Expatriadas é um retrato de gerações, culturas e classes sobre mulheres reais

Expatriadas é um retrato de gerações, culturas e classes sobre mulheres reais

A minissérie exibiu seu último episódio nesta sexta-feira (23) no Prime Video

Bruna Nobrega
23 de fevereiro de 2024 - 4 min leitura
Crítica

Se você assistir apenas ao primeiro episódio de Expatriadas, pode sair com uma impressão completamente diferente da minissérie. À primeira vista, a produção do Prime Video estrelada e produzida por Nicole Kidman parece um suspense, ou um drama de investigação. Acompanhamos Margaret (Kidman) um ano após o desaparecimento de seu filho mais novo, Gus, mas ainda em busca de respostas e pistas de onde ele pode estar.

Em meio a isso, ela tem a história interligada com Mercy (Ji-young Yoo), a jovem que estava com o bebê quando ele desapareceu; e Hilary (Sarayu Rao), uma de suas melhores amigas, de quem Margaret se afastou após o sumiço do menino. Hilary e Mercy, por sua vez, também estão ligadas: o marido da primeira, David (Jack Huston), está tendo um caso com a segunda.

Essas conexões entre as personagens, de primeira, parecem um mistério a ser solucionado. Onde está Gus? Por que ele estava com Mercy na hora do desaparecimento? Como Mercy se envolveu com um homem casado? Por que Margaret e Hilary não são mais amigas? E, até, outros detalhes como: quem é o vizinho de Hilary que morreu? Ele pode estar envolvido no desaparecimento de alguma forma?

Bom, um pequeno spoiler: o tal vizinho nunca mais é mencionado. Porque Expatriadas não é um suspense. Esta é uma série sobre mulheres reais, lidando com suas perdas, traumas, culpas e dificuldades, enquanto tentam seguir a vida. E a produção faz isso de forma tão bem que, até quem começou a assistir à história em busca do suspense, acaba se prendendo ao decorrer dos episódios.



Usando Hong Kong como pano de fundo, a diretora e roteirista da série, a cineasta chinesa Lulu Wang (A Despedida), ainda coloca na mesa o passado cultural de cada personagem. Margaret sabe que deveria voltar para os Estados Unidos para que consiga ajudar o resto da família, seu marido e outros dois filhos, a seguirem em frente; Hilary vê o próprio casamento ruir com dor ao compará-lo com o casamento indiano de sua mãe, que sofreu muito e ainda assim não se separou. Já Mercy, como americana-coreana, nunca se sente realmente pertencente a qualquer lugar.

Wang cria um roteiro sensível que conversa entre gerações e culturas para que a gente conheça cada personagem e que elas tenham um real desenvolvimento. Nada na história é colocado de forma aleatória. Inclusive, é interessante destacar o quinto episódio, com 1h40 de duração, que apresenta a narrativa sob o ponto de vista de Essie (Ruby Ruiz) e Puri (Amelyn Pardenilla), as funcionárias de Margaret e Hilary. Mais um retrato de mulheres reais, com camadas e vidas muito além do que a gente imagina em um primeiro momento.

E, claro, um retrato de classe também. É impossível passar por esta minissérie sem pensar em dinheiro. Como o dinheiro facilitou tanto a vida de Margaret e Hilary, mas foi uma questão enorme para Mercy. E como, mesmo com tantos privilégios, algumas coisas não podem ser remendadas com pagamentos.

Em Expatriadas, o passado de cada personagem é desenvolvido com cuidado para entendermos as inquietações e decisões delas. E, no final, mesmo sem dar várias das respostas que a gente esperaria se este fosse um suspense, a minissérie traz uma evolução interna para o trio protagonista. Elas conseguem, finalmente, expressar tantas coisas que estavam guardadas para conseguir superar, ou melhor, conviver, com seus traumas e dores.

Nota da Crítica
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Bruna Nobrega
ONDE ASSISTIR

Expatriadas

Drama
0h 0min | 2024
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