Os Rejeitados é uma adorável comédia dramática sobre pais e filhos
Novo filme de Alexander Payne e Paul Giamatti foi exibido no Festival de Toronto 2023
Crítica
A parceria de Alexander Payne e Paul Giamatti em Sideways rendeu uma comédia dramática sobre avanço da idade, propósito e algumas taças de vinho. A dupla repete o encontro em Os Rejeitados, longa exibido no Festival de Toronto 2023, mas para falar de filhos esquecidos pelos pais, pais doloridos pela perda dos filhos, enquanto constrói uma conhecida dinâmica entre mentor e aprendiz, no caso, professor e estudante. Sai a aura noventista, entra o clima dos anos 1970 e uma pitada de História Clássica para permear um roteiro cheio de referências e humor irônico, sempre atento para o sentimentalismo que transforma seus protagonistas em personagens adoráveis.
Giamatti vive Paul Hunman, um carrancudo professor de história de uma pequena cidade em Massachusetts, responsável por cuidar de um punhado de adolescentes “esquecidos” pelos pais no feriado do final do ano. A conexão imediata, mas negativa, acontece com Angus Tully (Dominic Sessa), um jovem com problemas familiares mas tão safo e irônico quanto o professor. Ao lado deles, a funcionária da escola, Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph) começa a costurar uma relação que vai ser o espelho para o roteiro inteiro, sem grandes surpresas, por vezes previsível até demais, mas que ganha charme e empatia únicos aos olhos de Payne.
A composição do Hunman e Tully não foge nada de interações entre professor e aluno que não se entendem e passam a se amar, mas tem nos atores um triunfo que sustenta basicamente o filme inteiro. Giamatti é insuportável na medida certa para você rir das piadas sobre Grécia e Roma, e sem teto social suficiente para que os coadjuvantes tenham espaço para fazer piada dele. A trilha, lotada de releituras para músicas natalinas, dá cor ao quadro nostálgico que Payne pinta na tela, criando um ar aconchegante até nos velhos aposentos da escola. Tully, um achado em Sessa, tem os olhos que traduzem a rejeição do título, ainda que seja distante o suficiente de Hunman para não torná-lo o chato que ninguém gosta de ficar por perto - o que faz o espectador naturalmente torcer pela união de opostos curiosamente parecidos.
Os Rejeitados está muito longe de ser uma surpresa ou mesmo o melhor trabalho de Payne e Giamatti, tamanho é o uso de clichês do gênero que eles tanto acertaram em Sideways. Por outro lado, é um filme que traz uma aura tão serena e carismática que, em tempos de cinismo, anti-heróis, tragédia a recorrentes e uma adoração pelo lado obscuro do ser humano, é um afago mais que bem-vindo a lembrança de relacionamentos quebrados, mas criados a partir da pura e simples bondade entre pessoas.
Crítica publicada originalmente em 12 de setembro de 2023 no Festival de Toronto.