Guardiões da Galáxia Vol. 3 é encerramento digno da grandeza de um time improvável da Marvel - Crítica do Chippu

Guardiões da Galáxia Vol. 3 é encerramento digno da grandeza de um time improvável da Marvel - Crítica do Chippu

Em tom de despedida, James Gunn brinca com “estafa” de super-heróis ao trazer grupo autoconsciente do próprio fim

Thiago Romariz
4 de maio de 2023 - 5 min leitura
Crítica

Dez anos atrás, os Guardiões da Galáxia se resumiam a um grupo da terceira divisão da Marvel. Somente fãs ardorosos conheciam Senhor das Estrelas e companhia. A adaptação de James Gunn em 2014 não só foi um sucesso de bilheteria e crítica, como moldou parte do gênero de herói, que viu naquele conjunto desajustado uma possibilidade de brincar com os limites do humor e se afastar do heroísmo clássico de Vingadores e Liga da Justiça. O encerramento dessa jornada toda acontece em Guardiões da Galáxia Vol. 3, que faz um desfecho digno, quase calculado, para um grupo de tanto carisma e identidade, que por vezes transcende as próprias aventuras e coadjuvantes em tela.

Nesta história, após os acontecimentos de Ultimato, os Guardiões vivem na base de Luganenhum e Peter Quill (Chris Pratt) se afoga na bebida para esquecer que a “sua Gamora” (Zoe Saldaña) não existe mais. Enquanto os outros coordenam as tarefas do dia a dia e tentam animar o parceiro que está na fossa, Adam Warlock (Will Poulter), ser dourado e poderoso chega na base para levar Rocket Racoon (Bradley Cooper) para o seu mestre Alto Evolucionário (Chukwudi Iwuji), cientista que também criou o guaxinim no intuito de aperfeiçoar não só ele como qualquer forma de vida — e esta obsessão em achar a “forma ideal” de um ser o faz caçar Rocket o filme inteiro.

Essa jornada aproveita não só para mostrar o passado de Rocket, mas para fechar todos os arcos apresentados ao longo dos outros filmes da equipe. A forma calculada com que Gunn dá espaço para todos os integrantes é uma faca de dois gumes, pois deixa a sensação de completude ao ter uma divisão justa em protagonismo, ao mesmo tempo que estende demais e dilui a força temática do roteiro.

Guardiões, afinal, sempre foi sobre os desajustados e esquecidos que escolhem uma família para si, e no meio de seus defeitos encontram as virtudes que os fazem um grupo coeso apesar das diferenças. Por isso, Rocket, o animal manipulado e genial, sempre foi o centro temático da equipe. Colocá-lo no centro da história é o grande acerto do longa, já que a evolução do personagem é perceptível e se assemelha com a maturidade e mudança de temas que a franquia faz ao longo não só da trilogia, mas de todos os longas da Marvel.


Em termos visuais, Guardiões 3 é um salto impressionante em relação aos anteriores. Gunn brinca ainda mais com efeitos práticos, monta novas criaturas como se estivesse em um universo de Star Wars misturado com terror, e, na parte da ação, inspira-se na agilidade de animes para entregar as melhores cenas de luta de todos os três filmes. A trilha é outro fator que evolui, se é que isso é possível, ao conectar ainda mais a jornada dos heróis às letras. A abertura é um show à parte.

Enquanto isso, Nebulosa (Karen Gillan) representa bem o equilíbrio entre drama, comédia e ação do longa, sendo a co-protagonista mais interessante do filme, com camadas que vão além da piada irônica ou dos saltos mirabolantes nas lutas. Gillian tem, finalmente, espaço para sair dos limites da maquiagem e superar a faceta da vilã em busca de redenção. Mantis (Pom Klementieff) e Drax (Dave Bautista) ficam logo atrás, sendo a dupla de patetas de grande coração necessária para manter o humor non-sense em pauta.

As piadas de duplo sentido continuam, as brigas entre eles não foram embora, mas há uma auto consciência de que o tempo daquela patota de heróis passou, e não tem como seguir caminho com os mesmos trejeitos ou faces. Até a “nova” Gamora não suporta mais a interação entre eles, mas no fim das contas se rende ao amor que existe ali dentro. E essa forma rabugenta de olhar os Guardiões é quase como uma piscadela para os fãs do gênero, que sentem a estafa, mas que se entregam ao caloroso abraço de uma árvore gigante e um guaxinim no fim de mais uma aventura.

4/5

Post originalmente publicado em 28 de abril

Nota da Crítica
Thiago Romariz

0h 0min
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