
Os Estranhos: Capítulo 1 é terror que não dá medo e nunca justifica sua existência
Filme é o primeiro de uma trilogia dirigida por Renny Harlin

Crítica
A ideia de uma trilogia de Os Estranhos, baseada no filme de 2008 com Liv Tyler e Scott Speedman, é interessante. Filmar tudo de uma vez e lançar nos cinemas com alguns meses de intervalo apenas. Parece a estratégia utilizada hoje pela Netflix, dividindo suas séries em duas partes, e a verdade é que otimiza a produção e ajuda no marketing, já que a memória do público ainda está fresca - seja do cinema, VoD ou streaming. Entretanto, o que deveria simplificar o processo, acaba sendo um dos muitos problemas do projeto.
Os Estranhos: Capítulo 1 é vendido pelo trailer com a frase: “Descubra como Os Estranhos se tornaram Os Estranho”. Isso deixa claro que o filme mostraria o surgimento desses assassinos mascarados para que eles chegassem no ponto do filme de 2008, certo? Errado. Capítulo 1 é um remake da produção com Liv Tyler, com a história seguindo os mesmos pontos e ideias. Do texto no início falando sobre os assassinatos nos EUA, passando pelo casal em clima de romance na cabana afastada… tudo é quase a mesma coisa, só que pior.
Para começar, Capítulo 1 utiliza todos os tropes de filmes de terror - e isso não é o maior demérito - de forma apressada e desconjuntada. O casal apaixonado em uma viagem de carro, passando pelo interior do país, faz uma parada em uma cidadezinha. Logo, eles desdenham dos “caipiras”, agem como se ali fosse uma outra realidade que não conhece o mundo deles, mas acabam presos por uma noite depois de um problema no carro. O mecânico mal encarado, os policiais preguiçosos no restaurante, a garçonete proativa para ajudar, as crianças esquisitas… tudo está lá. E aí, claro, para surpresa dos dois, existe um único Airbnb no local. Uma cabana arrumadinha, que eles vão passar a noite e, claro, serem atacados pelos Estranhos.
A escolha do casal principal é um dos grandes problemas de Os Estranhos: Capítulo 1. Não que Liv Tyler e, principalmente, Scott Speedman fossem excelentes, mas Madelaine Petsch e Froy Gutierrez ficam bem abaixo do casal anterior. E é bom deixar claro, o texto escrito a quatro mãos por Alan R. Cohen e Alan Freedland não ajuda em nada. Há momentos risíveis como um “casa comigo?” no ápice do que deveria ser o momento mais tenso do filme. Da mesma forma, situações são repetidas exaustivamente como: um personagem anda por um cômodo e lá está um Estranho no canto. Entra em outro, aparece um Estranho da sombra. Falta criatividade e o abuso nos jump scares parece ser o único recurso que o diretor Renny Harlin conhece. Elementos como a asma do protagonista são esquecidas e lembradas de acordo com o que favorece a situação. Um quase acidente na estrada e ele já corre para pegar a bombinha. Depois, ele toma sustos, cai, faz esforço físico e nem lembra do objeto. E eu não vou nem entrar no detalhe de uma garrafa d’água que aparece na floresta. É ver para crer.
Para um filme com uma classificação R, ou seja, para maiores de 16 anos, nos EUA, Os Estranhos: Capítulo 1 mal aproveita da violência e do gore. No início do filme, a história é descrita como “uma das mais violentas” e isso nunca acontece. Na verdade, pouca coisa de fato acontece nos 90 minutos da produção, além do casal correndo de um lado para o outro dentro da casa ou na floresta que cerca a cabana. A abertura do filme de 2008 trazia uma ligação da vítima para o 911, que, claro, é recriada aqui de uma forma que não dá para acreditar que ela realmente aconteceu. A personagem deita em uns galhos no chão e nem mesmo se dá ao trabalho de cobrir o corpo. Um dos assassinos para, olha e simplesmente sai andando. Qualquer filme de slasher realmente bom, tem personalidades distintas distribuídas pelo elenco. O valentão, o medroso, o inteligente, o indefeso… aqui só temos dois estúpidos.
Para piorar ainda mais as coisas, Os Estranhos: Capítulo 1 é o típico filme que você pode assistir de olhos fechados. É irritante como tudo que está acontecendo em tela precisa ser dito pelos protagonistas. E pior, eles falam em situações que exigem silêncio total de ambos. “Preciso de uma arma”, aí abre o armário do banheiro: “encontrei”. Chega a ser inacreditável em alguns momentos e tira qualquer tipo de imersão no terror.
O que não dá para acreditar também é que essa é apenas a parte um e há mais por vir, já que fica óbvio no meio da história quem será a vítima do próximo. O final do filme e a cena no meio dos créditos se anulam completamente e ficamos nos perguntando: onde está a tal origem dos Estranhos? Por que devemos assistir ao próximo, se o que dá a entender é que será a mesma coisa de agora? Esse filme seria um prequel do de 2008, mas se passa nos dias atuais? Mas aí o diretor Renny Harlin afirma que é uma história independente. Ou seja, o que poderia ser um projeto legal em três partes, com seus capítulos lançados no cinema em um intervalo de um ano, no fim é só uma bagunça sem graça, sem carisma, sem terror e sem propósito nenhum de existir.

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