Sundance: Polite Society é uma divertida e charmosa mistura de Edgar Wright e artes marciais
Meio história de amadurecimento, meio história de roubo, filme de Nida Manzoor é um dos mais divertidos de Sundance 2023
Crítica
FESTIVAL DE SUNDANCE: Priya Kansara é uma revelação em Polite Society. A jovem atriz imediatamente se anuncia como uma estrela em potencial no filme de Nida Manzoor, uma engraçada e idiossincrática comédia de ação sobre amadurecimento e ansiedade. A atriz interpreta Ria Khan (sem relação com à heroína), uma adolescente cuja carreira dos sonhos, para o desespero de seus pais, é ser dublê de cinema em filmes como os da Marvel. O sonho da personagem pode ser exagerado, mas na realidade, pelo talento da atriz, estrelar uma produção do tipo não está fora de cogitação.
Quando não está se metendo em brigas na escola, Ria faz vídeos para o YouTube mostrando suas habilidades de artes marciais e atletismo. A garota tem talento, mas ainda falta muito para conseguir transformar esse sonho em algo sustentável, especialmente quando seus pais reprovam tanto a ideia. A protagonista, contudo, mantém a esperança em grande parte por causa da irmã mais velha, Leana (Ritu Arya), que por sua vez escolheu ser artista, outro campo rejeitado pelos seus pais. Então, Leana deixa a faculdade, volta para casa e se envolve romanticamente com Salim (Akshay Khanna) um jovem médico rico e aparentemente perfeito. Se a irmã, sua grande heroína, não conseguiu, que esperança ela tem?
Desesperada para evitar o casamento, Ria recruta suas amigas (as hilárias Ella Bruccoleri e Seraphina Beh) numa missão de descobrir (ou inventar) podres sobre o noivo e sua mãe controladora, vivida pela deliciosamente maléfica Nimra Bucha. Para cumprir esse objetivo, as garotas se aventuram em lutas, investigações e planos inusitados, e no processo Ria precisa começar a encarar o fato de que talvez, só talvez, sua irmã realmente esteja apaixonada por um cara normal. Seria mais fácil acreditar nisso, porém, se a futura sogra de Leana. A Raheena de Bucha parece esconder algo perverso, e cabe a Ria descobrir o que é.
Polite Society permanece cativante durante toda essa montanha russa, mas o desafio de chutar o escanteio e partir para o cabeceio da diretora e roteirista Nida Manzoor (We Are Lady Parts) eventualmente se torna grande demais para a cineasta, que perde o equilíbrio entre seu desejo de colocar a protagonista numa jornada de crescimento na qual é preciso entender onde termina a fantasia e começa a realidade, e a vontade irresistível de criar uma mistura de Edgar Wright, Bollywood e narrativa adolescente.
É difícil dizer se Polite Society seria melhor se focasse em apenas um desses dois lados, mas nesta iteração, Manzoor não consegue conciliar bem ambos interesses. Tanto é que o filme poderia acabar exatamente na metade da trama e ser uma espécie de fábula com lição de moral, e depois abraça o exagero e o lúdico para nos dar as sequências de ação e comédia pelas quais a diretora claramente está apaixonada. Seguem-se reviravoltas previsíveis que acabam traindo o próprio arco de Ria, mas definitivamente deixam a jornada mais empolgante do que a alternativa cliché.
Se Manzoor conseguisse aliar o desenvolvimento da personagem com o exercício de gênero, teríamos algo especial nas mãos. Algo tão cheio de consciência emocional quanto de criatividade e humor. Apesar desses tropeços, é praticamente impossível passar por Polite Society sem um sorriso de orelha a orelha, em especial pelo quão legal é estar com Kansara, Arya, Bruccoleri e Beh.
3/5