Maestro se sustenta nas ótimas atuações de Bradley Cooper e Carey Mulligan
O filme chega à Netflix em 20 de dezembro
Crítica
A cena de abertura de Maestro é a mesma que aparece no início do trailer oficial liberado pela Netflix recentemente. Ela mostra um Leonard Bernstein em seu último estágio de vida retratado no filme e chama a atenção logo de cara pela caracterização de Bradley Cooper não só como o famoso maestro e compositor responsável por Amor, Sublime Amor, mas também pelo envelhecimento do ator. Na tela do cinema, é possível ver até os poros de um nariz feito com prótese e maquiagem.
A caracterização ainda vai chamar atenção em vários outros momentos do longa, mas é a atuação de Bradley Cooper que completa o pacote. Maestro é um filme de atuações. Ao mostrar a vida de Leonard de 1936 até quase a sua morte, aos 72 anos, Cooper vai da leveza de um jovem talentoso e cobiçado por homens e mulheres até o peso de um casamento atrapalhado por infidelidades e uma carreira que ele sente não ser suficiente.
E ele ganha uma parceira de cena à altura em Carey Mulligan, que traz toda a serenidade e sensibilidade que a esposa dele, Felicia, exige. Ela se encanta, incentiva o talento dele e ignora os problemas até que eles estejam aparentes demais para serem ignorados. É aqui que a atuação dela fica ainda mais em foco, com seu ápice em uma intensa briga de casal que acontece durante o feriado de Ação de Graças.
Bradley e Carey se complementam e dão a alma do filme que, no geral, pode-se dizer que é muito mais sobre Leonard e Felicia do que sobre o sucesso e legado do compositor em si. Pelo contrário, a carreira de Bernstein acaba se limitando a uma grande cena tocando a orquestra e pequenos trechos de ensaios e apresentações. São nesses momentos que Maestro acaba pegando a “saída fácil” ao resumir os feitos do músico em cenas de entrevistas. Um jornalista resume tudo o que ele conquistou desde a cena anterior e Leonard revela como seus sentimentos mudaram até ali.
É a questão de toda a cinebiografia afinal de contas. Como resumir mais de 50 anos de vida em um filme de duas horas? Em Maestro, a decisão de Bradley Cooper, também como diretor e co-roteirista (ao lado de Josh Singer), foi colocar o foco nas relações e sentimentos. É fácil se apaixonar pelo romance de Leonard e Felicia no primeiro ato do filme (o melhor, sem dúvidas), e não dá pra evitar sofrer junto com os dois, quando o casamento começa a falhar.
Em grande parte, claro, pela atuação e química dos protagonistas, mas também pela trilha sonora – que, em um filme sobre Leonard Bernstein, não poderia falhar e, de fato, não falha. Feita de forma orquestrada até em cenas não musicais, a trilha dita o ritmo, os sentimentos e até te coloca na época de cada cena. Ela vibra nos momentos certos e deixa o silêncio quando ele se faz necessário também.
Assim como a trilha, também é impossível ignorar a fotografia de Maestro, sendo um filme que trabalha com preto e branco e diferentes proporções de tela. O cuidado de Matthew Libatique (Cisne Negro e Mãe!) é visível, com um jogo de cores e luzes que reflete as emoções e o período da cena.
Em seu segundo longa-metragem na direção depois de Nasce uma Estrela, Bradley Cooper parece mais confiante e decidido. Maestro pode até recorrer a saídas fáceis no roteiro em alguns momentos, mas se sustenta com aspectos técnicos muito bem executados e atuações que com certeza aparecerão nas principais categorias do Oscar em 2024.