In the Summers: Vencedor do Festival de Sundance não tira proveito de sua estrutura ou elenco

In the Summers: Vencedor do Festival de Sundance não tira proveito de sua estrutura ou elenco

Premiado pelo júri do festival, filme de Alessandra Lacorazza não oferece muito além do básico

Guilherme Jacobs
29 de janeiro de 2024 - 5 min leitura
Crítica

Não faltam filmes de amadurecimento no Festival de Sundance. Só este ano tivemos exemplos como o ótimo Good One e o competente Suncoast. Por isso, não é exatamente surpresa ver um destes títulos levando o principal prêmio do evento, o troféu do júri americano, mas se estes dois trabalharam suas premissas com excelência ou especificidadeIn the Summers parece destinado a virar o exemplo de como, mesmo em festivais, há fórmulas conhecidas e batidas.

Situado em quatro verões importantes para Eva e Violeta (interpretadas nas versões mais velhas por Sacha Calle e Lio Mehiel), o filme de Alessandra Lacorazza usa a compressão temporal para identificar e dramatizar o relacionamento das duas irmãs com o pai, o atrapalhado, esforçado e esquentado Vincente (René Pérez Joglar, mais conhecido como Residente, vocalista da banda Calle 13). A estrutura confere ao filme a oportunidade de executar seu arco de maneira interessante; destacando as mudanças na personalidade dos três personagens com o passar dos anos e encontrando o vai-e-vem inerente à criação de expectativas e decepção subsequente quanto à figura paterna.

Mas ao fim do filme, Lacorazza não consegue aproveitar o conceito para além do sucesso básico de ter uma atuação magnética em Residente e um roteiro cuja própria organização facilita o processo de vermos duas jovens amadurecendo. In the Summers está longe de ser um filme ruim, mas apesar de tratar de uma cultura singular com protagonistas porto-riquenhos e se apresentar de maneira tão única, não há nada ali que realmente nos leve além do superficial.

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Claro, há cenas e momentos, particularmente nas seções com as meninas mais novas, que comunicam bem a dificuldade de não encontrar em seus pais a resposta necessária para seus sentimentos e sonhos, mas é difícil identificar qualquer particularidade nas figuras de In the Summers depois que passamos pelas introduções básicas. Eva sai da mais carinhosa para, aos poucos, a mais fria e distante das irmãs sem que isso seja explorado emocionalmente, e Violeta jamais escapa de duas definições básicas: ela é lésbica, e sofre um acidente de carro. Nenhum desses elementos é investigado. Eles apenas acontecem à elas.

Lacorazza, para seu crédito, se mostra constantemente capaz de capturar a natureza passageira do tempo, e confere à cada verão características efêmeras de memórias distantes e definidoras; episódios para os quais Eva e Violeta sempre retornarão durante suas vidas. Isso, junto com o ritmo que o roteiro alcança ao se formatar com capítulos, dá ao filme uma sensação de mobilidade. Estamos sempre andando pra frente, e as vidas estão sempre mudando.

É na hora de examinar o que exatamente mudou que In the Summers deixa a desejar. Por mais que as circunstâncias estejam diferentes, e as posições dos personagens dentro da família passem por alterações, Lacorazza não gasta muita energia com o interior das vidas afetadas por essa jornada. Cumprimos os requisitos, indo da infância ao começo da maturidade, e vemos Vincente desapontando suas filhas no processo, mas como elas processam esse sentimento? E como ele processa as reações delas?

São essas perguntas que o filme levanta, mas não tenta responder. Elas surgem naturalmente, e são deixadas no ar até o fim, quando sem grandes gestos, deixamos a família de Eva e Violeta para trás com a sensação de que os eventos mais interessantes destes anos ficaram nos elipses entre um e outro parágrafo encenado pela diretora.

A conclusão de In the Summers se beneficia por ter atrizes mais maduras nos papéis principais, capazes de preencher os vazios do roteiro com um olhar distante ou uma linguagem corporal reveladora, mas há uma falta perceptível de definição quanto às duas. Lacorazza parece ter encontrado o formato certo, preenchido ele com a atmosfera ideal, e deixado as pessoas no centro da trama de lado.

Eva, Violeta e Vincente são simplesmente o que In the Summers precisar para o momento. Como eles se tornaram isso, como respondem a isso, ou como se sentem diante disso, é o que impede o filme de se tornar algo a mais do que a soma de suas partes.

Nota da Crítica
EstrelasEstrelasEstrelasEstrelasEstrelas
Guilherme Jacobs

In the Summers

Drama
1h 38min | 2024
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