SXSW | John Wick 4 alcança outro patamar de ação com antagonista perfeito de Donnie Yen - Crítica do Chippu
Simplificando abordagem com a mitologia e contando com a mão forte de Keanu Reeves para guiar ação, filme tem sequências inacreditáveis de luta
Crítica
SXSW: John Wick sempre foi um homem de poucas palavras, mas nunca tão poucas como em John Wick 4: Baba Yaga. A agora franquia da Lionsgate, prestes a ganhar derivados no cinema e televisão, chega ao seu quarto capítulo com foco completo na ação, deixando um pouco de lado a construção de mitologia dos filmes anteriores e acertadamente simplificando a história do protagonista aos seus movimentos e sacrifícios. Keanu Reeves não deve ter falas com mais de meia dúzia de palavras no filme. Quase sempre é monossilábico, ele domina por completo a tela quando entra em ação - e vê seus coadjuvantes melhorarem ainda mais, pois a adição de Donnie Yen é perfeita.
Nesta nova etapa, Wick é caçado por um francês meticuloso e conectado com a Alta Cúpula, organização que gerencia o código dos assassinos neste mundo de fantasia criado por Derek Kolstad. O personagem interpretado por Bill Skarsgard está longe da caricatura ameaçadora que o ator visa em seu trabalho, mas com o auxílio de peso do design de produção e figurino, o lorde que ao menos não atrapalha a evolução da história.
A melhor parte do vilão, na verdade, é a contratação de seus assassinos de aluguel, entre eles, Caine, vivido por Donnie Yen. Gênio das artes marciais, o ator chinês alcança o equilíbrio perfeito para ser o anti-herói a rivalizar com Wick. Em cena, Yen entrega não só na atuação dramática, como nas coreografias que aliam ação, humor e estilo, moldando um personagem que deve ganhar um filme derivado em breve, caso este faça sucesso.
Essa combinação de humor e ação ganha outra conotação nas mãos do diretor Chad Stahelski, voltando ao comando da franquia. Ele deixa a ação falar pelos personagens. Stahelski não apressa nem os momentos de reflexão entre combatentes e deixa claro que a jornada pela qual Wick está passando é uma que envolve sacrifício, mas também prazer.
A forma como ele filma as sequências de luta e embaralha os inimigos dentro do quadro para deixar Keanu Reeves controlar o ritmo, seja com golpes, seja com olhares, é o cerne de um filme que respira pelo não-falado, e existe pelo movimento. A velocidade de Caine com a espada, o amor de Wick pela pistola e a conexão de Tracker (Shamier Anderson) com o cachorro são histórias que trabalham praticamente apenas na ausência de diálogos, e se a ação não falasse por elas, talvez John Wick fosse apenas um simples filme de porradaria e explosões. Graças, porém, à porradaria e explosões, ele é muito mais.
As quase três horas de duração podem parecer um problema, e de fato a história se arrasta mais do que o necessário, mesmo sendo mais simples que uma sinopse. Acontece, porém, que quando John Wick 4 mergulha na ação, e o faz na maioria de seus minutos, o filme propõe outro patamar de excelência. Mesmo que Stahelski use um formato de narrativa simplório super inspirado em games, onde missões e chefões são jogados ao longo de uma aventura com destino final, são poucos os filmes capazes de agregar carisma e primor técnico como este.
No fim das contas, será difícil escolher a melhor cena de John Wick 4. Não só porque ele é extenso demais, tem missões e inimigos demais; é difícil porquê provavelmente um punhado delas entrarão em listas de cenas de ação mais incríveis já feitas.
4/5
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