Agatha Desde Sempre é aventura carismática que parece afastada do MCU
Kathryn Hahn comanda elenco afiado em produção que abraça o formato televisivo
Crítica
Desde que começou sua empreitada no Disney+, o Marvel Studios já lançou 10 séries originais (Loki e What If… com duas temporadas cada) em cerca de três anos. É um volume muito alto e que acabou pagando seu preço, com o proclamado “esgotamento do gênero” (e do estúdio). Há, no entanto, bons exemplos nos lançamentos do MCU para o streaming. Loki é considerada por muitos como a melhor série e uma das melhores produções da Marvel nos últimos anos. Cavaleiro da Lua brincou de “Fragmentado”, Ms. Marvel foi mais juvenil e Falcão e o Soldado Invernal poderá render bons frutos em 2025 com o novo filme do Capitão América.
Mas nenhuma dessas séries movimentou mais as redes sociais e as teorias do que WandaVision. A primeira produção da Marvel para o Disney+ trouxe uma história de amor e luto de Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) por Visão (Paul Bettany), adicionando ao MCU mais sobre o lado mágico desse universo. Uma das grandes responsáveis por isso e, sem dúvidas, a personagem que mais roubou a cena, foi a Agatha Harkness, interpretada por Kathryn Hahn. Fazendo o papel da vizinha entrona, ela protagonizou a grande virada da série, mostrando que aquilo não passava de uma armação da própria. Tudo isso, claro, ao som de Agatha All Along, canção que rendeu um Emmy para WandaVision.
O sucesso da personagem logo chamou a atenção da Marvel e agora - depois de alguns adiamentos - finalmente a série protagonizada por Agatha chega ao streaming e nós já tivemos a oportunidade de assistir aos quatro primeiros episódios. Na história, Agatha Harkness recupera sua liberdade graças à ajuda de um adolescente, que é chamado, por enquanto, de Teen (Joe Locke). Intrigada com o apelo dele, a protagonista embarca com outras feiticeiras pela Estrada das Bruxas, na tentativa de recuperar seus poderes.
Já pelos primeiros episódios é possível dizer que Agatha Desde Sempre é a série do Marvel Studios com mais cara de produção feita para TV. E isso não é um demérito. Ao contrário de outras produções que mais parecem um grande filme fatiado em seis ou oito pedaços, a história aqui segue uma ideia básica de televisão, com dois ou três plots dentro da história principal e “missões” que se cumprem dentro da sua duração. Claro, elas fazem parte de uma jornada maior, mas os arcos de cada capítulo são muito bem estabelecidos e deixam um gancho para o próximo, sem que ele seja uma interrupção da história contada.
A história criada por Jac Schaeffer (também responsável por WandaVision) se afasta das amarras do MCU logo no primeiro episódio - que faz uma ótima referência de Mare of Easttown -, onde temos as citações necessárias sobre Westview, Wanda e o que aconteceu na série anterior. A partir daí, Agatha Desde Sempre trilha seu próprio caminho, bebendo de fontes como Abracadabra, Convenção das Bruxas, Da Magia à Sedução, Sabrina e até As Bruxas de Salem. Em determinado momento, já no segundo ou terceiro episódio, a única coisa que nos faz voltar ao universo da Marvel são as citações ao personagem que mais foi teorizado em WandaVision: Mefisto. Ainda não se sabe o que isso pode influenciar na série, mas é provável que tenhamos essa revelação em breve.
Revelações essas que, inclusive, serão aguardadas tanto para o personagem do ótimo Joe Locke, que nunca tem seu verdadeiro nome revelado devido um encantamento e o de Aubrey Plaza, que também esconde um segredo do passado de Agatha. O elenco, aliás, é um dos grandes elementos da série, destacando, além dos já citados, as veteranas Patti LuPone, como uma vidente, e Debra Jo Rupp, de volta como uma das vizinhas de Wanda e Agatha em WestView. Cada uma das bruxas tem seu momento de brilhar, sua piada para contar e suas estrofes na nova canção original The Ballad of the Witches Road. Nem todas podem funcionar de fato, mas o saldo ainda é positivo.
Ao chegar no quarto episódio, no entanto, a série perde um pouco da sua força e as missões das bruxas começam a ganhar um tom mais repetitivo. Vale destacar que Agatha Harkness não possui uma HQ própria, mas sim, aparece em histórias de outros personagens. O grande desafio de Schaeffer e da equipe criativa por trás da série é ter o que criar com esses personagens em nove capítulos. Como de praxe, teremos uma grande revelação, que deve acontecer lá pelo episódio sete, que precede o finale duplo, mas ainda assim, parece uma estrada longa para essas personagens percorrerem, sem cair no grande erro da Marvel na TV, que é, por muitas vezes, não ter propósito.
Agatha Desde Sempre tem um visual simples, mas que pode encantar os fãs da temática da bruxaria e dos clãs, principalmente quando a história começa a percorrer a Estrada das Bruxas. É um cenário prático, em que fica claro o uso de efeitos especiais clássicos, fumaça cenográfica e brincadeiras com profundidade de campo. Junto com as tiradas cômicas e sarcásticas do roteiro, a série acaba surpreendendo aqueles que se perguntavam: por que uma série da Agatha existe?
A grande questão agora é saber se Jac Schaeffer, Kathryn Hahn, Joe Locke e companhia terão mais a dizer na outra metade da série e se realmente ainda existirá magia no final da Estrada das Bruxas de Agatha Harkness.