Glass Onion: Um Mistério Knives Out é bom na forma, mas peca no conteúdo - Crítica do Chippu

Glass Onion: Um Mistério Knives Out é bom na forma, mas peca no conteúdo - Crítica do Chippu

Uma narrativa em camadas que diverte mais no processo do que na conclusão

Bruno Silva
23 de dezembro de 2022 - 4 min leitura
Crítica

O título de Glass Onion poderia muito bem ser aplicado à carreira de Rian Johnson, cuja especialidade de virar roteiros e mudar os rumos de uma história — muitas vezes à revelia das expectativas de quem assiste — têm se tornado uma marca registrada desde que o cineasta “destruiu a infância” de muita gente com Os Últimos Jedi. Mas em seu mais novo filme, que chegou à Netflix nesta sexta (23), o exercício de descascar a narrativa é mais eficaz pela forma do que pelo seu conteúdo.

A continuação, que eleva Knives Out (ou Entre Facas e Segredos) ao patamar de franquia, traz de volta o detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) a mais uma cena do crime. Porém, a expectativa é invertida: o local é uma ilha paradisíaca e remota no litoral grego onde o excêntrico bilionário da tecnologia Miles Bron (Edward Norton) convida um grupo de amigos para participar de um jogo no qual eles precisarão desvendar o mistério por trás de sua morte.

Mais uma vez com um elenco estrelado, que inclui nomes como Kate Hudson, Janelle Monáe, Dave Bautista, Kathryn Hahn e outros nomes surpresa ao longo do caminho, o longa vai brincando com a ideia de mistério e com a ideia de levar a narrativa a locais inesperados.



Falar muito sobre a trama do filme seria entregar muito, então, antes de deixar quem se interessa para descascar as camadas da narrativa por conta própria, basta dizer que as relações de interesse entre cada um dos envolvidos cria o mesmo clima que se instaurou no primeiro filme, no qual a desconfiança rege cada diálogo e coloca Blanc novamente em uma posição de espectador privilegiado.

Ao mesmo tempo, Johnson também retoma a ideia de comentário social que permeia sua narrativa de mistério, e desta vez as críticas sobre questões migratórias nos Estados Unidos dão lugar à vaidade que une Hollywood ao Vale do Silício, passando por cada arroba com algumas dezenas de milhares de seguidores que está na internet — e o filme vai a caminhos muito distantes para fazer com que a “citação de nomes” te arranque uma risada ou outra.

Mas, como em toda franquia de mistério, é difícil chocar um público que já espera ser surpreso desde os primeiros minutos, e os caminhos que Glass Onion toma para buscar a sensação da primeira vez acabam enfraquecendo a história, especialmente em seus momentos finais, nos quais Rian Johnson parece querer dar uma resposta às frustrações geradas por sua excelência em fazer do anticlímax um ápice da história em si.

Ainda assim, Glass Onion está tão ciente de seus problemas quanto o apuro aguçado de Blanc — e, mais uma vez, Daniel Craig consegue se sobressair com mais uma atuação deliciosa do detetive, ofuscando até mesmo as grandes performances de seus colegas de cena. O que importa, para Rian Johnson, é o processo de remover, camada a camada, as etapas de seu mais novo mistério.

3/5

Nota da Crítica
Bruno Silva

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