
Borderlands é uma adaptação genérica de um jogo que fez de tudo para fugir disso
Roteiro desinteressado e direção burocrática põem a perder aventura com cara de Guardiões da Galáxia

Crítica
Quando o videogame vivia o auge do militarismo em tons de marrom e cinza, um jogo de tiro tentou surfar nessa onda, mas foi taxado, ainda em período de teste, de genérico. Seu estúdio jogou essa versão inicial fora, apostou em uma direção de arte de cores vibrantes e cartunescas, e Borderlands se tornou um enorme sucesso em 2009. Quis o destino que, 15 anos depois, esse game trouxesse suas características antes inovadores para os cinemas, para dar origem a um longa que, veja só, é genérico.
Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo parece querer surfar em outro tipo de onda, a dos filmes de quadrinhos que ficam entre o escrachado e o violento, como Guardiões da Galáxia e Esquadrão Suicida. Infelizmente, o longa chegou uma década atrasado, e não parece nem um pouco interessado em ir além do básico, mesmo tendo à disposição exemplos positivos de seu material original.
Os sintomas estão todos lá, passando por um um roteiro desinteressado, que parece contente em reciclar a fórmula do grupo improvável de pessoas diferentes que, aos poucos, vão descobrindo mais elementos em comum do que imaginam, e chegando a uma direção burocrática de Eli Roth, mais preocupada em interligar uma sucessão de cenas de ação focadas em entregar momentos ‘viralizáveis’, como as do robozinho Claptrap (Jack Black), que parece estar no filme unicamente para esta função.
Utilizando temas e personagens de toda a trilogia principal, o filme de Borderlands gira em torno do planeta Pandora, um local desértico e assolado por criminosos que esconde um tesouro inigualável guardado em um cofre protegido por tecnologia alienígena. É para este local que a caçadora de recompensas Lilith (Cate Blanchett) precisa ir, a contragosto, após aceitar um trabalho de resgate e escolta da jovem Tina (Ariana Greenblatt).
A caçada ao cofre acaba se tornando a prioridade dos protagonistas, em um grupo que também conta com o soldado Roland (Kevin Hart) e a estudiosa Tannis (Jamie Lee Curtis). A direção pouco inspirada e o roteiro sem graça põem a perder até mesmo um elenco bem escalado para o humor esculhambado de Borderlands, liderado por uma Cate Blanchett que, no mínimo, prova ser capaz de ser o destaque absoluto do elenco em qualquer tipo de filme que se propõe a atuar.
Até mesmo o visual, onde Borderlands teria espaço para brilhar, acaba ficando em um limbo justamente por não passar do superficial. As mesmas cores exageradas que consagraram o material original estão lá, mas o filme não vai muito além, apostando numa combinação de cenários insossos e efeitos visuais cansados, que fariam o longa se encaixar com naturalidade em qualquer uma das fases atuais do MCU.
(Misteriosamente, as armas, que no jogo original usam e abusam de todos os tipos de combinações de cores e formatos, são bem comportadas na adaptação).
Borderlands não é o melhor exemplo de um jogo focado em história, mas este universo sem muitas particularidades já serviu de base para roteiros criativos e inovadores, como o jogo Tales from the Borderlands, que pega emprestado de Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas a ideia de contar a mesma aventura de duas perspectivas diferentes — quem conta, inclusive, são dois personagens cujas diferenças dão sabor à trama.
Mesmo com todos os exemplos ao redor de si, o filme de Borderlands é tão desinteressado em tudo, que acaba tendo o mesmo destino que seu material original teria se não tentasse ousar: o esquecimento.

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