Alicia Vikander e Jude Law mantém acesas as chamas de Firebrand, drama de diretor brasileiro - Crítica do Chippu

Alicia Vikander e Jude Law mantém acesas as chamas de Firebrand, drama de diretor brasileiro - Crítica do Chippu

Filme de Karim Aïnouz recebeu oito minutos de palmas em Cannes

Guilherme Jacobs
22 de maio de 2023 - 4 min leitura
Crítica

Dirigido pelo brasileiro Karim Aïnouz, Firebrand começa com uma mensagem relatando como os livros de história são populados por homens e guerra. Depois, sua cinebiografia da rainha Catarina Parr (Alicia Vikander), a sexta esposa do violento e beberrão Henrique VIII (Jude Law, quase irreconhecível) para a Inglaterra nos tempos nos quais a reforma protestante de Lutero e Calvino estava começando a finalmente derrubar o domínio católico no país. Adepta desta nova fé e de seus valores igualitários em segredo, já que publicamente o protestantismo é considerado traição, Catarina talvez não tenha essa perspectiva. Quando, porém, decide sair do conforto do palácio e ajudar uma missionária amiga, Catarina convida a história para sua vida. Ela entra em guerra contra um homem.

É uma guerra travada na troca de olhares, na observação dos arredores. As armas são palavras, e as intenções secretas por trás delas servem de munição. Lançado no Festival de Cannes, Firebrand é dirigido com formalismo mas sem muito tempero por Aïnouz, cujas composições frequentemente beiram o limite entre a realidade e uma pintura. Firebrand é um eficaz e pouco impactante drama histórico elevado por duas atuações primorosas e um banquete audiovisual. O roteiro e a própria direção pouco fazem para elevá-lo. Isso fica por conta de Vikander e Law.

Interpretando Catarina com determinação ferrenha mas um toque caloroso, Vikander segue evoluindo como atriz. Muito celebrada no meio da década 2010, talvez de forma precoce, a atriz tem encontrado maneiras mais naturais de deixar seu charme transparecer independente do tipo de papel. Seja como uma estrela de cinema magnética no Irma Vep da HBO ou como uma rainha de fé, integridade e uma pitada de violência, a sueca é o par perfeito para o glutão de Law justamente por seu oposto. Em conversa com Robert Baratheon, mas dotado do impulso assassino de Joffrey Lannister, seu Henrique VIII gosta de se sentir entretido e não pensa muito antes de matar uma esposa para manter o divertimento.


Catarina é a mais duradoura de suas seis mulheres desde a primeira esposa. Graças à química de Vikander e Law — uma fusão firmada não pelas faíscas de amor que voam de suas interações ou de sua cama, mas sim pelas chamas visíveis em seus olhos e dentes afiados em seus sorrisos — entendemos por quê. Henrique VIII encontrou em Catarina uma adversária. Isso parece lhe dar confiança e rivalidade ao mesmo tempo. A confiança é de que ela não fará besteiras no cargo de regente. A rivalidade aflora quando Catarina decide justamente testar os limites dessa convicção.

Os pormenores desse relacionamento tóxico e como ele eventualmente transborda sem possibilidade de retorno, contudo, são um mérito quase exclusivo dos atores. Nosso conterrâneo, Aïnouz tem uma boa percepção de encenação e sabe como deixar qualquer plano digno de museu. Essa qualidade, porém, impede Firebrand de fluir e crescer. Não há um uma sensação crescente de tensão palpável, e o espírito de fogo presente no casal real diminui ou até se extingue quando a câmara Hélène Louvart os deixa para dar espaço aos príncipes, princesas e nobre da corte.

Felizmente, Vikander e Law nunca deixam as brasas apagarem de vez, e encarnam o embate espiritual e pessoal dessas figuras históricas mesmo quando Firebrand se mostra um típico filme deste gênero e não faz um bom trabalho de comunicar, no texto à direção, para nós a importância dos feitos de Catarina. O filme até nos diz, em seu encerramento, como ela pavimentou o caminho para um reinado sem homens ou guerras. Só acreditamos, porém, porque vimos Vikander.

3/5

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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