Invencível sobe de nível em ótima segunda temporada

Invencível sobe de nível em ótima segunda temporada

Melhorando tanto a qualidade da animação quanto o texto, o que já era bom fica ainda melhor na animação do Prime Video

Guilherme Jacobs
30 de outubro de 2023 - 5 min leitura
Crítica

Eu presto muita atenção em como filmes e séries usam músicas, especialmente de uma banda que amo como Radiohead (não à toa eu escrevi milhares de palavras sobre como O Urso usou "Let Down"), então quando Invencível decidiu jogar "Karma Police" nos primeiros minutos da segunda temporada, não é exagero dizer que eu prestei ainda mais atenção. Tipicamente, a forma como uma história incorpora músicas icônicas e profundas diz muito sobre suas qualidades (ou defeitos).

A cena vem logo no comecinho do primeiro episódio, que chega ao Prime Video no dia 3 de novembro, e "Karma Police" — provavelmente a música mais marcante de OK Computer — sublinha uma montagem na qual Mark Grayson (Steven Yeun) retorna às atividades heroicas após a brutal luta contra seu pai, Nolan (J.K. Simmons) no fim da primeira temporada. Fisicamente recuperado, Mark ainda está visivelmente afetado pela revelação de que o grande Omni-Man na verdade era um conquistador buscando adicionar a Terra ao Império Viltrumita. A antes eletrizante experiência de salvar pessoas parece ter virado uma punição.

Seja porque não impediu o pai de cometer atrocidades ou por que se sente diretamente responsável pela morte de centenas, Mark vê o que antes era um privilégio se tornar karma. Ele acredita que precisa fazer isso para se justificar. Se "Karma Police" conta com um narrador denunciando alguém, aqui Mark é tanto o acusado quanto o acusador.

Essa é a conexão temática que não só justifica o uso da música, como também demonstra a noção narrativa que a equipe por trás dessa divertida e genuinamente envolvente animação. Não é novidade para ninguém que as adaptações de quadrinhos tendem a buscar a construção de universo tanto quanto o desenvolvimento de personagens (ou até mais), levando em consideração a preparação de uma continuação ou derivado com um cuidado maior até do que o fechamento de um arco.

É diferente, porém, com as produções de Seth Rogen. Entre The Boys, o novo Tartarugas Ninja e especialmente Invencível, Rogen está se revelando um inesperado mas importante antídoto para o momento atual. Junto com a equipe de roteiristas liderada pelo showrunner Simon Racioppa e pelo autor das HQs, Robert Kirman, eles colocam o crescimento de Mark, de Eve Atômica (Gillian Jacobs), de Debbie Grayson (Sandra Oh), dos Guardiões do Globo e até de Nolan como única prioridade. Muito foi dito sobre a elevação da qualidade de animação na segunda temporada, mas é no texto onde Invencível realmente subiu de nível.

Assim como vimos na estreia da série em 2021, a segunda temporada — que será dividida com os quatro episódios que vimos este ano, terminando em 24 de novembro, e retornando no começo de 2024 — tem um ótimo senso de timing; muitas vezes apresentando e fechando um dilema ou acontecimento num episódio só, diferente de outras séries de heróis arrastariam a ideia por uma temporada inteira. Com isso, cada capítulo parece uma refeição cheia, e a série nunca dá a impressão de estar enchendo linguiça só para alcançar um número específico de episódios.

Afinal de contas, em animação, cada frame tipicamente requer ainda mais recursos, dinheiro e esforço. Completar um capítulo é um feito. A equipe de Invencível aproveita cada minuto, sabendo destacar os momentos mais empolgantes e emocionais e trabalhando com o ótimo design de personagens originário dos quadrinhos para que seu mundo seja sempre refrescante e inovador.

Ainda há alguns exemplos de cenas mais travadas, onde a limitação de orçamento e tempo provavelmente impediu o time de animadores de fazer o melhor trabalho possível e a composição é pouco inspirada, mas em contrapartida, grandes confrontos ou diálogos relevantes são animados com cuidado e frequentemente com muito sangue. Eu ainda acho que a violência, em algumas instâncias, é mais prejudicial do que benéfica, nos tirando da história ao invés de potencializar as emoções, mas não há como negar que a disposição de Invencível de realmente machucar confere aos embates mais brutais um peso inexistente em algumas lutas de heróis.

Isso é melhor visto nos terceiros e quartos episódios desta temporada. O encerramento dessa primeira parte eleva todos os riscos e move o enredo para um território desconhecido e repleto de potencial. Veremos se Invencível conseguirá manter essa excelência quando a série retornar em 2024, mas olhando para como Rogen, Racioppa e Kirkman estão tratando o material, é difícil não ter fé. Talvez eles sejam mesmo invencíveis.

Nota da Crítica
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Guilherme Jacobs
ONDE ASSISTIR

Invencível

Animação
Comédia
0h 42min | 2021
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