Bad Boys: Até o Fim brilha na ação e no carisma de Will Smith e Martin Lawrence
Mesmo com história básica e sem muita inspiração, o quarto filme da saga ainda é um divertido exemplo de blockbuster do verão americano
Crítica
É praticamente impossível começar qualquer raciocínio sobre Bad Boys: Até o Fim sem pensar no finado projeto de Batgirl, cancelado e jogado fora pela Warner Bros, mesmo depois de já estar filmado. E são os dois maiores acertos do novo filme estrelado por Will Smith e Martin Lawrence, que mais chamam a atenção para o que poderia ter sido o projeto da DC nas mãos dos diretores Adil El Arbi e Bilall Fallah: a importância dada aos protagonistas e a inventividade nas cenas de ação.
A dupla já havia sido responsável por Bad Boys Para Sempre, o filme anterior, e retornam aqui mais confiantes no jogo de gato e rato da polícia de Miami e algum cartel que utiliza a cidade para seus negócios. Na verdade, os dois fazem uma sequência praticamente direta do último Bad Boys, utilizando elementos como a morte do Capitão Howard (Joe Pantoliano) e o filho Mike, Armando (Jacob Scipio), como elementos da nova história. Entretanto, como pede o código de conduta das continuações em Hollywood hoje em dia, tudo é bem explicado ao longo da trama, para que o espectador que não assistiu ao capítulo anterior, possa apreciar esse novo.
No novo Bad Boys, acompanhamos Mike (Smith) e Marcus (Lawrence) em um novo momento de suas vidas. O primeiro deixou de ser um mulherengo metido a gostosão e agora é um homem casado - “Você já tem 50 anos”, lembra um personagem no meio do filme. Já o segundo, após um infarto, vive uma nova fase espiritual - mais uma na saga. O mundo deles começa a virar de cabeça para baixo quando seu ex e finado chefe é acusado de ter ligações com o cartel do filme anterior. A história então os leva para revisitar companheiros do passado e partir em uma missão para limpar a barra do Capitão e, claro, deles dois.
É interessante ver Will Smith nesse Bad Boys 4. O primeiro grande filme do ator após o vexame do tapa em Chris Rock durante o Oscar - Emancipação já havia sido produzido na época -, traz um Smith longe da megalomania. O filme parece um spa, uma desintoxicação do astro para a pressão de grandes atuações, como em King Richards, ou de ser o maior nome no pôster, como em Aladdin e Esquadrão Suicida. Seu Mike Lowrey está casado, tem ataques de pânico e até vacila em momentos em que o personagem nunca tremeu na base. É um Will Smith mais leve e divertido, algo que combina muito mais com o ator do que as caras e bocas que renderam um Oscar questionável.
Essa leveza em Smith abre espaço para que Martin Lawrence, que já chegou a ser mais protagonista que Will no primeiro Bad Boys, em 1995, possa brilhar com seu humor. Marcus já se agarrou no esoterismo para escapar dos ataques de fúria, já buscou na fé a salvação para ele e o amigo e agora encontra em uma experiência de quase-morte a chance de cumprir sua missão no plano de cá. Lawrence então brilha com tiradas e momentos cômicos tão bons quanto os dos primeiros filmes e uma fisicalidade que faltou em Bad Boys 3.
Essa troca na dinâmica dos protagonistas ajuda a não termos a impressão de assistir mais uma vez o mesmo filme, algo comum nesse tipo de história - vide Duro de Matar 5, Máquina Mortífera 4 e por aí vai. Os diretores bebem da fonte de Velozes e Furiosos e aumentam o escopo da equipe que trabalha com Mike e Marcus. Se nos dois primeiros filmes eles são apenas acompanhados por policiais “NPCs”, desde o filme anterior eles contam com uma equipe formada por Paola Nuñez, Vanessa Hudgens e Alexander Ludwig, que ajudam na missão mais perigosa, cada um com sua especialidade. O personagem de Dennis Greene, Reggie, uma das melhores piadas de Bad Boys 2, vira um asset importantíssimo na ação. Além disso, assim como a família Toretto, vilões de histórias passadas também podem ser perdoados e se tornar aliados, por que não?
Esse aumento no escopo também se reflete na ação de Bad Boys: Até o Fim. E o filme cumpre esse quesito com excelência. As cenas de tiroteios são excelentes e a dupla de diretores mistura diversos estilos para modernizar o visual de Michael Bay. Estão lá as cores saturadas, os ângulos de baixo para cima e as câmeras lentas do diretor dos filmes originais. Mas, também há um glossy parecido com os de J.J. Abrams e a movimentação de câmera à la James Wan. Entretanto, mesmo bebendo de diversas fontes, os diretores deixam sua marca na inventividade, juntando shots incríveis feitos com drones - deixando os de Bay no chinelo -, com câmeras em POV e movimentos digitais que colam um shot no outro mudando a perspectiva que vemos a ação, seja para mais próximo dos personagens, suas armas ou veículos. Com o estilo “John Wick” cada vez mais enraizado no cinema do gênero, é interessante e até um alívio poder ver algo diferente assim.
Ainda falta uma história melhor - e convenhamos esse nunca foi o forte da série -, com decisões de roteiro menos fáceis ou vilões com um fiapo de motivação. Chega a parecer proposital que desde o primeiro momento já entendemos a intenção de determinado personagem e que isso vai levar a uma revelação no terceiro ato do filme. Além disso, essa história simples - e básica - nunca justifica as quase duas horas de filme, que, mesmo com o auxílio da ação, ainda pesam ali pelo início da segunda metade.
Bad Boys: Até o Fim é um ótimo exemplo de blockbuster de verão americano. Divertido, carismático, barulhento e cheio de coração. Adil El Arbi e Bilall Fallah entendem bem a breguice que Michael Bay implantou nessa Miami tomada por policiais e bandidos. É uma imagem que parece saída de um GTA, com seus carrões, armas, helicópteros e missões mais absurdas. É também um daqueles filmes que parecem não receber o valor devido hoje em dia. Da piada pela piada, da ação descerebrada e muitas vezes sem uma real explicação do porquê ter escalonado até aquele tamanho. Sem uma metáfora ou uma cena para te fazer questionar toda a jornada até ali. Do carisma no simples aperto de mão dos heróis ao final. De um Will Smith e um Martin Lawrence que lembram aqueles Bad Boys lá dos anos de 1990.