Loki vai te lembrar por que você se apaixonou pelo MCU com ótima segunda temporada

Loki vai te lembrar por que você se apaixonou pelo MCU com ótima segunda temporada

Com elenco carismático e uma história que nunca sacrifica seus personagens pelo futuro do MCU, série retorna sem perder a qualidade

Guilherme Jacobs
3 de outubro de 2023 - 8 min leitura
Crítica

Muito se debate hoje em dia sobre a "crise no Marvel Studios." Seja em termos financeiros, criativos ou culturais, a posição do MCU no entretenimento não é mais a mesma, e a mídia (incluo, aqui, eu mesmo) adora debater a razão disso. É a quantidade de produções? É a qualidade das produções? Ou é só por que nós, a audiência coletiva de todo o mundo, quer outra coisa? Seja qual for a resposta, a discussão seria bem menos relevante se tudo fosse como Loki.

Assim como o primeiro ano, sem dúvidas o melhor exemplo (junto com WandaVision, mas com um final melhor) do que o MCU pode ser no Disney+, a segunda temporada da série sobre o deus da trapaça que há muito deixou de ser o vilão visto na Fase 1 é um lembrete gigantesco do que fez dessa empreitada um sucesso para começo de conversa.

Com um elenco que preenche quase todo papel com alguém repleto de charme carisma; com uma história que parece genuinamente essencial para o progresso da narrativa maior mas que nunca sacrifica seus personagens e temas em favor disso; com um ritmo agradável que aproveita cada piada não só para inserir uma dose obrigatória de humor, mas também para refletir a personalidade de alguém, Loki tem tudo.

O showrunner Michael Waldron e companhia fazem parecer fácil. Apesar de ser crítico da iniciativa de séries da Marvel no Disney+, eu não acho que algumas das produções mais criticadas (Ms. Marvel, Mulher-Hulk, What If) são ruins* como a internet gosta de afirmar, mas não há dúvidas que a máquina bem montada de Kevin Feige simplesmente não sabe fazer televisão. A maior parte dos lançamentos em streaming parece um filme com cada um de seus três atos esticado até o limite, episódios descartáveis, muita enrolação e finais repletos de CGI questionável e vazios de impacto dramático.

*Não posso dizer o mesmo para Cavaleiro da Lua, Gavião Arqueiro e Invasão Secreta, que começa bem e desanda totalmente.

Não foi o caso com a primeira temporada de Loki, cujo final foi e ainda é o momento mais impactante da Saga do Multiverso até agora, e com base nos quatro episódios (de seis) que já vimos, não é o caso com a sequência que chega ao Disney+ nesta quinta-feira (5).

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Continuando imediatamente de onde "Por Todo Tempo. Sempre" terminou, os novos episódios são frenéticos, empolgantes e possuídos de um senso de direção e certeza ausentes nos blockbusters de heróis modernos. Tudo começa com Loki (Tom Hiddleston) chutado por uma porta temporal por Sylvie (Sophia DiMartino) enquanto ela mata Aquele Que Permanece (Jonathan Majors, que filmou suas cenas na nova temporada antes das polêmicas) e caindo numa TVA cheia de imagens de Kang e onde nem Mobius (Owen Wilson) o reconhece.

A revelação de onde (ou melhor, quando) ele está é a primeira de muitas regras que Waldron estabeleceu na primeira temporada só para quebrar agora. A morte de Aquele Que Permanece, as revelações sobre os Guardiões do Tempo (meros fantoches) e agentes da TVA (variantes de linhas do tempo podadas) bagunçam de vez o tabuleiro. Tudo é possível agora, e o céu está caindo... ou talvez não. As novas linhas do tempo não destruíram a linha do tempo sagrada (ainda), e o primeiro encontro de Loki e Mobius com uma variante de Kang, Victor Timely, sugere que nem toda versão desse ser será um destruidor de mundos.

(Esse é um bom momento para abordarmos o elefante na sala. Jonathan Majors está muito presente na temporada, especialmente no episódio 3, e não há como fingir que não há estranheza no meio disso tudo. Majors está enfrentando graves acusações, e saber disso vai sem dúvidas gerar um sentimento de incomodo mesmo em meio a sua atuação, que é inegavelmente de primeira. A temporada foi gravada antes das acusações virem à tona, e sua presença é grande demais para fazer mudanças com CGI, colocar outro ator ou algo do tipo. Veremos como os próximos filmes do MCU o tratam, mas não há como culpar Waldron e Feige aqui.)

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Cria-se uma sensação de imprevisibilidade e caos, e não há ambiente melhor para colocar o personagem mais repentino da Marvel. Hiddleston nos captura com um sorriso, e seu charme é ainda mais eficaz quando colocado ao lado da simpatia de Wilson. A nova temporada tem várias ideias e propostas — uma das maiores é: para os agentes da TVA, é melhor saber como era sua vida antes, ou não? — mas em meio a tanto conceito cabeçudo de viagem temporal, dimensões paralelas e, claro, multiverso, Loki e Mobius são um centro para onde Waldron sempre volta.

Há, ainda mais do que antes, uma dinâmica de "buddy cop." Eles são parceiros. Sentam à mesa para analisar pistas, vão à cafeteria para um lanchinho e andam juntos pela cena dos crimes do futuro trocando faíscas, piadas e elogios relutantes. Como detetives, há o impulsivo e o cuidadoso, o maldoso e o bonzinho, o quebra-regras e o certinho. A única forma de melhorar essa dinâmica é colocando alguém tão bom quanto eles no meio, e Loki consegue isso com a presença de Ouroboros, ou OB, interpretado por Ke Huy Quan.

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O vencedor do Oscar é uma espécie de "cara da tecnologia" e homem de reparos da TVA, e seu humor indiferente mas leve confere à dinâmica entre os personagens mais uma camada de cor e texturas. A cena na qual Loki o conhece no primeiro episódio é das coisas mais engraçadas que a Marvel fez em anos recentes.

Há revelações chocantes, reviravoltas significativas e sinais apontando para o futuro do universo Marvel, mas tudo isso é subserviente à história sendo contada aqui. Loki é uma peça fundamental para a construção da Saga do Multiverso, mas Loki não é apenas uma peça. Sim, há fanservice, material para teorias e coisas do tipo, mas é nossa conexão com Loki, Mobius, OB e Sylvie que nos faz, episódio após episódio, sorrir e entristecer.

A Marvel está sabiamente transformando a TVA em um condutor para levar-nos até Guerras Secretas (também escrito por Waldron), mas isso não está acontecendo por mera conveniência multiversal. A história de Loki e da TVA é simplesmente a melhor do universo Marvel pós-Ultimato, e isso continua na segunda temporada.

Nota da Crítica
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Guilherme Jacobs
ONDE ASSISTIR

Loki

Drama
Ficção científica
0h 0min
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