Elementos é comédia romântica da Pixar que dá um quentinho no coração - Crítica do Chippu

Elementos é comédia romântica da Pixar que dá um quentinho no coração - Crítica do Chippu

Animação traz ótima construção de mundo e visão artística, mas roteiro não acompanha

Bruno Silva
19 de junho de 2023 - 4 min leitura
Crítica

Poucos estúdios de animação sabem construir alegorias visuais para emoções e relacionamentos humanos como a Pixar. Essa habilidade foi provada em mais de 28 anos de diversas formas, mas por incrível que pareça, jamais foi testada em um dos tipos de filme mais comuns a esse tipo de roteiro: a comédia romântica. Elementos vem para inaugurar a entrada do estúdio nesse gênero de forma singela e bela.

Um dos clássicos das romcoms é uma história que aproxima dois personagens que, na superfície, parecem ser o oposto um do outro, e mostrar que eles têm mais em comum do que imaginam. Aqui, essa condição é apresentada da maneira mais escancarada e óbvia possível, na qual uma menina de fogo chamada Faísca (Leah Lewis/Luiza Porto) se aproxima de Gota, um rapaz feito de água (Mamoudou Atthie/Dláigelles Silva).

A improbabilidade desse relacionamento é o grande motor do filme, já que eles vivem em uma cidade onde os cidadãos se dividem entre os quatro elementos, e as criaturas de fogo são relegadas às margens da sociedade por atrapalhar a harmonia entre os seres de água, terra e luz que chegaram no local primeiro. Toda essa tensão se traduz em uma máxima dita à exaustão no filme: elementos não se misturam.

O desenrolar dessa inusitada história serve, em primeiro momento, para a Pixar exercer a sua maior força como estúdio de animação: a de uma excelente criadora de mundos. O conceito de uma cidade projetada para que os quatro elementos possam fluir é muito bem executada pela direção de arte e pela animação em si, criando uma série de cenas que, sozinhas, poderiam sustentar um filme ou até mesmo uma série.

Enquanto o brilho artístico e a qualidade na criação de conceitos seguem como uma das grandes qualidades deste estúdio que ajudou a revolucionar a animação 3D, a sensibilidade do roteiro em expressar emoções e comover audiências não parece mais a mesma.

Elementos pega emprestado um pouco do que vimos em Divertida Mente ao associar emoções aos elementos, com Faísca, seu pai e outros seres de fogo aparecendo com comportamentos raivosos, enquanto Gota e seus parentes choram a cada momento. As ambiguidades entre os personagens aparecem, ainda que mais a reboque do andamento da trama do que por uma vontade legítima e explícita desde o começo.

Da mesma forma, o filme também tenta apostar em cenas de grande impacto emocional, outra marca registrada do estúdio, apenas para amenizá-las logo em seguida, como se não confiasse tanto que este artifício funcione tão bem quanto no passado, ou para dar um tom mais leve a um filme que já se mostra mais despretensioso desde o começo.

Elementos tem um grande potencial enquanto mundo, e não me espantaria ver a Pixar tentar algo a mais neste universo a depender dos resultados financeiros deste filme. Mas, em vez de um fogo incandescente, o novo filme do estúdio prefere brilhar como uma chama quentinha, tímida e constante.


3.5/5

Nota da Crítica
Bruno Silva

0h 0min
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