O Esquadrão Suicida - Crítica do Chippu

O Esquadrão Suicida - Crítica do Chippu

Com direção perversa e hilária de James Gunn, este é o melhor filme da DC desde O Cavaleiro das Trevas

Guilherme Jacobs
4 de agosto de 2021 - 8 min leitura
Crítica

Não havia trabalho melhor para James Gunn depois de ter sido brevemente excluído do Marvel Studios do que O Esquadrão Suicida. Exilado do MCU por conta de tweets antigos, Gunn assumiu a missão de resgatar o grupo de vilões da DC Comics do desastroso filme de 2016. O cineasta adota essa rejeição como temática para construir sua nova equipe, deixando momentaneamente de lado os Guardiões da Galáxia e procurando realizar outro truque de mágica com o cinema de heróis. Ele consegue pegar mais um monte de desconhecidos e fazer deles estrelas, de novo?


A resposta é um estrondoso sim. Contando apenas com o retorno de quatro atores (Margot Robbie como Arlequina, Joel Kinnaman como Rick Flagg, Jai Courtney como Capitão Bumerangue e Viola Davis como a fria Amanda Waller), , Gunn recrutou um elenco que vai de estrelas como Idris Elba e John Cena a comediantes como Pete Davidson e Flula Borg para entregar um concerto rock’n’rolll de duas horas e doze minutos repleto de mortes, sangue, mais morte, piadas, revoluções e kaijus, para uma história cuja alma só não supera sua perversidade, resultando no melhor filme da DC desde Cavaleiro das Trevas, e o blockbuster mais autoral do cineasta.


O Esquadrão Suicida começa sem perder tempo. Ciente do conhecimento prévio da audiência, Gunn nos coloca na ação em poucos minutos e rapidamente deixa claro que tipo de filme está fazendo. Diferente do longa de 2016, essa mistura de continuação e reboot faz jus ao nome e não economiza nas mortes. Antes mesmo dos créditos iniciais, nossas expectativas já são despedaçadas com um balde de sangue e uma sequência de abertura recheada de surpresas.


Ninguém está a salvo, e Gunn usa isso a seu favor. Não importa se o personagem é amado ou desconhecido: todos podem morrer. E estas mortes podem ser motivo de risada, choro, ou mesmo celebração. Te parece sombrio? Bom, missão cumprida.


É um filme que tira da zona de segurança e prende nossos olhos à tela. A qualquer momento, algum membro da Força Tarefa X pode morrer em combate, ou pelas mãos de Amanda Waller, através de chip implantado na cabeça dos membros do Esquadrão para se tornar uma comandante à prova de desobediências. Todos correm risco. Não importa se é o Sanguinário (Elba), Pacificador (Cena), Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior), Javelin (Borg), a Mongal (Mayling Ng), T.D.K. (Nathan Fillion), Sábio (Michael Rooker) ou Blackguard (Pete Davidson), ou os já queridinhos Tubarão-Rei (Sylvester Stallone), Bolinha (David Dastmalchian) e Doninha (Sean Gunn).


Talvez, o maior adjetivo de O Esquadrão Suicida seja “contagiante.” O filme exige sua atenção. Com roteiro bombástico, estruturado por Gunn com flashbacks inteligentes e surpresas constantes, O Esquadrão Suicida mantém seu domínio sob o espectador aliado ao dinamismo da fotografia de Henry Braham e da trilha sonora original composta por John Murphy, sem falar na ótima seleção musical e nos efeitos especiais usados para trazer à vida momentos de sinfonia violenta dignos da classificação indicativa para adultos.


Um dos grandes acertos da nova versão é como ela responde à pergunta: “por quê o público iria torcer para assassinos, ladrões e psicopatas?” O longa de 2016 resolveu este dilema com uma ameaça sobrenatural, e o de 2021 opta por uma trama política sobre ditadores, revolucionários e o interesse dos Estados Unidos em desequilibrar nações em desenvolvimento para benefícios militares, uma missão corriqueira para o Esquadrão nos quadrinhos.


No enredo, a Força Tarefa é enviada à ilha de Corto Maltês, com a missão de destruir um projeto baseado em tecnologia alienígena desenvolvido pelo governo local, agora comandado por militares anti-americanos e contestado pelo exército popular liderado por Sol Soria (Alice Braga).


No meio do caminho, fica claro que até mesmo estes matadores de aluguel têm coração - especialmente a Arlequina, de longe a personagem mais famosa do filme. Gunn já disse em entrevistas que até mesmo um filme do Superman foi oferecido caso ele o desejasse, mas a escolha do Esquadrão Suicida faz mais e mais sentido. Seu interesse é nos esquecidos e rejeitados, em mostrar sua humanidade. Colocá-los contra um sistema ditatorial e outro com aspirações colonialistas foi uma maneira inteligente de cumprir este objetivo, enquanto deixa o filme relevante para tempos atuais.


Tal qual seu diretor, esse é um grupo em busca de redenção. É difícil perder a ironia metalinguística. O Esquadrão Suicida quer se redimir, seja de um dos piores filmes dos últimos anos, seja dos crimes fictícios cometidos pelos protagonistas. Com James Gunn, eles encontraram a pessoa perfeita para isso. Ele sabe como nos fazer torcer pela vitória do Sanguinário, pela sobrevivência da Caça-Ratos 2, faz-nos rir e chorar com a história do Bolinha e entende o apelo inocente, lúdico e sangrento do Tubarão-Rei. Mais importante ainda: Gunn sabe como usá-los juntos, encontrando o melhor de cada um em suas piores características e evitando cair na sátira ou paródia de si mesmo. Diferente de tantas outras produções violentas de histórias em quadrinhos, este longa não busca desconstruir o gênero para se mostrar superior. Ele se diverte, conquista e convence ao ser honesto.


Não à toa, filmar O Esquadrão Suicida parece ter sido muito divertido. Há um sentimento de liberdade e leveza em cada atuação, com todo o elenco recebendo a chance de brilhar. Robbie ainda é o destaque e segue como um dos maiores acertos de casamento atriz e papel do DCEU, mas Gunn transforma Dastmalchian e Cena em estrelas da comédia, faz de Melchior e Elba duas âncoras emocionais e extrai de Joel Kinnaman um carisma nunca antes visto. O próprio diretor entra na diversão, também, deixando sua assinatura louca em diversos momentos, com Harley imaginando flores coloridas saindo das feridas que causa nos soldados inimigos, ou na maneira pela qual Bolinha consegue superar seu medo de combate, uma piada digna de permanecer guardada até que você veja o filme.


Gunn está totalmente livre. Sem as amarras de um estúdio formulaico ou a coleira de uma saga narrativa maior que seu próprio filme, ele se vê liberto de obrigações ou restrições. A maior estrela do show é sua direção, sua sensibilidade e criatividade. Famoso pelas excentricidades, o cineasta parecia já ter tirado leite de pedra com o humor e emoção dos até então desconhecidos Guardiões da Galáxia, mas depois de ver o que ele consegue fazer sem as rodinhas de segurança, é até decepcionante imaginá-lo em um comando mais contido no Volume 3 da franquia da Marvel.

Nota: 4.5/5

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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