Sundance: Magazine Dreams firma Jonathan Majors no debate de melhor ator em atividade - Crítica do Chippu
Magnético e visceral, Jonathan Majors entrega a melhor atuação do Festival de Sundance em drama sobre bodybuilding
Crítica
FESTIVAL DE SUNDANCE: O ano de Jonathan Majors está só começando. Em fevereiro, ele vai viver o grande vilão de Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, e no mês seguinte fará o mesmo com Creed III, partindo para o ringue contra Michael B. Jordan. Antes disso tudo, porém, há Magazine Dreams, e no papel principal deste potente, mas falho, drama dirigido e escrito por Elijah Bynum, Majors apresenta o que certamente será sua atuação menos vista, mas provavelmente será a melhor.
Interpretando o bodybuilder Killian Maddox, cujos músculos só são superados em tamanho por seus sonhos (ou obsessões?) de se tornar profissional e dificuldades de manter a raiva sob controle, Majors faz um trabalho mais visceral, magnético e intenso, deixando os heróis carismáticos vistos em trabalhos recentes como Vingança & Castigo e Lovecraft Country e partido para algo mais complicado. É uma entrega, literalmente, de corpo e alma. Mas assim como um juiz lhe criticou pelos deltóides pequenos demais no que outrora é um físico perfeito, Magazine Dreams tem defeitos visíveis.
Killian Maddox repete o próprio nome múltiplas vezes no filme. Obcecado com legado, fama e outros bodybuilders, ele faz questão de anunciar para todo mundo seus grandiosos objetivos. Seja sua crush no supermercado onde trabalha (Haley Bennett), uma prostituta (Taylour Paige, inesquecível em cinco minutos) ou sua terapeuta (uma criminalmente subutilizada Harriet Sansom Harris), com quem ele tem consultas frequentes ordenadas pela lei, Killian Maddox faz questão de deixar claro o quão certo é o seu sucesso. Memorizem o nome agora. Em breve, ele estará nas capas de revistas. Para alcançar essas metas, ele se exercita freneticamente, ingere 6 mil calorias por dia e toma esteróides. O esforço é palpável. Dentro de uma indústria repleta de homens no ápice da fisicalidade, Killian (e Majors, cuja indústria não é muito diferente), elevou seu corpo para algo além, algo beirando o monstruoso, algo perfeitamente esculpido.
Lhe falta, porém, carisma. Ele é tímido, não sabe escolher bem palavras, e se for tocado ou cruzado do jeito errado, Maddox promete abrir crânios e beber os cérebros de haters. Olhando para ele, não é difícil acreditar. Majors, claro, está banhado em carisma. Mesmo quando Killian é assustador e desequilibrado, ninguém consegue tirar os olhos dele. Com o ator, é o mesmo. Majors cria um homem cuja vida interior, perturbada e desequilibrada, está tão bem estabelecida em cada expressão facial, fala e postura, que chegamos a nos preocupar com sua saúde mental. O quão próximo ele chegou dessa realidade? O que é necessário para entender e representar Killian Maddox dessa forma?
Maddox se torna uma mistura de “Stan” de Eminem e Travis Bickle, comparações inevitáveis o suficiente para serem mencionadas em toda crítica e óbvias o suficiente para se tornarem injustas e ultrapassada quase imediatamente após tais menções. Ele se torna incrementalmente frustrado com os dates frustrados, competições perdidas e com o silêncio de seu ídolo, o bodybuilder campeão Brad Vanderhorn (Michael O'Hearn). Eventualmente, Brad se faz presente na história, e Killian rapidamente aprende por que, às vezes, é melhor não conhecer seus heróis.
O encontro com seu deus, na verdade, é bom um exemplo dos problemas do roteiro de Bynum. Se a direção é capaz de capturar e intensificar cada emoção e situação, a escrita abre diversas portas e sugere vários finais brutais. Aos poucos, e de um jeito previsível, Bynum aproxima Killian mais e mais de um desastre aparentemente inevitável, seja pela violência ou tragédia de seu caráter, mas repetidamente, o cineasta dá um passo para trás, vira as costas e segue em direção de outro possível desastre.
Inundado de comentários odiosos na internet, de olhares suspeitos na vida real e de pensamentos sombrios, Killian se vê presente no que parece cada vez um suspense psicológico sobre trauma, culturas voltadas para a imagem corporal, saúde mental e a busca por controle. Entretanto, a incapacidade do diretor de se dedicar totalmente a uma dessas ideias deixa todas elas superficiais demais para ganhar uma ponta afiada para deixar cicatrizes em nossa mente.
Majors, claro, deixa cada uma desses blefes mais fortes e impactantes pela sua mera presença. Quando explode de fúria, quando se mantém em silêncio perpétuo perdido em pensamentos — algo que, pelo mérito do ator, é até mais assustador — ou quando parece encontrar um vislumbre de paz, sua atuação dá a cada decisão um mérito imerecido, especialmente diante do verdadeiro final escolhido pelo diretor, algo macio demais para um drama tão duro até ali. Se Magazine Dreams conseguisse acompanhar seu astro, particularmente quando se trata do roteiro, então teríamos o primeiro grande filme de 2023. Pela falta de sintonia, porém, terminamos com algo semelhante a seu protagonista. Sempre faltando algo.
3/5