Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore - Crítica do Chippu

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore - Crítica do Chippu

Filme expande o universo Harry Potter mas não consegue encontrar propósito no roteiro didático e atuações automáticas

Thiago Romariz
5 de abril de 2022 - 6 min leitura
Crítica

Os Segredos de Dumbledore é uma melhora na franquia Animais Fantásticos, sem dúvida. Enquanto os dois primeiros filmes sofrem para montar uma estrutura simples de roteiro, mesmo surfando no mundo mágico de J.K. Rowling sem Harry Potter, esse terceiro capítulo da franquia alcança tal êxito sem muito esforço. Por outro lado, mesmo que seja auxiliado por um ótimo Jude Law, o filme não faz desta conquista algo suficiente para uma aventura memorável. O sétimo filme de David Yates dentro da marca segue à risca a receita do diretor, deitando na mitologia fonte a ponto de ignorar qualquer necessidade de construção narrativa ou impacto na história. No fundo, Yates reafirma mais uma vez, com bons efeitos e alguma expansão de territórios, que Animais Fantásticos segue cheio de boas intenções, mas sem nenhum propósito para existir.


Sejamos justos, não é como se isso fosse novidade. O que começou como uma inocente viagem de Newt Scamander (Eddie Redmayne) à Nova York dos anos 1920 era, na verdade, o início da história de amor e guerra entre Dumbledore e Grindelwald (Mads Mikkelsen). O problema é que depois de três filmes, o conflito está armado, mas nunca é executado. Aqui, Yates, com a ajuda de Steve Kloves - agora parceiro de Rowling - no roteiro, monta um cenário que distribui melhor os papéis e a história que se desenrola, mas esquece de colocar um pingo de urgência em qualquer ato transcorrido nas quase 2h30 de duração. O que começa com um papo de bar em busca de uma resolução termina com uma papo de esquina em busca de… uma resolução.


O cerne dos problemas de Animais Fantásticos está nesta falta de importância dos capítulos. Onde Habitam encontrou Creedence (Ezra Miller) e explicou seus pormenores, mas termina com a revelação de Grindelwald. Crimes tenta montar uma casca de sanguinário carismático em Grindelwald, mas sequer apresenta o perigo e a ameaça que ele representa. Segredos não é tão diferente neste sentido, pois apesar de moldar melhor a história, segue sem resolver os dilemas que são postos à frente dos personagens neste episódio em especial. E mais uma vez o espectador sai do cinema sem saber o passo que de fato a trama deu no cenário geral.


Uma história de três pilares



Voltando para a parte positiva: a estrutura de roteiro. De forma bem didática e sem spoilers, dá pra separar este Animais em três núcleos: Dumbledore/Grindelwald, Creedence e a eleição do representante do mundo mágico. Os três são permeados pela equipe de Newt, literalmente os olhos e as mãos do espectador, que mesmo sem entender os motivos, confia no carisma de Dumbledore para seguir em frente - e pudera, Jude Law é o único ali realmente encantador, absorvendo a aura de sabedoria e malemolência que um mago deste porte e idade deveria ter. Com esta separação, Yates acerta na montagem do ponto de partida, mas falha na execução de cada uma das tramas.


A começar pela eleição, que jura ver em Grindelwald um cidadão carismático. Tirando os motivos maléficos pelos quais ele se conecta com alguns bruxos, não há nada neste vilão que demonstre ou a paixão do povo por ele, ou mesmo a ameaça tão horrenda que ele representa. Mikkelsen, substituto de Johnny Depp, conhecido por excelentes vilões, pilota o antagonista tão no automático que por vezes sente-se apenas as palavras saindo da boca do ator sem qualquer potência. Uma decepção tendo em vista que Depp, mesmo com todas as polêmicas e problemas, trouxe não só um visual mas um aspecto magnético ao vilão pouquíssimo aproveitado pela franquia até aqui.


Creedence, o personagem dos sentimentos e o fiel da balança, se torna uma peça pouco significante num tabuleiro maior, e no fim é a transformação mais sem justificativa que a série viu até aqui. Ele ao menos protagoniza uma belíssima cena de luta com Dumbledore no meio de Londres, mas que Yates faz durar pouco mais de um minuto numa espécie de aceleração da trama que até ali não tinha visto uma sequência de ação ou conflito conceitual - mas estava lotada de referências à Hogwarts e easter eggs sobre o mundo bruxo de Rowling. Prioridades.


Por fim, a relação de Dumbledore e Grindelwald resume bem os êxitos e defeitos do filme, que começa num simples, mas bom diálogo entre ambos. A partir dele, o roteiro dá a esperança de que veremos um embate de ideias permeado pelo amor de ambos, pelos sentimentos conflitantes que existem e como isto traz momentos de impacto e agonia. Mas tudo não passa de um floreio, um embate falso no estilo Crepúsculo, uma ilusão montada na cabeça do casal (e dos fãs), que como Yates se nega a abraçar o complexo dilema entre um casal homossexual no mundo bruxo e prefere transportar a responsabilidade do embate para um grupo de amigos que tal qual boa parte do público, vai embarcar na aventura pelo pedido feito com carinho, mas sem noção do propósito pelo qual está indo.


2/5

Nota da Crítica
Thiago Romariz

0h 0min
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