Live-action de Cavaleiros do Zodíaco até entende a essência do original, mas nem isso o salva da mediocridade - Crítica do Chippu

Live-action de Cavaleiros do Zodíaco até entende a essência do original, mas nem isso o salva da mediocridade - Crítica do Chippu

Adaptação do anime aposta nas cenas de ação e põe tudo a perder com roteiro incoerente e apressado

Bruno Silva
27 de abril de 2023 - 6 min leitura
Crítica

Assistir a Cavaleiros do Zodíaco - Saint Seiya: O Começo é, no melhor estilo dos protagonistas do anime no qual se baseia, um exercício de superação. É necessário ter muita força de vontade para não levantar da cadeira do cinema ou do sofá, desligar a tela e fazer qualquer outra coisa.

Essa afirmação pode ser feita sem sequer entrar nos aspectos de adaptação de uma das obras da cultura pop japonesa que marcaram história no Brasil e até hoje permanecem populares. Entre os filmes ocidentais que tentam adaptar mangás e animes, um tipo de obra cuja fórmula ainda não foi decifrada por Hollywood, Cavaleiros do Zodíaco consegue, até, um feito inédito: em meio à mediocridade, o longa consegue entender, em partes, a essência de seu material original.

Alguns lampejos estão na linguagem visual adotada pelo filme de Tomasz Baginski. É o segundo a mais que os heróis levam para juntar forças e se levantar, a silhueta das constelações tomando forma durante a manifestação dos poderes cósmicos. Fica evidente que existe, no mínimo, algum tipo de respeito ali.

Isso, no entanto, é muito pouco para impedir esta adaptação de ser mais um desastre. O problema começa no roteiro, que é incoerente em seus melhores momentos e uma bagunça completa nos piores.

Com muita a adaptar em tão pouco tempo, o texto de Josh Campbell, Matt Stuecken e Kiel Murray abdica dos demais cavaleiros de bronze e se foca na história de origem de Seiya (Mackenyu), um jovem que descobre um poder misterioso em uma luta clandestina. Em uma sequência improvável de eventos, ele é “resgatado” (ou seria coagido) pelo milionário Alman Kido (Sean Bean), que lhe faz uma chocante revelação: seu poder cósmico deve ser utilizado para a proteção de sua enteada, Sienna (Madison Iseman), a jovem reencarnação de Atena nos tempos modernos.

Caso você esteja estranhando os nomes, vale um parênteses: o filme pega emprestado nomenclaturas e personagens de outra recente adaptação da obra de Masami Kurumada: a animação em 3D produzida pela Toei em parceria com a Netflix, e renovada depois de uma migração para a Crunchyroll.

É de lá, inclusive, que vem os principais antagonistas. Guraad, um homem sem escrúpulos que descobriu a existência de Atena ao lado de Alman Kido e decidiu usar o poder dos cavaleiros para criar um exército. No filme, o papel cai no colo de Famke Janssen (em atuação tenebrosa) e Guraad transforma-se na ex-esposa de Alman, e se opõe aos heróis por acreditar que Sienna, ainda sem pleno controle de seus poderes, é uma ameaça grande demais para a humanidade.

Além de se dedicar a estabelecer o Pégaso e Atena como alicerces de uma história que claramente tem pretensões maiores, o filme toma um surpreendente tempo para apresentar conceitos básicos de seu universo, como a cosmo-energia, um poder interior que faz humanos ganharem força para destruir a terra, o que exige a utilização de armaduras especiais para o combate. Entretanto, os cavaleiros precisam fazer por merecer esta proteção, e a busca por se provar para armadura de Pégaso norteia boa parte da jornada de Seiya durante o longa. Assim como no desenho, o herói também busca sua irmã desaparecida, e descobre que os Kido estão envolvidos nesse processo, em uma trama mal resolvida tanto aqui quanto na obra original.

As decisões apressadas de roteiro, que dão importância demasiada a alguns personagens para jogá-los de escanteio algumas cenas depois, e algumas escolhas completamente incoerentes dos protagonistas acabam atrapalhando até mesmo o pouco que Cavaleiros do Zodíaco tem a oferecer de aceitável como obra cinematográfica: suas cenas de ação.

Apesar da escolha inusitada para o design das armaduras, que sacrifica a mobilidade em prol de um aspecto mais “realista”, as sequências de luta funcionam, com uma agilidade bem traduzida em tela que sabe incorporar, ainda que de forma mais contida, os exageros pelos quais os combates do anime são conhecidos.

Da mesma forma, fica evidente para onde todo o orçamento de computação gráfica e efeitos especiais do filme foi, já que os efeitos do cosmo e das armaduras convencem e tornam o momento destas lutas, onde a coreografia não ajuda, mais palatáveis. “Só a falta de dinheiro, inclusive, pode explicar porque temos uma tragicômica perseguição de carro inteira em computação gráfica no começo do filme).

Tal qual seus protagonistas, Cavaleiros do Zodíaco arranha a superfície do maior desafio de seus pares. Mas ainda precisa de mais poder para poder declarar qualquer tipo de vitória. Os fãs, no entanto, podem ter algo para se orgulhar: na infame história das adaptações de anime e mangá em Hollywood, este é o primeiro filme ruim a captar, ainda que parcialmente, o que faz sua obra original especial.

1.5/5

Nota da Crítica
Bruno Silva

0h 0min
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