Feriado Sangrento merece um lugar entre os grandes slashers de feriados
Novo filme de Eli Roth é garantia de diversão para fãs de Halloween e Pânico
Crítica
A história por trás da criação de Feriado Sangrento é fascinante o suficiente para, muitas vezes, tomar a atenção do filme em si. Eli Roth concebeu o projeto primeiro como um trailer chamado Thanksgiving (título original do longa em inglês), inserido como parte do intervalo entre os dois filmes de Grindhouse, a dobradinha de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez formada por À Prova de Morte e Planeta Terror.
De lá pra cá, fãs de slashers vêm torcendo para que Roth transformasse a prévia em algo maior, e agora o presente chegou. Feriado Sangrento é uma divertida e brutal história de terror que merece um lugar entre os grandes slashers de feriado, como Dia dos Namorados Macabro, Natal Sangrento e, claro, Halloween. Isto não por que ele é inundado de referências a outros títulos, mas por que Roth claramente passou anos pensando em como integrar cada aspecto do Dia de Ação de Graças, segundo ele o último feriado americano sem um terror para chamar de seu, numa sanguinária, maldosa e imensamente violenta montanha russa de gritos e mortes.
Claro, há referências a Pânico, enquadramentos tirados direto de Halloween e outras semelhanças. Como fã dedicado do gênero, o diretor de O Albergue não consegue e nem quer esconder suas influências, mas é na originalidade de suas sequências mais perturbadas, em especial uma envolvendo um forno, e na boa execução dos clichês deste formato, como o assassino mascarado e o mistério em torno de sua identidade, que Roth encontra os ingredientes para fazer de Feriado Sangrento um banquete para quem se delicia nesse tipo de loucura.
A ação começa na madrugada do Dia de Ações de Graça para a Black Friday, quando americanos malucos por Air Fryers lotam lojas de departamento em busca de descontos. Quando o grupo de adolescentes principal — o valentão Evan (Tomaso Sanelli) e sua namorada Gabby (Addison Rae), o divertido Scuba (Gabriel Davenport), a imigrante russa Yulia (Jenna Warren), o arremessador prodígio Bobby (Jalen Thomas Brooks) e sua namorada, nossa protagonista Jessica (Nell Verlaque), filha do dono da loja — entra pelos fundos da Right Mart, loja do pai de Jessica, Thomas (Rick Hoffman) e enfurece a multidão, que decide quebrar os vidros e invadir.
Começa um caos. Na confusão diversas pessoas morrem, incluindo a esposa do gerente Mitch (Ty Olsson) e um segurança local. Bobby quebra o braço e perde seu futuro no baseball profissional, o xerife Eric (Patrick Dempsey) é criticado e assim vai.
Em suma, todos têm motivos para tomar a máscara de John Carver, considerado um dos pais do Dia de Ação de Graças, se vestir como um peregrino e começar a matar os responsáveis pelas mortes e confusão, focando nos adolescentes e em outras figuras-chave. Do corre-corre para comprar os produtos até os alimentos típicos da data, como peru e molho de cranberry, Feriado Sangrento diverte pelo uso criativo de todos esses costumes, mas nenhum supera a concepção do assassino, e de suas ações mortais.
Roth nunca foi tímido na violência, e Feriado Sangrento faz valer a classificação indicativa de 18 anos partindo corpos no meio, decapitando algumas cabeças e moendo outras. Parte do sucesso de slashers vêm do quão inventivas são os cortes e golpes do assassino, e John Carver faz valer sua oportunidade de vingança, culminando numa mesa posta com pesadelos em cada prato.
Mas além de acertar nesse aspecto, Roth também se supera na concepção dos personagens, cada um memorável o suficiente para se destacar dentro do elenco, e da cultura jovem. Se passando em Massachusetts, estado conhecido por seus jovens com atitude e temperamento, Feriado Sangrento encontra uma dinâmica refrescante ao dar agência para os na busca por respostas, e não reduzi-los a vítimas indefesas. Do linguajar com sotaque forte ao uso de redes sociais, o diretor cria um mundo palpável para que o grupo habite, e para que John Carver destrua.
Se essa construção é impecável, então a estrutura é que deixa a desejar. A progressão do roteiro de Roth e Jeff Rendell não evita todos os buracos em seu caminho, e em especial numa transição para o confronto final entre Jessica e Carver, eles precisam dar alguns saltos de lógica para mover as peças até seus devidos lugares.
O texto nunca é inovador, e nem precisa ser. Com o sucesso da direção e a boa química dos atores, basta não distrair e deixar o filme se encontrar. Como muitos terrores, porém, Feriado Sangrento força algumas coisas no terceiro ato, e por mais que a conclusão em si seja empolgante, ela não está a altura dos momentos anteriores.
Ainda assim, a energia gerada por tudo que leva a esse clímax não se perde. A revelação do assassino não vai chocar audiências mais atentas, mas não deixa de oferecer o melhor adversário final para Jessica, que com a ajuda do charme natural de Verlaque se mostra uma boa final girl, e mantém nosso investimento até o rolar dos créditos, claro, deixando uma brechinha para uma continuação.
Não podia ser diferente. Feriado Sangrento tem tudo para se ocupar um espaço no calendário dos fãs de slashers que revisitam certas histórias anualmente. O Dia de Ação de Graças pode não ser tão popular no Brasil, mas quem curte terror agora tem mais um motivo para ser grato.
Feriado Sangrento estreia em 7 de dezembro nos cinemas