As Marvels ameniza excelente química das protagonistas com pós-produção bagunçada
Méritos do filme de Nia DaCosta são quase perdidos com a montagem confusa
Crítica
As Marvels se situa em uma encruzilhada histórica para o Marvel Studios e é afetado por ela de algumas maneiras. O filme tem tudo o que se espera, a essa altura, de um trabalho da produtora: é uma aventura divertida, bem-humorada (às vezes em excesso) e repleta de figuras carismáticas.
Mas, ao mesmo tempo, é um longa lançado durante a primeira grande crise do MCU, na qual uma série de decisões criativas equivocadas têm forçado a empresa a corrigir curso no meio de sua próxima grande saga de filmes.
O resultado é uma produção que claramente sofreu uma tentativa de "desmarvelização", mas, por incrível que pareça, isso acabou criando novos problemas, em vez de sanar o que já era criticado em outras obras do MCU. É impossível sair da sessão sem sentir que faltou um pedaço do filme, já que em diversos momentos os cortes na pós-produção são mais do que aparentes.
As tesouradas, aqui, parecem servir a um propósito: dar coesão a um filme que, originalmente, requer que você tenha visto, além do primeiro Capitã Marvel, pelo menos mais outros dois longas do MCU (Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato) e duas séries (WandaVision e Ms. Marvel) para conhecer plenamente seus personagens e conexões.
A maior prova se dá na maneira como começa a aventura, que joga imediatamente a Capitã Marvel (Brie Larson), Monica Rambeau (Teyonah Parris) e Kamala Khan (Iman Vellani) em uma sequência de ação após um artefato místico fazer as três trocarem de lugar quando usam seus poderes ao mesmo tempo.
Ao tentar separar ao máximo estes laços, As Marvels acaba se tornando um filme em que as coisas acontecem simplesmente porque tem que acontecer, o que é impressionante dada a grande quantidade de diálogo expositivo de Rambeau, a cientista deste improvável grupo de heroínas. O único fio condutor da trama acaba sendo a ação, o que até funciona, mas não em todos os momentos.
A grande sorte das Marvels se dá justamente na química de seu elenco. O trio de heroínas se destaca tanto na ação quanto nas interações entre si (Vellani, mais uma vez, é o destaque individual), ainda que o desenvolvimento das relações entre as três claramente seja apressado, provavelmente como consequência das intervenções feitas depois das filmagens.
Curiosamente, as decisões executivas também tiveram um efeito colateral positivo. As Marvels estava previsto para estrear em julho, e o adiamento claramente deu mais tempo para que as empresas de efeitos visuais que trabalham para a Marvel pudessem polir a computação gráfica de modo a evitar o CG vergonhoso de obras como Quantumania ou Thor: Amor e Trovão.
Mas, no fim, a direção de Nia DaCosta é completamente soterrada pela necessidade de Kevin Feige de salvar seu império cinematográfico, em mais um filme que, como todos os outros das Fases 4 e 5 até aqui, não tem outra razão de ser a não ser jogar a bola para o próximo episódio da saga.
Ao contrário de outras obras da Marvel Studios, a costura para fazer este multiverso funcionar se torna bem aparente, revelando que havia sim, um filme com potencial ali. Infelizmente, não teremos a oportunidade de vê-lo. As Marvels, então, é o filme certo para o MCU, mas foi lançado no pior momento possível.