
Castlevania: Noturno não alcança o original, mas primeira temporada é criativa e empolgante
Nova adaptação animada dos games da Konami foi lançada na Netflix

Crítica
Se você assistiu às quatro temporadas de Castlevania na Netflix, então você sabe o que esperar de Castlevania: Noturno. Se passando séculos após os originais, e adaptando acontecimentos dos jogos (Rondo of Blood especificamente, mas sem muito compromisso), a continuação traz tudo que fez a original divertida: as lutas, os designs de monstros e a história com clima assombroso. O resultado não chega aos auges que o original alcançou em suas temporadas finais, mas é um começo muito empolgante.
300 anos depois que Trevor Belmont derrotou a Morte, seu último descendente, Richter (Edward Bluemel), vive na França ajudando os revolucionários franceses a sobreviver os ataques de vampiros que, claro, estão do lado da monarquia e não querem o povo comum ganhando poder. Para tal, os monstros chamaram uma Vampira Messias, Erzsebet Báthory (vilã vivida por Franka Potente e inspirada numa figura real e bizarra) que promete apagar toda a luz do mundo para que ela e seus aliados tenham um grande banquete. Cabe ao caçador de vampiros acabar com ela.
Em outras palavras, puro Castlevania. Bebendo do sangue da literatura gótica, romantismo e muito videogame, o novo anime gerido por Clive Bradley é, no melhor sentido possível, o sonho do adolescente trevoso. Sem economizar na violência, poses heroicas e poderes divertidos, Noturno faz questão de se jogar de cabeça na atmosfera pesada e séria que o antecessor já havia estabelecido, sem nunca abrir mão da diversão ocasional. Sim, há debates sobre a natureza do mal e a alma, acontecimentos trágicos e críticas sérias a instituições como a Igreja Católica e os governos colonialistas, mas também há um bom e velho golpe de chicote que decapita um vampiro.
Dessa vez, o chicote está na mão de Richter, que assim como Trevor é charmoso e rápido com uma piada. Mas se Trevor, mesmo com um quê atrapalhado, sabia a hora de agir com maturidade, seu descendente, que viu a morte da mãe nas mãos de um vampiro quando criança, ainda é bastante infantil. Noturno toma bastante cuidado com o desenvolvimento de seu protagonista, para muitos o melhor dos games Castlevania, mas o texto nunca evita mostrar os principais defeitos do herói — seu primeiro reencontro com o assassino de sua mãe termina com ele, literalmente, fugindo.
Ao seu lado está sua irmã de criação Maria Renard (Pixie Davis), muito engajada na revolução, e a mãe dela, Tera (Nastassja Kinski), e ao longo da aventura eles ganham a ajuda de Annette (Thuso Mbedu), uma jovem que escapou da escravidão no Caribe, e seu melhor amigo Edouard (Sydney James Harcourt). Esse é o principal quesito onde Nocturne deixa a desejar. Dos quatro coadjuvantes, só Annette escapa de ser unidimensional. Ela tem uma história fascinante, e seu temperamento corajoso é contraposto de forma interessante com o medo herdado por sua criação traumática. Maria, Tera e Edouard, começam e terminam a série sem que suas personalidades sejam diversificadas, aprofundadas ou alteradas.
Isso, porém, está longe de ser um grande problema. O enredo do novo seriado envolve ideias criativas na parte da mitologia (particularmente em como estabelece Erzsebet como uma ameaça no mesmo nível de antagonistas anteriores como Drácula e a Morte), e faz misturas fascinantes com a história real, seja com a revolução na Europa ou o desenvolvimento do Novo Mundo. Tudo isso existe mais conceitualmente do que na narrativa, que pouco faz além de apontar vilões e heróis, mas a combinação dá a Castlevania: Noturno novos tons e texturas fascinantes.
O mesmo pode ser dito para a animação em si, em termos de design e composições. Noturno parece ter sofrido de uma queda de orçamento que limita a fluidez de algumas cenas, mas da concepção das Criaturas da Noite até o desenrolar das batalhas, com uso criativo de uma série de poderes inéditos, a série consegue fazer muito com pouco.
Se Noturno obter o mesmo sucesso do primeiro anime de Castlevania, então problemas como esses devem ser resolvidos conforme novas temporadas tenham mais recurso. O final desta, além de ser o momento mais empolgante de toda a temporada, certamente supõe que a Netflix encaminhar a renovação. Castlevania cresceu com o passar dos anos, e se Castlevania: Noturno fizer o mesmo, não há razão para duvidar de seu potencial.

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