Ahsoka oferece poucas respostas e momentos empolgantes em finale irregular

Ahsoka oferece poucas respostas e momentos empolgantes em finale irregular

Série encerra primeira temporada com ótimo fanservice e cenas de ação decepcionantes

Guilherme Jacobs
4 de outubro de 2023 - 8 min leitura
Crítica

O texto abaixo contem spoilers para "O Jedi, a Bruxa e o Senhor de Guerra," final de temporada de Ahsoka

Muito da discussão circulando antes do final de temporada de Ahsoka era quanto ainda havia para resolver com um episódio faltando, um debate que se intensificou quando por engano a Lucasfilm afirmou que o capítulo seria o final da série em publicações agora deletadas. Que Dave Filoni deixaria o grande confronto contra Thrawn para uma segunda temporada ou até para seu longa-metragem de Star Wars era óbvio, mas ainda havia mistérios e pontas soltas em busca de respostas e nós.

Com "O Jedi, a Bruxa e o Senhor de Guerra," uma curiosa referência a As Crônica de Nárnia, Filoni resolveu pouco. Preferindo optar por mais ação e menos trabalho narrativo, o showrunner parece ter percebido que seu status atual na Lucasfilm garante que suas histórias serão contadas, e não há necessidade de correr, e portanto decidido empurrar perguntas como "o que está chamando Baylan?" para frente, ou resolvido questões mais básicas como "Ahsoka e Sabine vão se entender?" às pressas, pulando desenvolvimento em favor de uma resolução rápida e conveniente.

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O relacionamento entre Ahsoka (Rosario Dawson) e Sabine (Natasha Liu Bordizzo) é um bom exemplo dos defeitos desse finale irregular. Ao fim do capítulo — que consiste basicamente de uma série de lutas até o topo da torre de Thrawn (Lars Mikkelsen) as duas têm uma rápida conversa na qual Ahsoka admite que também era uma padawan impulsiva, e que nem sempre sabemos qual é a escolha correta na hora H. É uma conclusão justa, mas uma que fecha o arco de mestre e aprendiz não conectando o ponto inicial — onde havia tensão e desentendimento entre elas — e o destino, e não traçando uma linha de um para o outro onde todo a construção acontece. Os erros de Sabine, e de Ahsoka, não são investigados, questionados ou desafiados.

Semelhantemente, nada é falado sobre o isolamento de Ezra (Eman Esfandi), ou sobre como ele reagiu ao saber que o seu resgate também permitirá o retorno do herdeiro do Império. Ezra e Thrawn, claro, voltam para a galáxia principal. Você pode apontar para esses acontecimentos como o contra-argumento ideal para a afirmação que há pouco em termos narrativos neste episódio, mas ambos pareciam predestinados desde antes de Ahsoka começar, e são tudo menos surpreendentes.

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É claro, é significante. Para fãs de Rebels, o reencontro de Ezra e Hera (Mary Elizabeth Winstead) e Chopper é tocante, e a imagem de Thrawn chegando em Dathomir tem um caráter assombroso. Mas tirando o fanservice de lado por um segundo, o que se fez dos personagens em cujas jornadas estávamos investidos? Ezra e Thrawn entraram em cena já perto do fim da temporada, e certamente serão figuras maiores depois, mas e quem estava aqui desde o começo? Shin (Ivanna Sakhno) e Baylan (Ray Stevenson, em sua última cena em Star Wars. RIP). ganham ambos uma cena, sem diálogos, apenas para sugerir seus papéis futuros. Ela, líder de bandidos. Ele, indo a Mortis.

Bom, eu não sei se a luz no topo da montanha para onde Baylan está indo é Mortis, mas certamente tem a ver com Mortis, um mundo espiritual apresentando na animação The Clone Wars onde moravam três encarnações da força: o Pai (equilíbrio) da Força, a Filha (Luz) e o Filho (Lado Sombrio). Há muito se especula que Filoni traria essa ideia para o live-action, e talvez até a quarta figura, a Mãe (caos, também conhecida como Abeloth) que fazia parte do antigo cânone e é uma espécie de anti-Cristo em Star Wars. Se ele irá até esse ponto não sabemos, mas as estátuas esculpidas em rochas do Pai, Filha* e Filho apontam para esse caminho, literalmente.


*Eu não notei a filha quando vi o episódio pela primeira vez. Seu corpo está lá, mas a cabeça está decapitada. Por mais que a ideia de Abeloth seja apetitosa, a associação de Ahsoka com a Filha (reforçada pela aparição do pássaro Morai, companheira de Ahsoka nas animações e aliada da Filha) me faz imaginar que o Filho, grande rival da irmã, seria um vilão mais provável.

Seja o que for o destino de Baylan, que provavelmente terá um novo rosto na temporada dois dada a infeliz morte de Stevenson, só saberemos depois, já que essa pergunta é uma das várias interrogações que Filoni preferiu não responder. Entre elas: Qual é o caminho de Shin agora? Como Ahsoka e Sabine voltarão para casa? Como Sabine saiu de incapaz de usar a Força para levantar uma pessoa por longas distâncias? Por que os heróis resolveram que era sábio esperar Ezra montar um novo Sabre, e não usar o de Sabine, e ficar vulneráveis aos TIE Fighters? E por que, pelo amor do Pai, Rick Famuyiwa continua dirigindo esses episódios?

Muito da pobreza narrtaiva de "O Jedi, a Bruxa e o Guarda-Roupa, quer dizer, o Senhor de Guerra" seria perdoado se as diversas cenas de ação do capítulo fossem bem conduzidas. Os bons conceitos e momentos empolgantes — o Sabre de Talzin na mão de Morgan (Diana Lee Inosato), os Stormtroopers zumbis, as estratégias de Thrawn — vêm do roteiro de Filoni e da boa direção de arte, mas Famuyiwa parece determinado a neutralizar as imagens de dinamismo ou vida. Até poses heróicas perdem intensidade com seu olhar aguado e chapado, que além de tudo, parece intensificar os limites dos efeitos visuais deixando planos de fundo virtuais gritantes. Depois do trabalho decepcionante dele como diretor geral da terceira temporada de The Mandalorian, é difícil entender por que a Lucasfilm o colocou de volta num palco tão grande.

As deficiências do diretor, então, nos forçam a depender do progresso do enredo. Praticamente esvaziada desse substantivo, a conclusão da temporada é tudo menos isso. O que está ali, como o fantasma de Anakin (Hayden Christensen) e a supramencionada aparição de Morai agrada, especialmente o fã, mas é muito, muito pouco.

Nota da Crítica
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Guilherme Jacobs
ONDE ASSISTIR

Ahsoka

Ação
Ficção científica
0h 45min | 2023
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