O Livro de Boba Fett: Capítulo 6 - Crítica do Chippu

O Livro de Boba Fett: Capítulo 6 - Crítica do Chippu

Mantendo foco longe de seu protagonista, série entrega mais um clássico instantâneo de Star Wars

Guilherme Jacobs
2 de fevereiro de 2022 - 7 min leitura
Crítica

Este texto contém spoilers de "Do Deserto Vem um Estranho," penúltimo episódio de O Livro de Boba Fett.


Respira.


Agora, podemos falar. O Livro de Boba Fett terminou o episódio da semana passada, uma hora inteira focada no Mandaloriano (Pedro Pascal) com a promessa de revermos Grogu. "Do Deserto Vem um Estranho," penúltimo episódio da série de Star Wars, imediatamente (bom, tecnicamente, há uma abertura com Cobb Vanth, novamente vivido por Timothy Olyphant, primeiro) cumpre isso, visitando o planeta onde a criança está sendo treinada. Em minha mente, eu estava pronto para ver o Baby Yoda com a ideia de que Luke Skywalker não estaria por lá, afinal, não daria pra Jon Favreau e Dave Filoni mostrarem o maior herói da galáxia de novo, tão cedo, certo?


Errado. RD-D2 recepciona nosso querido Din Djarin, e o coloca para esperar. Enquanto o Mandaloriano tira um cochilo, a série nos leva para debaixo de uma árvore neste planeta cheio de vida e lá, na sombra, meditando, estão Grogu e Luke, dessa vez muito melhor realizado. Seja lá qual for o método de efeitos especiais empregado para trazer o personagem de volta, ele foi perfeito. Skywalker é visto em closes, na luz do dia, com olhos e boca perfeitamente realizados, diferente do final da segunda temporada de The Mandalorian, quando o CG era bom, mas claramente defeituoso. O momento é assombroso. Não fica a impressão de um Luke recriado, mas sim de Luke. Apenas ele.


Ver Luke com Grogu é de emocionar. O Mestre menciona os aprendizados de Yoda, traz de volta elementos dos filmes anteriores (a mochila na qual carregava Yoda, a esfera de treinamento) e ensina a criança a usar a Força para pular, se equilibrar e se defender. Agindo como diretor, Filoni sempre soube como carregar momentos como esse - que em outras produções seriam fanservice barato - de emoção e beleza, encontrando na simplicidade maneiras de nos conectar com a narrativa, trazendo sempre um senso de história, resgatando elementos de todas as eras de Star Wars. Seja de Clones em flashbacks de memória, ou de Luke agora falando "não tente, faça." As sequências de treinamento são instantaneamente memoráveis.


E eu ainda não nem mencionei que Ahsoka Tano (Rosario Dawson) aparece, carregando o episódio com uma carga emocional para fãs do trabalho de Filoni desde Star Wars: The Clone Wars. A ex-Padawan de Anakin está ajudando Luke na construção de sua escola Jedi, se apresentando como uma "amiga da família." A revelação traz consequências claras. Luke é a única pessoa da galáxia consciente da redenção final de Darth Vader, e ver como Ahsoka fala casualmente sobre seu antigo mestre, destacando as semelhanças entre pai e filho, sugere que o conhecimento de Luke sobre o fim da vida de Anakin foi compartilhado com ela. Ver Ahsoka e Luke juntos é como uma culminação de todo o legado de Filoni; Uma validação do seu excelente trabalho. Sua maior criação ao lado da maior criação de George Lucas.


Mas a presença de Luke traz um dilema difícil para Grogu. Ahsoka convence Din a não ver a criança, e somos lembrados da diferença entre Jedi e Mandalorianos mencionada pela Armeira semana passada: os primeiros abrem mão de laços emocionais, os segundos vivem na base da lealdade e solidariedade. É um testamento para o sucesso de Favreau e Filoni com Mando e Baby Yoda: nosso coração fica dividido entre querer ver a criança com o maior herói de Star Wars, e o desejo de ver uma reunião com seu pai adotivo. Qual dos personagens merece tempo com Grogu? Como escolher isso?


A criança terá que fazer a mesma escolha. No final do capítulo, Luke oferece o sabre de luz de Yoda como uma confirmação da entrada de Grogu na academia Jedi. Ou, caso ele não prefira, há também o presente de Din: uma pequenina e fofíssima armadura de Beskar. Se ele quiser a roupa, retornará para Mando e deixará os caminhos Jedi. Infelizmente, sua decisão ficou para o próximo episódio.


Mas "Do Deserto Vem um Estranho", diferente de semana passada, não é totalmente sem Boba Fett (Temura Morrison). O personagem aparece em apenas uma cena, na qual Din oferece encontrar soldados para sua iminente guerra contra os Pykes. O episódio é essencialmente dividido em duas metades: Luke/Grogu e o Mandaloriano. É curioso. Parece que enquanto desenvolviam a série, Filoni e Favreau chegaram à conclusão de que seu protagonista não era suficiente, ou notaram a necessidade de avançar a narrativa da terceira temporada de The Mandalorian já aqui. De qualquer forma, Mando vai até Mos Pelgo, agora chamada Vila Livre, e reencontra Cobb Vanth para tentar recrutá-lo, junto com seu povo, para a batalha entre os Sindicatos.


E então, Filoni nos dá mais uma surpresa. O "Estranho" no título do episódio é ninguém mais, ninguém menos que Cad Bane, um caçador de recompensas vistos nas séries animadas do diretor, aqui recebendo o mesmo tratamento live-action antes dado a Bo-Katan e Ahsoka. Ele aparece na Vila Livre assim que Din vai embora, e tenta intimidar Cobb a se abster do conflito, eventualmente derrubando o xerife num duelo e se firmando como um inimigo final para a conclusão da próxima semana.


Não há pra onde ir. Assim como semana passada, este episódio é Star Wars em seu melhor. É emoção, memórias, revelações fantásticas e personagens memoráveis. O que ele não é, porém, é uma ótima história de Boba Fett. O lado do Mandaloriano, o lado de Luke e Grogu, tudo isso é empolgante e bem-executado. Mas esse é o segundo capítulo seguido no qual o protagonista, o nome no título deste Livro, é colocado de lado e sua ausência não é sentida.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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