
Andor: Episódio 3 - Crítica com Spoilers
Com final magnífico, terceiro capítulo é o melhor trabalho de Star Wars na televisão até então

Crítica
Seria um exagero dizer que o terceiro episódio de Andor é uma das melhores coisas já produzidas por Star Wars? Claro, não há Jedi, Mandalorianos ou pilotos de X-Wings, mas quando vemos o primeiro vislumbre de uma rebelião, do grito comunal dos oprimidos contra o fascismo imperial, quando a cidade acorda para proteger Cassian Andor (Diego Luna) e garantir sua fuga, não é isso que Star Wars representa? A esperança inabalável mesmo diante de uma força implacável? Perdão, ainda estou emocionado.
Andor: Episódio 1 - Crítica com Spoilers
Andor: Episódio 2 - Crítica com Spoilers
Terminamos o recap anterior falando que a água ainda não estava fervendo nesse pote de circunstâncias cada vez mais preocupantes para Cassian. Bom, agora a panela explodiu. A chegada da tropa da Pre-Mor, liderada por Karn (Kyle Soller) coloca em andamento o acender da fúria, o despertar da necessidade de responder à corrupção e maldade imperial. A atuação de Soller representa a percepção dessa realidade. Primeiro, o oficial está praticamente segurando um sorriso, se deleitando por viver suas fantasias de poder, de enfiar o pé na garganta de vítimas inferiores. Aos poucos, porém, a resistência dos locais quebra sua armadura. Quando ele se vê vulnerável e sua equipe se mostra perdida, sem resposta para a organização e determinação dos adversários, o personagem começa a se derreter e o ator parece estar prestes a desmoronar. Por fim, ele está irado como os poderosos ficam ao serem humilhados.
Tony Gilroy construiu a tensão de Andor aos poucos, estabelecendo dinâmicas pessoais e riscos reais para os personagens, preparando o terreno para a colheita deste espetacular capítulo. O episódio é um divisor de águas. Para Cassian, a interação com Luthen (Stellan Skarsgard) é um empurrão. Ali, ele tem um vislumbre de uma causa maior, de um propósito digno e valioso. Skarsgard abastece cada fala de seu personagem com o peso de precisar não só convencer seu ouvinte, como a todos nós, da necessidade urgente de uma rebelião, e cumpre o objetivo de tal maneira que o movimento dos rebeldes é, aqui, mais convincente e profundo do que nunca. Rogue One, Rebels e toda a trilogia original mostram as atividades desse grupo. Normalmente de maneira romântica, heroica e grandiosa. Há uma ênfase na aventura. Na jornada mais simples e apaixonante de virar um guerreiro do bem.
Aqui, o tratamento mais humano, mais pedestre, mais urbano, resulta numa reverência pelo surgimento da faísca. Quanto mais sombrio e cinzento for o clima, maior será o impacto da luz. Gilroy, aliado da impressionante direção de Toby Haynes, do design de produção palpável de Luke Hull e da trilha sonora espiritual de Nicholas Britell, constrói a saída de Cassian da sua antiga vida para uma jornada que eventualmente o levará até a Estrela da Morte em Rogue One. É o momento no qual o cotidiano mundano toca o extraordinário. Andor contrapõe essa mudança com o momento no qual o jovem Cassian foi resgatado (da República, vale ressaltar, Gilroy não tem bons olhos para nenhum governo) por Maarva (Fiona Shaw). A mãe adotiva do rapaz é o coração do capítulo, entregando um discurso instantaneamente memorável para pontuar o acender das chamas em meio ao som de batidas metálicas, o alarme da população de que há lobos em suas ruas. O grito pela resistência.
Shaw é espetacular, assim como Adria Arjona. Bix passa por dois traumas aqui. Primeiro, ela nos mostra uma tristeza quieta de perceber a traição de Timm (James McArdle) quando ele se revela como o delator de Cassian. O estabelecimento de seu romance nos capítulos anteriores faz a cena nos atingir como um boi, e a tristeza aumenta quando Timm morre nas mãos da Pre-Mor. Ele errou, mas seu amor e cuidado por Bix eram genuínos. Só com personagens tridimensionais é possível alcançar o sentimento de perda visto neste capítulo, comunicado por Arjona de forma devastadora ao ver seu amado cair.
Agora, Andor encerra seu primeiro ato. Cassian não está mais em casa. Ele se tornou parte de algo maior, de uma rebelião ainda em seus primeiros momento, e de uma luta cujo tamanho ele ainda desconhece. Gilroy e companhia brilharam nestes primeiros episódios por manter o escopo da série menor e aos poucos nos atrair para este mundo. Agora, os riscos serão maiores. O palco aumentou. Os próximos capítulos tem a invejável mas temível missão de aplicar esse mesmo olhar cuidadoso e direção dinâmica para uma aventura certamente mais ambiciosa e explosiva.

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