Luther: O Cair da Noite vai satisfazer fãs da série de Idris Elba, mas pouco mais - Crítica do Chippu

Luther: O Cair da Noite vai satisfazer fãs da série de Idris Elba, mas pouco mais - Crítica do Chippu

Idris Elba e Dermot Crowley brilham em filme pouco inspirado que continua a aclamada série da BBC

Guilherme Jacobs
8 de março de 2023 - 6 min leitura
Crítica

É comum ouvir sobre como Idris Elba devia ter recebido uma chance para ser James Bond nos cinemas. Agora aparentemente velho demais para o papel de 007, o ator britânico, cuja carreira inclui a aclimadíssima série The Wire e blockbusters como Círculo de Fogo e vários projetos da Marvel, e se isso não fosse suficiente para torná-lo um dos grandes nomes dos últimos 20 anos (sem necessidade do agente secreto), basta olhar para Luther, série de cinco temporadas da BBC que agora continua com o longa-metragem Luther: O Cair da Noite, na Netflix.

Interpretando a figura clássica do detetive genial disposto a fazer de tudo para resolver o caso, neste caso o DCI John Luther, Elba teve a oportunidade não de crescer com o papel, mas de se firmar como ator com ele. Popular no começo e eventualmente deixada de lado pela audiência decrescente, Luther ofereceu a Elba uma posição infelizmente ainda rara para seus trabalhos no cinema: a de ser um protagonista. Sempre com um caso novo por temporada, encarando psicopatas e gênios do crime, John Luther refletia as qualidades mais marcantes de seu intérprete; presença física, perspicácia veloz, olhar atento e, lá no fundo, uma vulnerabilidade calorosa.

O Cair da Noite foi vendido por Elba há anos como uma conclusão para série. Talvez sentindo o eventual cancelamento (Luther nunca foi cancelada, mas tampouco recebeu uma renovação depois da quinta temporada em 2019), ele sempre sugeriu a ideia de um longa-metragem como uma maneira de encerrar o arco do detetive e dar aos fãs do seriado um último presente. Neste sentido, o filme cumpre devidamente sua missão.

Escrito por Neil Cross, criador da série, e dirigido por Jamie Payne, O Cair da Noite começa alguns meses depois da conclusão da temporada mais recente, quando, por eventualmente ultrapassar o limite de regras quebradas, John Luther é preso. Atrás das grades, ele é assombrado por último caso não resolvido, e quando o assassino em série David Robey (um maníaco Andy Serkis) volta a atacar, o ex-policial precisa fugir da cadeia para pôr um fim ao seu reino de terror. Nessa brincadeira de gato e rato há, também, um cachorro. Enquanto Luther tenta achar e prender seu rival, a detetive Odette Raine (Cynthia Erivo) busca capturar os dois.

Para quem acompanhou fielmente a série original, esperando pacientemente durante seus longos hiatos e sempre temerosos de um fim com pontas soltas, Luther: O Cair da Noite virá como um presente muito bem-vindo. É, afinal, mais Luther. Naturalmente, isso inclui o retorno de Elba a um papel merecedor de mais reconhecimento entre os grandes protagonistas britânicos (ele não é James Bond, Doctor Who ou Sherlock Holmes, mas ele é um ótimo personagem); um que lhe dá, mais do que grandes filmes hollywoodianos, a oportunidade de comunicar várias facetas, revelando tanto o brutamonte quanto o pensador. O fantástico Dermot Crowley retorna como Martin Schenk, antigo chefe de Luther, e traz com si o humor ácido tão característico do Reino Unido.

Há, também, outro grande vilão. Serkis é um pouco caricato demais para a abordagem mais resguardada deste mundo, e seu antagonista acaba sendo inundado pelos diferentes temas explorados por Cross (vigilância, darkweb, segurança virtual), mas o ator ainda registra pelo quanto ele abraça as partes mais teatrais de Robey, culminando numa conclusão bombástica onde enfrenta Luther num cenário, ironicamente, digno de um filme de Bond.

Dentro dessa dinâmica, o roteiro de Cross brilha quando trabalha em suas especialidades. Ele apresenta bem o caso, oferece reviravoltas interessantes e sequências de perseguição divertidas, mas sofre na hora de criar bons diálogos e desenvolver as (várias) temáticas da trama. No processo, o desenvolvimento de personagens é deixado de lado (há curiosamente pouco pensamento sobre John Luther e suas contradições num filme que, constantemente, as aponta), e um ritmo acelerado demonstra que, às vezes, algo não funciona melhor resumido a um longa-metragem de duas horas. Cross é um roteirista de TV, e Luther, descobrimos, funciona mais como série.

Semelhantemente, a direção de Payne, que brilha em um ou outro momento mais dramático, faz O Cair da Noite parecer um grande episódio de televisão com duas horas de duração. O senso de escala só cresce no terceiro ato, quando ele encontra imagens marcantes para encenar um verdadeiro grand finale (e, depois, deixar ganchos para spinoffs e continuações), mas o escopo do projeto não é comunicado em seu trabalho.

Ainda sim, o resultado é positivo. Muito por conta do trabalho do elenco, particularmente Elba e Crowley, Luther: O Cair da Noite será bem-recebido por fãs do personagem. "É melhor que nada" é uma expressão normalmente negativa, mas neste caso, a alternativa para John Luther era, realmente, nada.

Poucos considerarão o filme tão bom quanto as melhores temporadas da série, mas esta será mais uma evidência no argumento de que James Bond precisa de Idris Elba mais do que Idris Elba precisa de James Bond. Ele já tem John Luther.

2.5/5

Luther: O Cair da Noite estreia nesta sexta-feira (10) na Netflix

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

0h 0min
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