Pinguim acerta na expansão do mundo criminoso de Gotham em mais um show de Colin Farrell
Série da HBO continua diretamente a história criada por Matt Reeves em Batman
Crítica
Por muitos anos, a imagem da Gotham moldada no ultra realismo de Christopher Nolan foi o norte para qualquer adaptação de quadrinhos ou da idealização dos fãs para o formato perfeito do gênero. Entre algumas opções mais fantásticas que também fizeram sucesso no mundo dos heróis no cinema e na TV, é perceptível o apreço - até hoje - pelas mais “pé no chão”.
O Batman de Matt Reeves, ainda que fincado na realidade, utilizou a imagem e a estética para dar um ar mais estilizado e, por assim dizer, mais fantasioso para a história. O Batmóvel ainda é montado em cima de um muscle car americano, mas a forma como Reeves o apresenta, está mais para uma fera enjaulada, do que apenas um carro/tanque de guerra. O mesmo acontece na criação de Gotham, misturando EUA e Reino Unido, adicionando arquiteturas que puxam para o lado gótico e colocando nas ruas da cidade, gangues que usam maquiagens, máscaras e outros aspectos menos “reais”.
Pinguim, série daHBO que continua diretamente a história de The Batman, abraça esse lado “estilizado” para expandir nossa visão do submundo do crime em Gotham City. Mansões, carros roxos, figurinos, tudo é utilizado em prol da criação desse ambiente sempre perigoso. A história se passa uma semana após o final do filme, com a morte de Carmine Falcone (John Turturro) e a prisão do Charada (Paul Dano). Para situar o espectador, a série começa com reportagens mostrando imagens do longa estrelado por Robert Pattinson e as consequências do atentado que a cidade sofre no final. Esse vácuo de poder após a morte do mafioso e a crise que se instaura em Gotham são pratos cheios para que Oswald “Oz” Cobblepot (Colin Farrell), o Pinguim, possa vislumbrar sua chance de assumir os negócios. Os criadores da série, inclusive, repetem a cena final de Batman, com Oz olhando pela janela do escritório de Falcone - e o tema de Michael Giacchino - logo de cara. O problema é que, claro, não é apenas Oswald que está de olho nesse espaço, mas as outras cabeças da família Falcone, também precisam escolher o sucessor de Carmine. E é aí que entra a recém saída do Arkham, Sofia Falcone (Cristin Milioti).
Passeando por outras gangues, como a Tríade e os antigos inimigos dos Falcone, os Marone, clássicos dos quadrinhos, Pinguim também dá espaço para mostrar as consequências das ações do Charada e da negligência das autoridades na própria população de Gotham. Essa visão é personificada em Victor Aguilar (Rhenzy Felix), jovem que acaba se aliando com Oswald após uma tragédia. Como toda boa história de máfia, a relação entre os líderes e a comunidade estão diretamente conectadas e a criadora da série, Lauren LeFranc, entende isso logo de primeira, estabelecendo as raízes de Cobblepot através de sua relação com a mãe (Deirdre O’Connell), como base para suas pretensões.
Falar de Pinguim sem rasgar elogios para Colin Farrell, parece chover no molhado, desde que ele roubou a cena no filme de Matt Reeves. Entretanto, o ator eleva ainda mais seu trabalho, dando novas camadas ao personagem, que é visto como um subalterno pela elite mafiosa de Gotham, e que busca seu lugar dentro dessa roda que faz o submundo girar. Dos trejeitos na fala ao andar característico, a criação de Farrell é magnética e nos faz querer acompanhar cada passo do inteligente, porém afoito, bandido. Pinguim ser subestimado por aqueles que detêm o poder, nos aproxima do personagem, mesmo que a qualquer momento (mesmo!) ele possa virar a chave e cometer alguma atrocidade em nome dos seus objetivos. E é importante como LeFranc não esquece o lado maníaco do Pinguim. Humanizar o mafioso, não significa torná-lo santo e a HBO sabe bem disso, como já vimos com Tony Soprano, por exemplo. Não estamos vendo uma história de herói e em Gotham, nem aquele que luta contra o crime recebe de fato essa chancela.
Cristin Milioti é outro grande acerto e sua Sofia Falcone é, ao mesmo tempo, frágil e perigosa. O olhar expressivo de Milioti, a maquiagem pesada e as roupas de Sofia, parecem saídas diretamente das HQs. Em um grande flashback, quando acompanhamos a prisão de Sofia no Arkham, pelas mortes de sete mulheres, sob a alcunha do serial killer Hagman, Milioti tem seu grande momento e a série não poupa o espectador da violência gráfica e psicológica que a instituição tem nos quadrinhos do Batman.
Ainda que perca um pouco da força que tem logo nos primeiros quatro episódios (mas que volta total no último), Pinguim ainda encontra espaço para reviravoltas e para expandir essa colcha de retalhos que é a sociedade de Gotham City, preparando o terreno para o que está por vir no cinema. A história é tão bem construída, que a série nunca precisa de fato mostrar o Batman, Gordon ou outros personagens grandes do filme anterior, além do vilão do título. Essa parte da história é sobre Oswald, Sofia e Victor. Três peças fundamentais para entendermos as cicatrizes que Gotham espalha pelo seu povo e o sentimento de vingança que perdura, seja nas mansões da alta sociedade ou nas ruas.
Uma história sobre crime, mas também sobre luta de classes, família, lealdade e perseverança, em um mundo que só coloca obstáculos na frente. Cobblepot busca seu lugar e vai agir da forma que tiver que ser. Nas mãos de LeFranc, Reeves e da HBO, a jornada do Pinguim é mais um ótimo capítulo desta “Saga de Crimes Épicos do Batman” e uma das melhores séries do ano.
Pinguim estreia na HBO e na Max em 19 de setembro.