Love Me: Kristen Stewart e Steven Yeun lutam para acender as faíscas no romance entre IAs

Love Me: Kristen Stewart e Steven Yeun lutam para acender as faíscas no romance entre IAs

Dirigido e escrito pelo casal Sam e Andy Zuchero, filme imagina romance entre duas inteligências artificiais

Guilherme Jacobs
26 de janeiro de 2024 - 5 min leitura
Crítica

Se passando ao longo de milhões de anos, mas voando na velocidade da luz para seus personagens, Love Me começa com uma rápida montagem que mostra o passar das eras no planeta Terra, destacando o quão passageiro é o tempo da humanidade antes que um evento de extinção nos apague do mapa. Em nosso lugar, o casal de diretores Sam & Andy Zuchero busca imaginar um novo tipo de amor. As inteligências artificiais de uma boia e de um satélite começam um romance; o problema é que eles não tem referência para esse tipo de relacionamento a não ser a internet.

É um conceito curioso, e em parte bem explorado pelos Zucheros num roteiro que busca imaginar o efeito das últimas criações deixadas pela humanidade antes de seu fim imaginário, em 2027. Ou seja, na hora de buscar referências para amor e companheirismos, esses computadores equipados com ferramentas de pesquisas se deparam com influencers no Instagram e criadores de YouTube cuja superficialidade oferece apenas um ideal inalcançável do que é viver.

A boia (Kristen Stewart), que passa a se chamar de Me (Eu) vê o andar dos séculos sozinha nos oceanos congelados da superfície, e agarra qualquer chance de conversar com o satélite (Steven Yeun), a quem ela dá o nome de Iam (Eusou), e com quem ela inicia uma amizade. Os dois rapidamente se veem atraídos pela companhia, e aos poucos dão passos para algo a mais. Na hora de escolher suas imagens, entender como passar o (muito) tempo juntos, eles se veem limitados a fontes de informação profundamente falhas, e logo a última paquera da história começa a dar errado.

Rapidamente percebemos a quantidade de pensamentos voando na cabeça dos Zucheros. A começar pelo entendimento de que IAs, por mais badaladas que sejam no momento, não possuem um fio de originalidade e jamais poderão cria algo verdadeiro sozinhos, os diretores inserem temas e ideias relevantes a praticamente cada cena. Das imagens falsas que criamos para redes sociais a debates filosóficos inicialmente incompreendidos por Me e Iam, Love me parece reunir quase todo tópico debatido no momento e comprimi-los em 90 minutos. É uma proposta ousada, mas adequada, bilhões de anos são dramatizados até o rolar dos créditos.

Para os créditos dos diretores, boa parte disso é apresentada de maneira lúdica e criativa, a começar pelo design físico da boia e do satélite, feitos pelo talentoso time da Laird FX, a dupla aos poucos constrói o desenvolvimento de ambos softwares, deixando sempre claro quais são as influências moldando suas personalidades. Infelizmente, depois desse começo até fofo, o filme adota uma linguagem visual meio metaverso, onde avatares de Stewart e Yeun viram representações dos robôs apaixonados, e entra num ciclo tedioso e repetitivo.

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É intencional. Me se vê presa à rotina dos influencers que assistiu (também vividos por Stewart e Yeun) e não para de reproduzir a rotina do "encontro perfeito" filmado pelos dois. A piada é que, por mais que seja artificial, Iam quer alguma autenticidade na vida. Ele começa a perceber que precisa de algo mais genuíno para se sentir vivo e amado. Há algo interessante por trás do miolo do filme, mas o texto se reduz a uma série de afirmações ou perguntas jogadas com pouca conexão dramática. O visual dessa sequência, uma espécie de animação Memoji, é tão cansativo e chato que qualquer tentativa, por mais bem-humorada ou inteligente, de comunicar as mudanças pelos quais o casal passa se torna entediante.

Felizmente, o terceiro ato enfim nos dá os atores em toda sua glória. Stewart e Yeun compensam, e muito, as limitações dos diretores na hora de traduzir sua imaginação para algo visual ou textual, encontrando numa intensa troca de olhares a fisicalidade sexual que avatares e IAs nunca terão. A química entre os dois eletriza a reta final de Love Me, e se o dano feito pela seção anterior não fosse tão grande, as grandes emoções buscadas pelos Zucheros encontrariam o destino que busca.

É irônico, até. Love Me é um filme sobre a procura pela linguagem do amor e da vida por duas entidades computacionais, e assim como eles, o longa só encontra a resposta quando há humanos em tela.

Crítica escrita em 26 de janeiro como parte do Festival de Sundance. Love Me não tem data de estreia no Brasil ainda.

Nota da Crítica
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Guilherme Jacobs

Love Me (2024)

1h 32min | 2024
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