Sob as Águas do Sena: Filme de tubarão na Netflix diverte quando abraça o trash

Sob as Águas do Sena: Filme de tubarão na Netflix diverte quando abraça o trash

Suspense francês coloca um tubarão no grande rio de Paris, mas nem sempre aceita o absurdo dessa ideia

Guilherme Jacobs
7 de junho de 2024 - 5 min leitura
Crítica

Filmes de tubarão, quase sempre, vêm com uma ideia propositalmente absurda. Tubarões gigantes. Tubarões em tornados. Tubarões possuídos pelo demônio. Com a exceção do avô do gênero, é difícil achar exemplos que não mergulhem no exagero e no bom e velho trash, e tudo bem. Há bons filmes nesses mares, e há também filmes que sabem ser ruins do jeito certo. Para quem entra com a atitude certa, coisas como Sob as Águas do Sena podem ser um oceano de diversão.

Este, afinal, vem com uma dessas premissas instantaneamente impossíveis e intrigantes. Lançado na Netflix próximo das Olimpíadas de Paris 2024 em julho, o filme se passa alguns antes dias de um evento pré-olímpico que usará o Rio Sena para a competição de natação. Não há hora pior para um tubarão enorme — coincidentemente (ou não?) o mesmo animal responsável por matar toda a equipe da oceanógrafa Sophia (Bérénice Bejo), incluindo seu marido — surgir no meio da capital francesa e começar a engolir os parisienses.

Esse ataque é dramatizado na ótima sequência de abertura do filme de Xavier Gens, onde fica claro que o tempero especial de Sob as Águas do Sena será a poluição das águas. É o lixo que enfurece os tubarões que Sophia e seu time estão pesquisando, e é o lixo que prejudica a visibilidade e movimentação do grupo, os transformando em alvos muito fáceis para Lilith, o apelido da predadora que eventualmente nada até o rio de Paris, onde há mais entulhos, inclusive bombas nunca detonadas da época da Segunda Guerra Mundial.

Daí você já imagina pra onde as coisas vão, e quando Sob as Águas do Sena finalmente começa a pintar as rondas do rio com o vermelho-sangue das vítimas de Lilith, Gens coloca em prática uma série de ideias divertidas e impreviíveis, seja no texto — com algumas reviravoltas evolucionárias hilárias de tão forçadas — e visualmente, em particular quando chega hora de matar personagens, ou de revelar a gravidade das consequências da poluição na migração dos tubarões.

A questão ecológica, porém, é onde Gens mais perde a mão. Antes de chegar no ato final sanguinário de Sob as Águas do Sena, o diretor leva muito a sério a temática ambiental. Não me entenda errado, a destruição do meio-ambiente é um problema seríssimo, mas é difícil ter paciência para os longos discursos de ativistas adolescentes sobre a necessidade de proteger Lilith, um tubarão cujo nome é uma referência ao próprio inferno. A ideia do lixo é trabalhada bem do ponto de vista visual com o universo submarino turvo do Sena se estendendo até as catacumbas, mas entre o flashback que abre o filme e a conclusão frenética, é preciso sustentar uma hora de um debate que o roteiro simplesmente não está equipado para conduzir.

Isso prejudica, e muito, o ritmo e a construção de energia do que, no papel, é puro trash (um adjetivo ainda mais adequado dado tema levantado por Gens). CGI irregular, atores sérios mal acreditando nas suas falas, mortes violentíssimas. Pausar tudo isso para falar de forma didática não funciona. Sob as Águas do Sena acaba dividido entre duas metades, tanto na abordagem quanto na progressão. Eventualmente, chega hora de girar a chave para matança, confusão e tudo do sharkploitation, e o ambientalismo vira, para o bem do filme, a textura com a qual Gens pinta os confrontos finais.

Estes são repletos de gratas surpresas quando se trata do desenrolar da ação, e se encerram com imagens tão absurda, hilária e bem-vinda que é difícil não sonhar com uma continuação que expande, e muito, a piscina onde Gens pode alimentar mais tubarões e, por que não, continuar a explorar a poluição de Paris.

Nota da Crítica
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Guilherme Jacobs
ONDE ASSISTIR

Sob as Águas do Sena

Drama
Mistério
Action & Adventure
1h 44min | 2024
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