Halo encanta com efeitos especiais de cinema, mas precisa melhorar roteiro - Primeiras Impressões

Halo encanta com efeitos especiais de cinema, mas precisa melhorar roteiro - Primeiras Impressões

Série estreia nesta quinta-feira (24) no Paramount+

Thiago Romariz
24 de março de 2022 - 7 min leitura
Crítica

Na era moderna dos games, Halo talvez seja a franquia que cresceu mais rápido e trouxe um console junto, o Xbox. A marca vai além do jogo em si e explora mídias desde sempre, contando a história criada pela Bungie há 21 anos, mas faltava uma versão com atores em nível hollywoodiano de produção - e este momento chegou. Depois de alguns bons anos em produção, a série de TV foi tomada pela Paramount e ganhou vida no serviço de streaming da empresa, que nos liberou os dois primeiros episódios desta nova saga do Master Chief.


Quando eu digo nova saga, é para reforçar a ideia de uma nova linha do tempo na franquia. Ainda que o roteiro se inspire e respeite toda mitologia dos games, a ideia aqui é criar uma nova jornada para as clássicas raças e personagens que milhares de fãs acompanham no Xbox e PC. Em resumo, a galáxia passa por uma guerra civil entre a United Nations Space Command (UNSC), uma espécie de governo mundial, e um grupos de insurgentes em planetas que são colonizados. Esse é o cenário básico, que traz consigo as teorias de conspiração clássicas no âmbito político aqui potencializadas pela presença dos recém-descobertos Covenant, uma raça alienígena predatória.


Neste meio, temos os Spartans, super soldados geneticamente modificados que ajudam a manter colônias em paz e também a eliminar ameaças externas. O principal deles é Master Chief, ou John (Pablo Schreiber), que além de liderar um grupo é também o sujeito que numa missão toca em um misterioso artefato e começa a lembrar de um passado pré-Spartan. Este é o gatilho para a série explorar o passado de John e misturar a história dele com a conspiração por trás da guerra civil entre UNSC, terráqueos e os Covenant - sem esquecer de montar uma figura de escolhido e guardião em Chief ao mesmo tempo, já que ele é responsável pela jovem Ha, única sobrevivente do último ataque alienígena.


Quão fiel é a série?


Nesta era de adaptações de games e quadrinhos, um dos quesitos mais importantes para a base de fãs é a fidelidade. Eu não sou o maior defensor desse princípio em adaptações, mas é inegável que ela atrai um público cativo - e no caso de Halo, ainda que existam mudanças, dá pra sentir que a produção é devota à obra da Bungie. Do visual impecável dos personagens até a trilha sonora replicada dos games, tudo em Halo da Paramount+ é tão parecido com os jogos que por vezes você procura um controle para acionar Chief e lutar contra inimigos.


O valor de produção, para falar na língua de Hollywood, é impressionante. Vemos aqui uma série que poderia com tranquilidade ser um filme de alto orçamento e com efeitos melhores do que muito longa da Marvel, séries da HBO ou Netflix. As atuações também não ficam para trás, e todo elenco principal e de apoio estão no nível de boas empreitadas destes concorrentes e compõem muito bem o universo aqui sugerido. E de novo, todo mundo é tão parecido com Halo original que na cabeça de alguém que jogou ao menos um episódio da franquia vai sentir uma estranheza em determinados cenários. "Isso é uma cutscene ou uma série?", eu me perguntei algumas vezes.


Mas a série é boa?


A questão, porém, é que fidelidade e visual são apenas alguns dos pilares para montar uma série de qualidade. O outro, e talvez mais importante parte destes pilares, é o roteiro que adapta a história. E neste cenário, Halo faz escolhas interessantes e algumas pouco inspiradas. Começando pelas piores, podemos dizer que o texto de Kyle Killen e Steven Kane traça a jornada de Chief de uma forma genérica como qualquer outro escolhido mascarado da cultura pop - e o pior, eles tiram a máscara dele logo no primeiro episódio. A ideia é humanizar e tornar a série ainda mais distante dos games em termos de jornada, mas este movimento vai a história ficar quase idêntica a coisas como Mandaloriano ou Logan - nisso, além de ficar pouco envolvente, se torna algo previsível para quem não conhece a complexidade de Halo.


Por falar nesta complexidade, vemos que uma avalanche de informações é despejada logo nos dois primeiros episódios. Killen e Kane vão aos poucos dissecando conceitos, mas não fazem questão de explicar minuciosamente tudo que acontece ao mesmo tempo que dá a Chief espaço suficiente para evoluir uma jornada pessoal. É evidente a tentativa de equilibrar estes dois lados da história, a política e o herói, e ao menos neste começo o objetivo é alcançado ainda que a qualidade dos pontos de virada seja apenas mediana. Por mais impressionante que seja o visual e o início de Halo, existe um gosto genérico no final de cada episódio, assim como uma esperança de que John vá além do herói turrão e carismático. É corajosa a atitude de tirar o capacete de um protagonista conhecido por viver com ele, mas este impacto por si não é suficiente, a série precisa e pode ir além.

Nota da Crítica
Thiago Romariz

0h 0min
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