Com cara de paródia, Beetlejuice Beetlejuice é frustrante
O Fantasmas Ainda Se Divertem estreia nesta quinta, 5 de setembro, nos cinemas
Crítica
Fazer continuações é complicado. Ter de honrar o capítulo anterior, popular o bastante para fazer com que o público quisesse mais, e ainda assim se reinventar para não cair no ostracismo é realmente muito complexo. Talvez seja por isso que Tim Burton costume evitá-las, salvo exceção de Batman: O Retorno (1992) e agora Os Fantasmas Ainda Se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice.
Na fila há 36 anos, os fãs de Os Fantasmas Se Divertem esperaram literalmente um vida pela continuação, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (5), repleto de expectativas. Porém, quem espera algo surpreendente ou tão disruptivo quanto o original, tem grandes chances de decepcionar.
A trama acompanha Astrid (Jenna Ortega) e sua mãe, Lydia Deetz (Winona Ryder), retornando a Winter River por conta de uma tragédia familiar. Na cidade, Lydia começa a ter flashes do Beetlejuice (Michael Keaton) e Astrid se apaixona por um menino local, quando uma ameaça sobrenatural surge para assombrá-las, pondo suas vidas em risco novamente.
Fazer um filme como Os Fantasmas Se Divertem em 2024 é complicado. Competir com o sarcasmo cotidiano do século XXI é duríssimo, então tudo aquilo que Keaton fazia na década de 80 já não causa o mesmo impacto. Lidar com esse personagem atualmente é correr entre a linha do genial e do bobo, podendo cair para qualquer um dos lados em qualquer escorregão. E isso acontece aqui. Em uma proposta de trazer de volta o passado, Burton se perde na atual tendência de usar a nostalgia como muleta e complica seu elenco do longa original.
O núcleo inédito do novo filme, composto por Ortega, Willem Dafoe e os demais funciona bem. Há referências ao passado, mas seus personagens se sustentam por si. O problema é com o time original. Burton repete quase que passo a passo tudo que acontece com eles no primeiro filme. Fica aquela incômoda sensação de déjà vu a cada aparição deles. E para tentar diferenciar um pouco as coisas, o diretor tenta mudar a personalidade de Lydia, que deixa de ser a jovem excluída e vira a 'voz dos esquisitos' na TV, só que ela é, em essência, uma mãe distante da filha. Presa nesse limbo de estar atrelada ao passado, mas precisar se modernizar, a personagem acaba indo de nada a lugar nenhum.
Nada que se compare ao que é feito com a Delores de Monica Bellucci. Repleta de expectativas, sua personagem teve bastante espaço no trailer, estampa campanhas publicitárias, teve pôster solo e acabou sendo irrelevante. Ela tem uma cena de impacto na apresentação e depois são aparições sem qualquer peso, função ou objetivo. Parece que o diretor só fez a personagem para impressionar e empregar sua namorada.
Ainda assim, há pontos que salvam, como o uso do stop-motion em algumas sequências, e algumas piadas surpreendentes e grotescas de Beetlejuice, que ficou mais contido justamente por saber que ele não conseguiria se manter atual em um filme de baixa classificação etária.
No fim das contas, é cansativo ver esse dilema do diretor entre se prender ao passado ou refrescar o universo com o futuro. Sem tomar uma decisão, ele se perde no meio do caminho e faz um filme frustrante. Esteticamente fascinante, com uma ou duas piadas que funcionam - a do 'Soul Train' é espetacular -, mas carente daquele espírito criativo que tanto fez os fãs se apaixonarem pelos trabalhos do Tim Burton. Ele assume esse papel de caricatura de si mesmo e se satisfaz com isso.