
Star Wars: Histórias dos Jedi é mais um acerto de Dave Filoni - Crítica do Chippu
Com novas histórias de Conde Dookan e Ahsoka, série animada é mais um exemplo de como Dave Filoni conhece Star Wars

Crítica
Dave Filoni tem total liberdade. Principal responsável pela tríade de Clone Wars, Rebels e The Bad Batch, o homem por trás das séries animadas de Star Wars — sem falar em The Mandalorian e, em breve, Ahsoka— já explorou os mais distantes cantos da mitologia criada por George Lucas. Dos Clones a Mandalore, da Rebelião aos poderes mais misteriosos da Força, suas criações e o sucesso por elas alcançado reflete sua versatilidade e interesse nos diversos tipos de personagens na galáxia muito, muito distante. Agora, com a animação Histórias dos Jedi, Filoni recebeu carta branca. Quase uma antologia, ela deixa o roteirista brincar com qualquer brinquedo no baú da Lucasfilm. Suas primeiras escolhas? Conde Dookan e Ahsoka Tano.
Dividida em duas histórias de três episódios, Star Wars: Histórias dos Jedi contém pequenas tramas de 10 a 17 minutos passando por momentos previamente inéditos das vidas de seus protagonistas e oferece um arco simples para cada um. Nessa primeira leva de episódios, Filoni e sua equipe querem ter o melhor de dois mundos. Com Dookan, um vilão importante na trilogia Prequel mas, como um todo, pouco explorado antes de sua virada para o Lado Sombrio, eles criam uma trama que investiga as motivações de sua traição. Já Ahsoka, a filha favorita do roteirista, recebe um tratamento de fanservice, indo de seus primeiros meses de vida até o momento no qual decide voltar à luta depois da Ordem 66.
Dookan se torna um dos melhores personagens de Star Wars
A melhor das metades é a de Dookan. Seus três episódios o colocam lado a lado com três diferentes Jedi: Um jovem Qui-Gon na época de padawan (este depois volta brevemente como adulto, e com a voz de Liam Neeson, claro), Mace Windu logo antes de sua nomeação para o Conselho, e Yaddle (dublada por Bryce Dallas Howard). Ao lado destes companheiros, Dookan passa por uma jornada de desilusão. Indo até os mais pobres planetas da galáxia, ele testemunha em primeira mão a corrupção do Senado, os fracassos da República e, para piorar, a cegueira dos Jedi.
Com Qui-Gon como padawan, Dookan parte em busca de resgatar o filho de um senador apenas para descobrir que até o garoto condena as ações gananciosas do pai, e começa a perceber como fora dos seus corredores em Coruscant, nem os Jedi e nem a República são tão bem-vistos pelo público. Depois, investigando a morte de uma Mestre, ele e Windu se vêem no meio de uma teia de traições, e para concluir, Yaddle tenta evitar sua ida para o Lado Sombrio para servir a Palpatine (novamente dublado pelo sempre perfeito Ian McDiarmid) depois que Dookan descobre a morte de Qui-Gon, visto por ele como mais uma consequência do orgulho dos Jedi.
Impressiona o quanto Filoni e seus colaboradores, com destaque para a atuação equilibrada e calmamente triste de Corey Burton como Dookan, estão dispostos a condenar os Jedi. Suas críticas à Ordem e sua lealdade ao Senado só perdem em honestidade para as duras verdades expostas por Rian Johnson no Episódio VIII, e abraçam o protagonismo do futuro Lorde Sith para nos fazer entender essa perspectiva. Muitíssimo bem trabalhado na linguagem de animação cada vez melhor estabelecida lá trás em Clone Wars e finalizado pela voz marcante de Burton, Dookan não só se torna uma figura tridimensional durante seu arco, comunicando fortes emoções de decepção e melancolia enquanto decide deixar a Luz para trás, como nos convence da necessidade para mudanças na galáxia. Sua decisão é infeliz, claro. Ele vai ajudar a criar o Império. Mas suas razões? Praticamente inquestionáveis.
História de Ahsoka é a definição de algo feito para fãs
O arco de Ahsoka contém uma narrativa menos conectada, e se torna quase um greatest hits da personagem. É uma decisão compreensível. De Clone Wars até Livro de Boba Fett, Feloni teve centenas de minutos com a aprendiz de Anakin Skywalker, e diferente de Dookan, não precisamos conhecer mais sobre seus dilemas e pensamentos.
Por isso, Filoni aproveita a oportunidade de voltar à Ahsoka para passear por diferentes áreas de sua vida e pincelar algumas linhas. No primeiro episódio, vemos seu nascimento e primeira indicação de uma forte conexão com a Força, no segundo vamos para um treinamento junto com Anakin que se liga à sua última missão ao lado de Rex durante a Ordem 66, vista em Clone Wars, e para terminar observamos sua tristeza durante o funeral de Padmé e a subsequente decisão de voltar a combater o Lado Sombrio, culminando com uma luta contra um Inquisidor que reforça o quão poderosa Ahsoka realmente é.
É difícil dizer o quanto pessoas não tão familiares com Ahsoka vão curtir esses capítulos. Eles são mais simples, têm menos cenas, e seus principais feitos estão ligados às ações da personagem nas animações. Não adianta só conhecê-la em live-action. Mas se há uma série na qual isso não é um grande problema, é esta. Histórias dos Jedi é um playground com liberdade criativa, e se metade da primeira temporada pode se aventurar num antagonista pouco trabalhado, a outra parte fica mais livre para entregar algo mais na linha do fanservice, mantendo ainda um padrão importante de qualidade e clareza narrativa. Sem falar na volta de Ashley Eckestein como Ahsoka.
Queremos mais Star Wars: Histórias dos Jedi
Histórias dos Jedi não é o mesmo tesouro de criatividade, especialmente visual, visto em Star Wars Visions, mas assim como a série de anime, oferece liberdade para mentes criativas brincarem dentro dessa rica história e colocar o holofote em personagens dignos do mesmo. Como o título deixa claro, seu interesse é mais voltado para os Jedi. Com sorte, isso será bem explorado por Filoni e companhia no futuro não só para nos entregar mais aventuras dos nossos heróis favoritos como Ahsoka, mas também para explorar nomes mais complexos como Dookan. O céu é o limite.

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