretanto, com os personagens de Kathryn Newton e Kevin Durand. Os dois são, de fato, colocados ali como uma espécie de alívio cômico, mas ele é bobo demais para ser convincente e ela fica perdida entre ser a garota rebelde hacker cheia de tatuagens e a menina ingênua que tem as piores ideias. Ainda vale destacar Angus Cloud (1998-2023), que também faz parte do grupo, mesmo que por pouco tempo, e traz leveza para seu último papel (O filme é dedicado a ele).
A partir da descoberta do verdadeiro inimigo, no entanto, Abigail perde o clima tenso criado até ali e se torna mais uma comédia “pastelão” com pinceladas de gore. O que até poderia funcionar, se o filme não subestimasse sua audiência.
É frustrante cada momento que os personagens acham que conseguiram vencer a menina e também a revelação quase didática dos planos dela. Alisha Weir é boa, mas, nos diálogos, nunca chega lá como uma vilã realmente assustadora e Dan Stevens, como o único capaz de segurar o filme ao lado de Barrera, também cai em um desfecho que perde seu personagem.
Isso sem contar no pai de Abigail que deveria ser o homem que, até como humano, já causa calafrios em quem ouve seu nome, mas, pelo modo com que ele finalmente aparece na história, era melhor ter ficado apenas na ideia.
Abigail, no final, se sustenta em Melissa Barrera e grandes doses de sangue, explosões e vísceras espalhadas. Pode ser divertido em alguns momentos, mas, com um terceiro ato cheio de reviravoltas sem sentido, é apenas cansativo.