'Todo Tempo que Temos' é drama sem muitas novidades, ancorado pelo carisma de Andrew Garfield e Florence Pugh
Filme arrancou lágrimas e suspiros dos espectadores no Festival de Toronto
Crítica
A história de amor de um jovem casal ao longo dos anos, a formação de sua família e o drama de uma doença que vai exigir sacrifício deles. Tudo isso contado de forma não linear. O que poderia ser uma sinopse de This is Usé, na verdade, o novo filme do irlandês John Crowley, diretor de Brooklyn, e estrelado por Andrew Garfield e Florence Pugh: Todo Tempo que Temos.
E o filme precisa de pouco, além deles dois, para dar certo. A química entre o casal preenche a tela já no primeiro momento da história, seja ao sabermos que Almut (Pugh) tem câncer e precisará fazer tratamento para tentar curá-lo, seja quando ela atropela Tobias (Garfield), quando ele está distraído pela rua. Garfield utiliza todo o seu charme desajeitado, que conquistou um público cativo - que encheu as ruas do Festival de Torontopara vê-lo - para construir esse personagem que busca uma família completa ao lado da pessoa que ama. Já Florence Pugh é a melhor coisa do filme e faz de Almut uma mulher forte, engajada em sua carreira como chef e que luta entre abrir mão de tudo que conquistou e dar mais tempo para Tobias - e a filha - com o avanço da doença. Se o filme tem alguma pretensão de ir para a temporada de premiações, é na atriz que encontra sua maior chance.
A ideia de mostrar essa história de forma não linear ajuda Todo o Tempo que Temos a não cair na história completamente clichê dos amados que podem se separar por causa de algo que eles não têm controle. Não que o filme não esbarre em muitos desses clichês - mais uma vez superados pela excelente atuação dos protagonistas -, mas a montagem ágil nos permite passar por eles já entrando em uma nova situação, seja do passado ou do futuro de Almut e Tobias. Crowley manipula os sentimentos do espectador com situações como um campeonato de culinária, o corte de cabelo de Almut e elementos básicos de narrativa, como um tema musical meloso, o uso de iluminação quente e fria para variar o humor da cena e a fotografia mais naturalista, quase como um registro pessoal da família.
Alguns momentos funcionam muito bem, como a cena do nascimento da filha do casal, que trabalha de forma perfeita a troca entre os dois protagonistas e o apoio dos coadjuvantes. Já outros parecem completamente desnecessários - e até de mau gosto -, como quando Almut vê uma mulher na cadeira da quimioterapia e a peruca dela escorrega para o lado. O próprio primeiro encontro dos personagens é completamente problemático, seja na construção de Garfield andando de roupão na rua para comprar uma caneta (???) ou mesmo o papo dos dois no hospital. Para sorte de Crowley - e do filme - o humor ajuda a aliviar vários desses momentos estranhos.
Ancorado no carisma de Andrew Garfield e Florence Pugh, Todo o Tempo que Temos não é o romance que vai ser lembrado no gênero, muito menos o drama sobre câncer que vai trazer algo novo para o tema. Entretanto, é um filme que trabalha de forma perfeita aquilo que é esperado dele: fazer o público se importar com o casal principal e com a história que estão construindo.