O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder: Partidas - Crítica com Spoilers
Frustrante pelo excesso de preparação, quinto capítulo ainda se salva pelos ótimos personagens, mas é hora de acelerar
Crítica
Semana passada, destacamos como Os Anéis de Poder abordou um dos mais essenciais temas de O Senhor dos Anéis. Drama em travessia. Viagens, idas e vindas como maneiras de apresentar o crescimento e luta interna dos diversos personagens. “Partidas”, quinto capítulo da série, segue nessa mesma linha ao continuar destacando as jornadas dos elfos, homens, anões e Pés-Peludos no que parece ter sido o último episódio (tomara) mais quieto antes de confrontos maiores. Ao fazê-lo, o principal obstáculo para o sucesso se mostra a escuridão. Não só Sauron ou Adar (Joseph Mawle), como também as trevas interiores. Essas são, talvez, as mais perigosas.
Ainda em muito clima de preparação — característica um pouco frustrante quando levamos em conta a conclusão grandiosa de “A Grande Onda”, um final cuja combinação de visuais e trilha sonora sugeria acontecimentos grandiosos à frente — o quinto episódio passa a maior parte de seu tempo em Númenor enquanto opositores à decisão da Rainha-Regente Míriel (Cynthia Addai-Robinson) de ajudar Galadriel (Morfydd Clark) na luta contra os orcs tentam impedir a partida dos navios, ou, como é o caso de Pharazôn, vivido com uma ternura enganadora por Trystan Gravelle, permitem o avanço visam lucro no confronto. Há, também, aqueles dispostos a servir. Estes se preparam para a guerra com treinamento, nos dando a chance de ver o quão distante é a habilidade de jovens humanos contra uma elfa com séculos de experiência quando Galadriel decide servir de professora de combate. É uma sequência divertida, culminando com um momento de vitória para Valandill (Alex Tarrant), único capaz de fazer um corte na roupa da guerreira.
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Após o feito, Valandill é abordado por um Isildur (Maxim Baldry) arrependido, implorando por perdão por ter sido a causa de ambos serem expulsos da Guarda Marítima no episódio anterior. Até então, este era um dos grandes pontos fracos de Anéis de Poder, uma trama cujo núcleo emocional não havia se provado interessante, em parte pela atuação menos dinâmica de Baldry, mas aqui, muito pelo carisma de Tarrant, a amizade entre os dois se torna mais real. Baldry ainda é um dos elos mais fracos do elenco, mas o texto honesto ainda consegue nos trazer para perto dos dois, tornando sua eventual reunião no fim de “Partidas” satisfatória e bem-vinda. O reencontro se torna possível quando Isildur, tentando se infiltrar num navio depois de ser barrado por seu pai, Elendill (Lloyd Owen), de se alistar, salva a vida de Kemen (Leon Wadham) quando este tenta explodir os barcos para interromper sua partida e ganhar uns pontos com Eärien (Ema Horvath) num romance nada convincente.
A tentativa de Kemen, assim como as razões de Pharazôn para não apoiá-lo, revelam uma natureza sombria nos homens. Marcados por ambição e egoísmo, eles se veem como superiores aos humanos da Terra-Média e servem para pontuar a ideia de uma corrupção interna explorada esta semana. O conceito, contudo, é melhor explorado em Galadriel e Halbrand (Charlie Vickers) quando a elfa admite ser incapaz de parar sua luta contra Sauron, e revela a dor de ter sido vista como fonte do mal por Elrond (Robert Aramayo) e pelo Alto Rei Gil-galad (Benjamin Walker), enviada para o oeste simplesmente como uma solução fácil. Galadriel, porém, já tem a resposta para este grande dilema. Ser testado pelas trevas não é o problema, a questão está em como se responde ao teste. Às vezes, só ao tocar a escuridão sabemos qual direção tomar. Em sua obsessão, Galadriel se viu em meio às sombras, algo que Halbrand parece ter experimentado em seu misterioso passado, e por isso a decisão de ajudar os homens da Terra-Média carrega tanto peso. Essa noção deixa o momento no qual Halbrand escolhe apoiar sua nova amiga carregado de emoção.
Agora, eles partem (finalmente) para as terras do sul, onde outras figuras recentemente tocadas pela tentação estão cedendo à seu suspiro. Se Arondir (Ismael Cruz Cordova) — que foi enfim mais desenvolvido ao falar para o ainda frustrado e pouco trabalhado Theo (Tyroe Muhafidin) sobre como conhecer os humanos revelou um povo digno de ser protegido — mantém a esperança de uma vitória contra Adar, sua amada Bronwyn (Nazanin Boniadi) não possui tal fé, mesmo tentando o povo a não ir com Waldreg (Geoff Morrell) se render e repetir os erros passados. Aqui, o teste de tocar as sombras se prova grande demais para metade da aldeia, cuja decisão de se aliar aos orcs poderia ser o suficiente para acabar com a tolerância do elfo. Num momento importante, porém, Arondir escolhe ressaltar a metade que ficou. Ele não cede ao preconceito.
Isso é mais do que podemos dizer sobre Gil-galad. O rei dos elfos revela para Elrond sua verdadeira intenção com a aliança com os anões. Ele, de fato, quer mithril. Desesperado pela corrupção na árvore, um prelúdio para o apagar de suas almas e sua eventual morte, o monarca vê no minério a última esperança. O elemento surgiu durante uma épica batalha entre um elfo puro e um Balrog de Morgoth por uma árvore cujas raízes foram energizadas por um relâmpago durante esse embate, e a série representa este acontecimento com beleza mitológica. De certa forma, então, mithril representa luz e trevas. Gil-galad, porém, parece ter perdido a lição de moral no centro deste conto. Ao tentar convencer Elrond a trair Durin (Owain Arthur), ele externaliza o problema, coloca para fora de si tudo que há de errado e não confronta os erros dos elfos, seu orgulho ou intolerância.
Assim, o rei é adicionado ao grupo de personagens cuja reação à escuridão é ceder ao seu poder, e não recusá-lo. Elrond, felizmente, não repete o comportamento. Diante da escolha de trair seu amigo ao quebrar seu juramento, ou garantir algo que pode (ênfase em pode) ajudar os elfos, Elrond decide manter a promessa e não perpetuar as intenções ocultas de Gil-galad e Celebrimbor (Charles Edwards). É refrescante vê-lo abrindo o jogo para Durin, quebrando o ciclo de mentiras e falando a verdade. Seria fácil para a série criar intriga entre Elrond e Durin deixando o elfo enganar o anão até uma eventual revelação devastadora, deixando a audiência na expectativa para uma eventual rachadura no que, até aqui, é o laço mais legal de Anéis de Poder. Manter a união é, porém, a escolha mais interessante. Isso revela a importância de honestidade e diálogo (sem falar em permitir que Aramayo e Arthur continuem sua dinâmica de leveza e humor).
Infelizmente, a opção de conversar ainda não é possível para Nori (Markella Kavanagh) e o Estranho (Daniel Weyman). Ainda entendendo seu poder, o gigante primeiro cai nas graças dos Pés-Peludos ao ajudá-los na migração afastando lobos perigosos, mas isso só o deixa mais confuso, e enquanto tenta conhecer suas capacidades, ele acaba congelando a mão de Nori e assustando a garota. Não há muito avanço narrativo com estes personagens (mas, pelo menos, ouvimos a belíssima canção da Poppy de Megan Richards) desta semana, e considerando sua total ausência no episódio anterior, este é o núcleo que mais precisa de uma acelerada.
Isso deve acontecer em breve, já que o Estranho agora está sendo perseguido pela sombria e misteriosa figura interpretada por Bridie Sisson. Por hora sua identidade também é um mistério. De qualquer forma, as respostas parecem estar mais próximas. Elas precisam estar. Só faltam três episódios, e até agora Anéis de Poder tem sido muita preparação de terreno, o que não é problema quando se há personagens divertidos e bem executados, mas “Partidas” sofre um pouco pelo excesso de paciência.