AIR: A História Por Trás do Logo faz milagre ao dar contornos míticos à história de marketing esportivo - Crítica do Chippu

AIR: A História Por Trás do Logo faz milagre ao dar contornos míticos à história de marketing esportivo - Crítica do Chippu

Longa dirigido por Ben Affleck mostra como a Nike conseguiu, contra todas as expectativas, contratar Michael Jordan

Bruno Silva
27 de março de 2023 - 5 min leitura
Crítica

Comparar a competitividade do mundo dos negócios com esporte é uma das coisas mais corriqueiras em qualquer discurso motivacional. Mas, conseguir passar a sensação empolgante de uma disputa esportiva em uma mesa de escritórios sem parecer um coach é um feito raro, o que faz AIR: A História Por Trás do Logo se destacar dos demais.

Tornar-se único, inclusive, é a essência do material que serve de base para essa história, que narra o momento corporativo em que a Nike passa de uma marca de tênis de corrida para uma gigante do marketing esportivo e estilo de vida numa só jogada: a contratação do hoje lendário jogador de basquete Michael Jordan, à época apenas com 18 anos, para não apenas se tornar garoto-propaganda da marca, mas também protagonizar o lançamento de uma linha que leva seu nome, a Air Jordan.

Quase 40 anos depois, a marca é uma das mais famosas e cobiçadas do mundo, muito por conta da ascensão meteórica de Jordan como atleta e o acordo sem precedentes firmado entre ele e a Nike em uma época na qual fornecedoras de material esportivo não produziam calçados especificamente para seus jogadores patrocinados.

Nesse sentido, Ben Affleck trata como lendas Jordan e o tênis que leva seu nome, ainda que ambos estivessem longe desse patamar lendário durante os eventos que o filme narra. O jogador de basquete sequer havia estreado pelo Chicago Bulls, mas o filme o trata como uma presença pairando acima de tudo, apresentando-o de relance, para torná-lo uma figura inatingível para o espectador — e certamente para a Nike, que amargava um terceiro lugar em fatia de mercado no basquete.

A condução até o momento em que o casamento entre as partes é selado é cadenciada, cheia de altos e baixos, idas e vindas, como qualquer jogo de um esporte coletivo. Os executivos, aqui, assumem o posto de protagonismo normalmente reservado aos atletas. O foco é em Sonny Vacaro (Matt Damon), um especialista em basquete convencido de que o talento de Jordan vale o investimento de todo o dinheiro de marketing da divisão da empresa.

Desacreditado, Vaccaro age de forma intempestiva e contra a maré em busca deste patrocínio, em um árduo processo de convencimento que vai desde seus colegas de equipe, Rob (Jason Bateman) e Howard (Chris Tucker), ao presidente da Nike, interpretado por Affleck — cujos diálogos com Damon, seu amigo e parceiro de trabalho de longa data, são alguns dos pontos altos do filme — até a mãe do jogador, interpretada por Viola Davis.

Embora a edição e o roteiro cuidam de dar os contornos místicos à história, nada disso funcionaria sem atuações, e aqui o elenco estelar reunido para este filme dá conta do recado com tranquilidade. Dos papéis coadjuvantes, com um claro destaque para Davis, que foi uma exigência do próprio Michael Jordan, até mesmo para nomes menos conhecidos, como Chris Messina, que interpreta o agente de MJ e trava duelos hilários, todos são bons.

O foco, no entanto, acaba ficando com o próprio Vaccaro, que é o “Jordan” da equipe da Nike e tem seus momentos de brilho nos monólogos de Matt Damon; tentando persuadir todos ao seu redor sobre o talento de Jordan, até então visto como uma escolha possivelmente arriscada para ser o futuro de uma equipe da NBA. Tudo isso é aliado a um texto com ótimas tiradas, especialmente se você for fã da liga norte-americana de basquete.

AIR é o tipo de filme que, se tivesse sido lançado seis meses antes, provavelmente teria sido cotado a algumas indicações para o Oscar — e, dependendo, do tipo de campanha a ser promovida por Affleck e Damon, pode até mesmo figurar entre os nomes da premiação em 2024. Sua combinação de contextos históricos com uma narrativa heróica funciona surpreendentemente bem, de uma maneira similar a Moneyball (outro filme que consegue passar bem a sensação do esporte praticamente sem se focar na ação em si). Aqui, no entanto, o feito pode ser ainda mais notável, levando-se em conta que as salas de reunião da Nike conseguem ser ainda menos empolgantes que uma discussão sobre escolha de novatos ou uma sala de treino.

4.5/5



Nota da Crítica
Bruno Silva

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