O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder: A Liga - Crítica Com Spoilers

O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder: A Liga - Crítica Com Spoilers

Com ousadia e alguns tropeços, primeira temporada de Os Anéis de Poder termina revelando as verdadeiras fontes do bem e do mal

Guilherme Jacobs
14 de outubro de 2022 - 8 min leitura
Crítica

A primeira temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder começou com a apresentação de uma filosofia aparentemente contrária à mensagem de J.R.R. Tolkien com suas obras na Terra-Média. Animada pela missão de derrotar Sauron, Galadriel (Morfydd Clark) constantemente proferiu a importância de tocar a escuridão para, então, saber qual caminho seguir na luta contra o mal, dando ao mal um papel perigosamente importante na vida dos elfos. Ao longo dos últimos oito episódios, culminando no finale com "A Liga," a série da Amazon examinou, e por vezes parecia concordar, com essa premissa.

Agora, com o revelar de duas identidades constantemente debatidas, está claro qual é a verdadeira maneira de encontrar a luz. Não é tocando a escuridão, mas sim seguindo seu nariz.

Com a batalha pelas Terras do Sul perdida, Os Anéis de Poder firmou seu clímax nas revelações sobre Halbrand (Charlie Vickers) e o Estranho (Daniel Weyman). O capítulo começa com As Místicas chamando o gigante amigo de Nori (Markella Kavanagh) de Sauron, mas essa afirmação, propositalmente, jamais carrega o peso imaginado. Enquanto as figuras das sombras sussurram sobre a necessidade ir até Rhûn, no extremo leste da Terra-Média, e o Estranho teme ser uma criação das trevas, Halbrand se mostra essencial na tarefa de salvar os elfos e Galadriel rapidamente começa a perceber o que já sabíamos sobre sua verdadeira natureza. Ele, é claro, é o verdadeiro Sauron.

A descoberta vem tarde demais. Halbrand/Sauron, curado pelos elfos e presente em Lindon para ajudar Elrond (Robert Aramayo) e Celebrimbor (Charles Edwards) na missão de salvar a raça destes usando o mithril para forjar algo. Primeiro é uma coroa, depois um anel, depois dois e, por fim, três. A reviravolta, teorizada por espectadores da série desde o segundo episódio, é a mais ousada e polêmica ideia de Anéis de Poder até aqui, e também reforça alguns dos problemas do roteiro, que por vezes parece abordar a questão filosófica de luz e trevas em seu cerne não com ambiguidade e sim confusão. Uma falta de respostas por defeito, não por design. Em termos de mecânica narrativa, a ideia do grande inimigo ter enganado e até seduzido a grande heroína até o final é um clichê conhecido de televisão e não tende a envelhecer muito bem, trocando significados duradouros por um impacto momentâneo. A falha desse plot-twist existe não só pela falta de preparação para o mesmo (Halbrand como Sauron foi uma conclusão feita quase por processo de eliminação), mas também porque rouba a boa construção de algumas cenas entre este e Galadriel até aqui.

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De qualquer forma, uma vez revelado, Sauron imediatamente se mostra um adversário perigoso ao atacar Galadriel com tentações de poder e domínio, apelando para a mesmíssima escuridão uma vez interpretada como ingrediente indispensável agora para corromper o coração da elfa. À primeira vista, ela parece resisti-lo. De fato, Galadriel — interpretada por Clark com a dose certa de confusão emocional nessa sequência — recusa ser a noiva do Senhor Sombrio, mas segue seu pedido de não impedir o forjar dos anéis. Clamando a Elrond por confiança, ela apenas aconselha a criação de um terceiro objeto para equilibrar as forças. Contudo, quando Elrond descobre o engano de Halbrand e retorna para a oficina para testemunhar o trabalho concluído, seu olhar para sua querida amiga é de decepção e tristeza. Galadriel, novamente, se deixou cegar pelo ódio. Ela vê os anéis como a única solução e até diz que só os elfos poderão usá-los. Mas sabemos para onde isso vai.

Elrond, talvez graças à sua perspectiva única por ser um meio-elfo, parece ser o único personagem deste núcleo ciente dos perigos desse poder. Celebrimbor almeja o grande feito, Gil-Galad (Benjamin Walker) se desespera com o cair das folhas e Galadriel busca armas para vencer Sauron. Os orgulho dos elfos, suas mentiras e seu legalismo se provarão letais. Para um grupo tão rápido em julgar os homens como corrompidos, eles seguem indispostos a examinar suas próprias motivações, e por isso foram enganados por Sauron antes deste partir para a Montanha da Perdição.

Contraste isso com Nori e o Estranho. Tolkien não escolheu os Hobbits como heróis da sua trilogia de livros por acaso, e neste episódio final, enquanto a série coloca Sauron usando a própria frase do irmão de Galadriel para mostrar o perigo daquela visão de mundo, mais uma vez encontramos coragem e nobreza vindas dos menores seres. Incerto por conta das afirmações das Místicas, o Estranho recusa a ajuda dos Pés-Peludos quando estes vêm ao seu resgate. O gigante deixa de acreditar na sua bondade, e lembrando de todas as vezes que colocou a vida de sua querida companheira em perigo, passa a temer sua própria capacidade. As tentativas de Nori e companhia de salvá-lo parecem arruinadas quando as Místicas lesionam Sadoc Covas (Lenny Henry) fatalmente e encurralam os pequeninos com fogo, mas então o Estranho empunha o cajado e usando luz envia as mulheres de volta para onde vieram. Ao perceber terem chegado à conclusão errada, as três o descrevem como um Istar. Um mago.

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O Estranho ainda não sabe que é Gandalf. Talvez ele, de fato, ainda não seja. Talvez estejamos vendo Olórin, nome usado pelo mago quando este era um Maia. As semânticas, porém, não importam. Quando ele diz a mesma frase Gandalf em A Sociedade do Anel — "em caso de dúvida, sempre siga seu nariz" — a sua essência vêm à tona e o arco de Nori, assim como os de Bilbo e Frodo no futuro, se mostra mais exemplar de onde, de fato, está a bondade na Terra-Média. O uso da referência é mais que fan-service. É uma declaração de quem são os verdadeiros heróis dessa história. A fala vem quando Gandalf e Nori deixam para trás os Pés-Peludos para partir numa aventura, a palavra preferida por Tolkien para descrever as grandes histórias de seus personagens, e instantaneamente os coloca como opostos de Sauron e das corrupções de tocar a escuridão.

Sim, seguir o nariz é uma maneira infantil e lúdica de escolher qual rota tomar, mas o que Gandalf diz estar cheirando? Há um cheiro doce naquela direção. Assim, com a ousada simplicidade de buscar o que é bom sem abrir espaço para as complexidades das trevas, encontramos o caminho certo e partimos em direção da luz. Basta ir atrás do doce

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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