Lobos: Austin Abrams tira Brad Pitt e George Clooney do piloto automático em comédia de ação sem novidades
Astros se reencontram em história batida sobre lobos solitários
Crítica
Imagina você ter dois dos maiores astros de Hollywood na mão, daqueles que vendem até café em cápsula apenas com um sorriso ou uma frase de efeito dentro de um cenário bonito? Agora, imagina que a sua história dependa de um terceiro personagem, quase um coadjuvante, alguém pouco conhecido, para fazer com que esses dois astros finalmente brilhem na história. E isso lá pela metade do filme.
Lobos, o novo filme de Jon Watts, diretor da trilogia Homem-Aranha com Tom Holland, distribuído pela Apple e estrelado por George Clooney e Brad Pitt, perde cerca de 40 minutos se apoiando apenas no carisma dos dois, mas sem nunca conseguir de fato, tirá-los do piloto automático. A história mostra dois “solucionadores de problemas”, que acabam no mesmo caso: encobrir uma possível morte atrelada a uma importante figura pública de Nova York. Cada um foi contratado por uma pessoa, Clooney pela personagem de Amy Ryan, que estava com o jovem no quarto, e Pitt pela própria administração do local, que não quer problemas em suas instalações luxuosas. Os dois, rivais no trabalho (por acharem que são os melhores), acabam juntos tendo que se livrar do corpo (e das drogas que ele carrega), que logo mostra não estar tão morto assim.
Jon Watts até tenta emular uma dinâmica à la Steven Soderbergh no início do filme, aproveitando o trabalho de Clooney e Pitt na série 11 Homens e um Segredo, mas não há nenhum tipo de novidade ou algo a mais que nos faça ter interesse pelos personagens. Do design, ambos com roupas escuras - e a piada de se vestirem igual - ao modo como eles agem ou trocam farpas, não há nenhum tipo de originalidade na forma como o diretor dirige seus astros. Pitt repete o que faz em filmes recentes, como Trem Bala, Babilônia, ou qualquer outro dos seus vários papéis de galã-sarcástico em cenas de ação. O mesmo serve para Clooney, que repete as caras bobas ou de surpresa de personagens de Bilhete para o Paraíso ou o Baird Whitlock, de Salve, César!, por exemplo. Além disso, toda a primeira parte do filme é cheia de piadas prontas sobre rivalidade e etarismo, que já vimos em diversos buddy movies.
A coisa muda quando entra na fórmula o personagem de Austin Abrams, de Dash & Lily, Euphoria e This is Us. A adição do jovem, que na trama também caiu em uma furada, assim como os “lobos”, é o elemento “novidade” que falta na dupla de astros. Abrams é ótimo ao encarnar o jovem ansioso e ingênuo, que precisa terminar um serviço ao lado dos veteranos que querem apenas se livrar dele. As cenas dos três em um motel e em uma festa de casamento são impagáveis. Abrams faz a escada perfeita para que Clooney e Pitt tenham boas reações e seus personagens ganhem algum propósito. E mesmo quando Watts tenta pesar a mão no drama no terceiro ato, ainda assim fica mais fácil de acompanhar a trama, sem a vergonha alheia da primeira parte.
O diretor também não cria muito em termos de ação, além de uma grande cena de perseguição. Mesmo longa e escura demais, Watts ainda consegue trabalhar diferentes aspectos, misturando as sequências com carro, perseguição a pé, comédia corporal e até uma cômica cena em slow motion - que infelizmente o trailer estraga -, que funcionam bem juntas.
Em Lobos, Jon Watts tenta passear entre Soderbergh, Quentin Tarantino e Shane Black, mas nunca consegue extrair da sua dupla principal algo realmente carismático. Falta originalidade, personalidade e timing. Mesmo que Austin Adams salve o filme de ser um fiasco completo, ainda assim, esse terceiro elemento não é novidade. Joe Pesci já fazia isso em Máquina Mortífera 2 e 3 há mais de 30 anos. Angourie Rice repete (e muito bem) a fórmula no ótimo Dois Caras Legais, com Russell Crowe e Ryan Gosling, um filme que merecia mais atenção e até uma nova chance de sequência.
Sequência essa que Lobos aparentemente já garantiu, mesmo sem motivo aparente. Uma piada quase tão sem graça quanto boa parte do filme.