
Meu Sangue Ferve Por Você: Sidney Magal é coadjuvante em próprio filme
A cinebiografia foca mais em seu relacionamento com Magali do que em sua carreira

Crítica
É difícil ouvir Sidney Magal se emocionando ao falar sobre sua cinebiografia, Meu Sangue Ferve Por Você, e não torcer muito para amar o filme tanto quanto ele. Para o ícone da música brasileiro, o longa é como assistir às suas próprias lembranças. Infelizmente para mim, que conhecia muito pouco sobre sua vida pessoal, foi como assistir a uma fanfic com todos os clichês possíveis.
Imagina comigo: uma menina simples de Salvador foge de casa em uma noite após lidar com a pressão e cobranças da mãe e, sem saber, dá carona para um cantor extremamente famoso. Não só isso, ela ainda fala muito mal de sua música na frente dele. Quase poderia ser uma cena deletada de Uma Ideia de Você, filme recente baseado em uma fanfic do Harry Styles, mas é o que aconteceu com Sidney Magal (Filipe Bragança) e Magali West (Giovana Cordeiro) no final dos anos 1970.
No encontro seguinte deles, ela vai parar, numa aleatoriedade do destino, justamente no concurso de beleza em que Magal entregaria o prêmio. Pronto, bastou isso e ele já estava perdidamente apaixonado pela moça. Apesar da resistência dela a princípio, no terceiro encontro dos dois, uma sessão de fotos após o concurso, ela já está caidinha e se revolta com a mãe por não a deixar sair de casa para encontrá-lo.
O problema de Meu Sangue Ferve Por Você é que, provavelmente, é fiel demais a uma realidade que não poderia ser mais improvável. O Magal verdadeiro já falou diversas vezes que se apaixonou à primeira vista. É lindo, mas um filme precisa de mais substância. É difícil acreditar nesse romance em tela quando eles têm apenas seis cenas juntos no longa inteiro. Sim, eu contei.
Na quarta delas, Magal e Magali já se declaram o amor da vida um do outro. Mas não só eles mal se conhecem, como o espectador não faz a menor ideia de como eles funcionam como casal e por que se apaixonaram um pelo outro depois de apenas duas conversas superficiais.
Talvez o roteiro de Thiago Dottori e Paulo Machline suponha que o público já conheça o artista e a mulher com quem ele continua casado até hoje e, por isso, consiga se envolver na história. Quem não conhece, no entanto, não consegue ser convencido nem do amor deles, nem do impacto de Sidney Magal na música, aliás.
Quando conhecemos o protagonista do filme, ele já está com a carreira consolidada, rodando o Brasil em turnê, com fãs em todos os cantos. Vemos as fãs acampadas em frente a seu hotel e temos o clássico dilema do empresário (Caco Ciocler) que quer colocá-lo em uma fórmula de sucesso em vez de deixá-lo seguir o que realmente quer fazer na música e na vida.
O diretor Paulo Machline só consegue realmente acertar com a carreira de Magal nos momentos em que insere grandes números musicais ao som de faixas clássicas dele no meio do longa. Magali tem uma cena linda de dança nas ruas de Salvador ao som de Santa Rosa Madalena, enquanto Me Chama Que eu Vou embala um dos ensaios do cantor e finalmente dá chance para Filipe Bragança brilhar.
Assim como os momentos musicais, a comédia presente no núcleo familiar de Magali também dá um bom respiro para o filme. Emmanuelle Araújo está simplesmente impecável como Graça, mãe da menina, apesar de quase parecer irmã de Giovanna Cordeiro em tela. Ela é uma âncora para os sonhos cheios de ilusão da filha e suas broncas sempre tem um toque de humor bem-vindo. A personagem ainda se complementa bem com seu irmão e tio de Magali, Renan (Sidney Santiago), que serve como uma ponte entre mãe e filha.
Com o núcleo de Magali tendo mais destaque e o foco narrativo sendo muito mais no romance dela com Magal em vez da carreira dele, a gente sai do filme com a impressão de que o cantor é apenas um coadjuvante em sua própria história. Quem esperava assistir a Meu Sangue Ferve Por Você para ter uma dimensão maior de sua carreira e impacto na música, pode sair decepcionado. Mas, mesmo como comédia romântica, o filme também não consegue chegar lá.

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