Agente Stone é o filme mais Netflix possível - Crítica do Chippu

Agente Stone é o filme mais Netflix possível - Crítica do Chippu

Novo longa de ação de Gal Gadot não faz o suficiente para fugir do mesmo

Guilherme Jacobs
11 de agosto de 2023 - 7 min leitura
Crítica

Durante os minutos de abertura de Agente Stone, me distraí e olhei o Twitter (me recuso a usar a "letra nova" desta rede social), e me deparei com uma crítica do novo filme de Gal Gadot na Netflix que descrevia a abordagem expositiva do texto como ideal para quem vai, inevitavelmente, olhar outra coisa enquanto o longa-metragem é exibido em sua televisão. A ironia do momento foi óbvia. Essa... clareza (ou seria superficialidade) do roteiro é uma das marcas registradas dos lançamentos do streaming, e se tem uma coisa que Agente Stone é, é um filme Netflix.

Toda a fórmula está lá. Reviravoltas, CGI irregular, piadinhas ocasionais, ritmo ágil e cenas de ação protocolares povoam os 130 minutos desta história de espionagem dirigida por Tom Harper e escrita por Greg Rucka e Allison Schroeder, uma aventura interessante o suficiente para prender nossa atenção, mas não para atiçar nossa curiosidade. Suas pontas são costuradas por breves resumos do enredo até aquele momento, ou do próximo objetivo, sempre cuidadosamente encapsuladas em frases de fácil entendimento e fadadas ao esquecimento. Como virou costume dizer, é algo que parece gerado por algoritmo.

O que, claro, deixa a história do filme ainda mais irônica. Rachel Stone (Gadot) é, à primeira vista, uma agente novata do MI6, capaz de acompanhar o ousado Parker (Jamie Dornan) em suas missões, mas inexperiente demais para sequer sair da van de onde hackeia os computadores inimigos. Rapidamente, porém, descobrimos que ela é a Nove de Copas, uma das agentes das várias divisões da Carta, um grupo de ex-líderes de segurança que agora opera secretamente tentando guiar as agências de diversos países com seus times: Paus, Ouros, Copas e Espadas. Sacou?

Então, Agente Stone abandona sua divertida ideia de identidade dupla entre duas vidas secretas e se contenta com o tradicional. A principal arma da organização é o Coração, uma superinteligência artificial capaz de invadir qualquer sistema ou desestabilizar qualquer governo que permite, graças a seu nome, que os personagens façam comentários levemente engraçados como "siga o coração".

Não surpreenderá ninguém quando uma força rebelde, que inclui a talentosa hacker Keya (Alia Bhatt), sequestra este poderoso algoritmo e o usa para fins nefastos, deixando Stone e seus aliados isolados com suas habilidades e tecnologias analógicas como nossa última esperança.

Permita-me responder seu questionamento, caro leitor. Sim, isso lembra muito a história de Missão: Impossível - Acerto de Contas. Eles não estavam brincando quando disseram que essa seria a versão feminina da franquia de Tom Cruise.

A diferença é que, enquanto Acerto de Contas transforma o Ethan Hunt de Cruise num emissário da humanidade na luta contra a mesmice da inteligência artificial, um ponto reforçado pelos feitos humanos de Cruise nas perseguições e saltos de suas missões impossíveis, Agente Stone se perde dentro da própria ideia.

A direção de Harper, abastecida pelo uso de película na fotografia de George Steel (imediatamente diferenciando o filme, pelo menos em textura, do conteúdo da Netflix), até oferece alguns vislumbres de identidade. Ele encena alguns planos com câmera móvel para criar a impressão de um observador misterioso, adicionando leves sombras de voyeurismo à trama sobre o poder da invasão de privacidade.

Mas é pouco. A maior parte de Agente Stone se derrete em familiares mas esquecíveis esquematizações típicas de projetos pensados para não desafiar ou distrair a grande audiência. Coadjuvantes recebem sua única dose de humanidade logo antes de morrerem, supostos adversários subitamente demonstram consciência para auxiliar a heroína e a lógica do roteiro é abandonada em nome de choques baratos — é impressionante a quantidade de membros da Carta que acha uma boa ideia continuar a usar eletrônicos conectados à internet depois que o Coração é roubado.

Agente Stone então ganha os tons clássicos de filmes típicos de streaming. Se não fosse o bem-vindo granulado da fotografia — que nunca é auxiliado por imagens memoráveis — ele seria facilmente confundido com Agente Oculto ou Alerta Vermelho. Stone é superior aos dois, mas também vêm da mesma escola. Tiroteios e brigas garantem a movimentação necessária para que o tédio não se instale, mas o impacto dos golpes desaparece quase instantaneamente.

Até Gadot aparenta estar satisfeita em tocar os hits. Sua atuação é composta dos ingredientes vistos em praticamente todos os seus filmes de ação. Seu sorriso confiante busca evocar o charme de alguém totalmente em controle, mas sugere, na verdade, alguém satisfeita em rir de suas próprias sacadas, nunca informando a realidade da personagem mas quase comentando sobre ela. Sim, Rachel Stone é incrível, calorosa e inteligente. Gadot cativa, mas nunca nos mostra nada além da superfície. E se ela ao menos registra em nossa mente, Dornan e Bhatt se perdem em funções óbvias e previsíveis.

Na reta final do longa, quando Keya questiona o que acontece quando o algoritmo não levanta nenhuma possibilidade, Rachel Stone argumenta a favor da interferência humana, e descreve o poder da computação como uma ferramenta que exige boa responsabilidade. Essa ideia louvável é contrariada por quase todos os lados pela sanitização com a qual Agente Stone se constrói. Fiascos partem nosso coração e grandes obras o aceleram. Aqui, as batidas cardíacas sequer movem.

Nota da Crítica
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Guilherme Jacobs
ONDE ASSISTIR

Agente Stone

Ação
2h 2min | 2023
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