Hit Man é comédia feita sob medida para Glen Powell virar um astro - e não vai muito além disso
Richard Linklater, de Boyhood e Antes do Amanhecer, dirige comédia exibida no Festival de Toronto 2023
Crítica
Certos filmes são feitos para atores específicos brilharem, seja em bilheteria, seja em premiações. Margot Robbie teve Eu, Tonya. Leonardo DiCaprio ganhou Titanic. Will Smith recebeu Independence Day, Lupita Nyong'o protagonizou 12 Anos de Escravidão, e agora Glen Powell é o grande nome em Hit Man, filme de Richard Linklater exibido no Festival de Toronto 2023.
Depois de aparecer em Top Gun: Maverick e Irmãos de Honra, o ator lidera uma comédia construída sob medida para tornar seu protagonista tudo que um astro de Hollywood precisa ser: misterioso, bonito, carismático, amante de pets e, no fim das contas, um cara de ótimo humor.
O que ajuda muito nessa composição, além do evidente talento de Powell, é a direção leve e sem devaneios existenciais de Linklater, que aqui volta aos seus tempos de Jovens, Loucos e Rebeldes. Por mais que discuta psicologia e filosofia em alguns momentos, o cineasta está muito mais interessado em criar um romance que tenha uma aura sexy e engraçada, sem parecer gratuito ou escrachado demais. Hit Man se posiciona bem num lugar onde não se leva a sério o suficiente para rir de piadas bobas, nem se torna leviano ao ponto de esquecer os riscos que a trama impõe para que o espectador se conecte com a história.
O roteiro, baseado em fatos, conta a história do professor introspectivo Gary Johnson, que sai também tem um trabalho como agente da polícia disfarçado de "assassino de aluguel". Nesta situação, Powell (que é autor do roteiro com Linklater) constrói várias personalidades para atrair os suspeitos e levá-los à prisão por arquitetar um crime que, graças a ele, não é cometido - perucas, dentes falsos, roupas bizarras e até novos sotaques são as armas do personagem, que acertadamente mal pega em uma arma.
O ator brilha em cada uma das personalidades e constrói uma química interessante com Maddy, vivida por uma carismática Adria Arjona. E a base do filme é literalmente essa relação, que explora o pilar da sexualidade de ambos e o timing de comédia romântica conhecida na carreira de Linklater.
Os acertos de Linklater estão muito pautados pela ideia de excluir completamente a violência do quadro, ao mesmo tempo que torna a atração de ambos forte o suficiente para que o espectador acompanhe a trama com interesse até o fim. Por outro lado, a falta de espaço para a personagem de Arjona e a rapidez com que lida com o clímax tira um pouco do peso da história - à parte as cenas do casal, há pouco de memorável em Hit Man. O mesmo, porém, não pode-se dizer para Powell, que detém quase que 100% do tempo de tela e o usa de todas as maneiras possíveis para comprovar quão versátil pode ser, mesmo que dentro de um escopo confortável. Não é um Fragmentado ou Suspeitos, mas certamente será o suficiente para mudar o patamar do ator em Hollywood.