Andor: Episódio 2 - Crítica com Spoilers

Andor: Episódio 2 - Crítica com Spoilers

Com relacionamentos maduros (tem até intimidade sexual), segundo episódio faz um fabuloso trabalho de construção de personagens

Guilherme Jacobs
21 de setembro de 2022 - 6 min leitura
Crítica

Curiosamente, o momento que mais se destacou no segundo episódio de Andor, pra mim, foi um detalhe de cenário pequeno numa das últimas cenas, quando Luthen, o personagem misterioso de Stellan Skarsgard — depois de uma conversa com outro passageiro do transporte local — olha pela janela para a cidade onde ele pretende comprar um equipamento valioso vendido por Cassian (Diego Luna) e Bix (Adria Arjona). A janela tem riscos, sujeira. Pessoas tocaram nela. Talvez uma criança com olhos arregalados. E, ao longo das várias viagens, ela foi danificada por grãos de areia e pedras. Esse simples exemplo retrata bem a fantástica construção de mundo feita pela série, inigualável entre as produções de Star Wars no Disney+ em te transportar para outro ambiente.


Este segundo capítulo reforça todas as impressões iniciais da série. Pouco “acontece” em termos de trama e enredo. Além da chegada iminente Luthen, a tropa da Pre-Mor liderada por Karn (Kyle Soller) está se aproximando de Cassian, prometendo um encontro explosivo no próximo capítulo. Entretanto, o roteiro de Tony Gilroy e a direção de Toby Haynes capturam nossa atenção através do estabelecimento dos diversos núcleos narrativos não através de ferramentas baratas como referências ou fanservice, mas sim graças a interações bem-executadas entre personagens, com atores de qualidade comunicando mistos de emoções e ansiedades, e pela linguagem visual mais suja, usada e realista dos mundos menos explorados de Star Wars. Mostrar como, neste planeta, as pessoas são acordadas, é o tipo de detalhe rico que expande este universo.


Se há um momento que encapsula essa abordagem mais madura, é quando Bix vai visitar seu parceiro Timm Karlo (James McArdle) e termina indo para a cama com ele. Quantas vezes, em Star Wars, sexualidade foi sugerida de forma positiva? Não estou falando de Leia em biquínis dourados, mas de intimidade. Do amor entre homem e mulher sendo expressado de maneira física sem a visão negativa dos Jedi legalistas da trilogia Prequel rejeitando Anakin e Padmé. E, diferente de Hayden Christensen e Natalie Portman naqueles filmes, há química. Atração e complexidade. O puxa-empurra de um casal real. Arjona, em particular, interpreta o momento com sensualidade. Um dinamite magnético em Irma Vep na HBO, a atriz mostra como Bix é capaz de comandar o momento, de derrubar barreiras e conquistar olhares. Durante toda a interação, porém, McArdle não fica atrás. Veterano de Mare of Easttown, ele mistura o desejo de estar com sua amada com a triste certeza dos motivos secundários dela.


Semelhantemente, a interação entre Cassian e sua mãe, Maarva Andor (a sempre espetacular Fiona Shaw) mostra uma dinâmica paternal até então nunca vista em Star Wars. Há, entre eles, rejeição misturada com carinho, relutância combinada com dependência. Luna e Shaw interpretam o momento de maneira perfeita. Ambos não querem ter aquela conversa, adicionar mais uma tensão ao relacionamento claramente desgastado dos dois, mas detectamos décadas de amor e confiança. A frustração vem pelo desejo de garantir a segurança.


A ansiedade de Maarva e Cassian vem porque Karn identificou o assassino dos funcionários da Pre-Mor e está a caminho. Inicialmente, Karn parece ter encontrado pessoas que, diferente de seu chefe na estreia, concordam com sua tática de investigação sem pontas soltas e punição. Soller é brilhante no momento, deixando sair toda a tensão megalomaníaca de alguém digno do Império. Ele não está, porém, a serviço dos Sith. Ele é de uma empresa privada, e seus soldados o equivalente Star Wars de trabalhadores de colarinho azul. Quando Karn solta um discurso digno do Almirante Thrawn, eles respondem com apatia e desinteresse. Diferente de seu superior, não há paixão pela ordem, só o cansaço de estar em outra viagem no que certamente é um emprego mal remunerado e desnecessário.


É um episódio com pouca ação, mas um para reforçar os ares de espionagem de Andor. Não algo como Missão: Impossível, e sim o tipo de execução vista num romance de John le Carré como A Garota do Tambor. Estamos no começo. Tudo é mais pedestre, há ênfase nos civis e suas vidas. Elas ainda não mudaram de maneira irreversível. É o princípio de uma trama complexa e com objetivos a longo prazo, e a água ainda não está fervendo. Isso, porém, deve começar a mudar em breve, como destaca a conclusão do capítulo, com Cassian correndo contra o tempo numa cena engrandecida pela crescente trilha sonora do sempre excelente Nicholas Britell. O pavio está encurtando. O que acontecerá quando algo explodir?

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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