Euphoria: 2ª Temporada - Crítica do Chippu
Segundo ano da produção da HBO conta com diversos deslizes no roteiro, mas mantém qualidade geral
Crítica
Desde o começo de janeiro, todo domingo à noite, milhares de pessoas ligaram o HBO ou HBO Max para assistir a um novo episódio da segunda temporada de Euphoria. A cada final de capítulo, uma revelação bombástica acontecia, deixando o espectador ainda mais ansioso. Em apenas alguns minutos, spoilers circulavam nas redes sociais. Parece até mesmo que a série de Sam Levinson chegou naquele nível de “se você não assistir à série na hora do lançamento, perderá algo muito especial.”
Sim, tivemos uma grande perda: a essência de Euphoria. A temporada teve momentos incríveis, isso é fato. Mas não posso deixar de mencionar que o roteiro da série deixou muito a desejar, excluindo personagens que poderiam ter uma grande trajetória, em especial Kat (Barbie Ferreira). Todas as séries da HBO são lembradas por sua produção impecável e episódios lançados semanalmente. Enquanto essa forma de distribuição é importante para manter a conversa sobre a série, também deixa evidente todas as falhas dela.
A primeira temporada da série foi aclamada pelo público e crítica especializada por mostrar uma realidade cruel de adolescência. Mesmo que essa não seja a primeira vez que vimos uma abordagem assim em produções do gênero, a fotografia e o elenco talentoso levou a série para outro nível. O Emmy de Melhor Atriz em Série Dramática para Zendaya em 2020 foi um ponto de virada para Euphoria. Dessa forma, a segunda temporada teria que ser maior ainda que a primeira.
De fato, o segundo ano foi surpreendente por diversos fatores, o principal sendo o espaço dado aos personagens secundários, como Lexi (Maude Apatow). Aqui, a personagem finalmente se torna a protagonista de sua própria história, criando uma peça sobre a sua vida e de suas amigas, expondo todos os seus grandes segredos no processo. A garota, sempre uma observadora e alguém de poucas palavras, se tornou alguém forte e sábia.
Por outro lado, a série deixou Kat de lado. Ela já foi uma das personagens mais interessantes da série, mas aqui, virou uma pessoa completamente diferente. O seu único momento inesquecível da temporada foi quando teve uma grande fantasia/pesadelo em relação à sua baixa autoestima. Anteriormente, ela tinha tudo que queria: um namorado que a respeita e o começo de uma boa relação consigo mesma, mas da mesma forma, ela não está exatamente feliz com aquilo. Surgiram vários rumores sobre brigas entre Ferreira e Levinson durante as gravações do segundo ano, levando o diretor a cortar grandes momentos da personagem. Mas esses são apenas rumores. Sendo verdadeira ou falsa a informação, a realidade é que a falta de Kat trouxe um impacto negativo para a série.
Os futuros de Rue e Fezco
Rue (Zendaya) nunca teve a intenção de ficar limpa. Ela sempre estava usando algum tipo de droga, até o momento no qual Elliot (Dominic Fike) e Jules (Hunter Schafer) contam para sua mãe que a adolescente escondia uma maleta cheia de substâncias químicas. O quinto episódio com certeza foi o grande momento de toda a série. Nele, vemos Rue em seu período mais agressivo, descontando toda a sua raiva e abstinência nas pessoas que mais a amam. Com esse capítulo, um que passa o tempo inteiro com a protagonista, Zendaya pode ter garantido sua segunda estatueta no Emmy.
Os fãs acreditavam que Rue morreria nesta temporada por conta das suas escolhas duvidosas, mas o final da personagem foi muito surpreendente. Nos momentos finais do último capítulo, ela diz que está sóbria por um tempo, mesmo que aquela não fosse uma decisão 100% sua. Mas não podemos deixar de lembrar que Rue não é uma narradora confiável, como a mesma revelou ainda no primeiro ano da série.
Se Euphoria não tivesse deixado tantos pontos em abertos, aquele seria um final perfeito para a série. Como a produção já foi renovada para um terceiro ano na HBO, devemos ver consequências para a personagem depois dela ter, praticamente, roubado uma mala de drogas da traficante Laurie (Martha Kelly). Assim também, o futuro de Fezco (Angus Cloud) após a morte de Ashtray (Javon Walton). precisa ser explorado.
O garoto sempre teve essa compulsão em proteger o irmão mais velho, e durante a ação policial em sua casa, ele é baleado na cabeça, após atirar em um deles. O terceiro ano da série deve mostrar como está o emocional de Fezco após a dolorosa morte de seu irmãozinho, já que ele era sua única família.
Maddy, Cassie e Nate
É claro que seria impossível deixar de lado algo tão interessante como a briga entre Maddy (Alexa Demie) e Cassie (Sydney Sweeney). Nada poderia ser mais satisfatório do que Cassie receber o que tanto merecia: apanhar de sua ex-melhor amiga, o maior alívio cômico do episódio final. As atitudes da personagem vivida por Sweenie foram absurdas ao decorrer da temporada, transformando-a na vilã de sua própria narrativa.
Na cena após a briga entre as duas, ficou claro como toda aquela situação deixou de ser sobre a traição de Cassie com Nate (Jacob Elordi), ex-namorado da Maddy, e passou a focar em como a personagem de Demie tentará abrir os olhos da amiga sobre esse garoto tão compulsivo e agressivo que a torturou psicologicamente por tanto tempo. O desligamento emocional de Cassie com Nate será longo. No momento, ela estava vivendo apenas por ele. Mas, com certeza, Maddy não deixará ela de lado na próxima temporada, mesmo que ela tenha machucado seus sentimentos.
Por fim, enquanto esse segundo ano de Euphoria soube explorar os pontos deixados de lado na temporada inicial, ele se perdeu em sua própria narrativa. As possibilidades para o próximo ano são infinitas, já que vimos a personagem principal quebrando barreiras e se tornando parte da estatística que conseguiu se erguer após uma reabilitação, mesmo que de forma muito acelerada. Agora, só nos resta esperar para descobrir rumo da produção no futuro.